Cinestória | Capítulo 1 | Picareta, gênio, milionário e pop star


[dropcap]H[/dropcap]á quem diga por ai que o cinema é a única das artes que tem data na certidão de nascimento. Mas também há quem afirme que ao invés de um, o cinema tem vários aniversários. Pior ainda, só não tem tantos aniversários quanto tem pais. Uma grande bagunça que, no final das contas, resultou num único “tal de cinema”. Mas ainda assim uma grande bagunça.

E nesse momento você já deve ter levantando a mão falando “irmãos Lumiere, professor!”, assim como aquele hipster do fundo da sala deixou um sorriso no canto da boca enquanto pensava “foi o Edison, seu poser!”. E sim, todo mundo está certo… mas também todo mundo está errado. Então vamos tentar colocar o mínimo de ordem nisso tudo.

O primeiro nome da “certidão” é mesmo o de Thomas Alva Edison, inventor americano que, entre a lâmpada incandescente e o fonógrafo, também contratou uma equipe de engenheiros e advogados que recriavam uma série de invenções de outras pessoas e patenteavam tudo em seu nome. E ainda que seja inconcebível colocar sua genialidade em prova, também é impossível achar que ele era um anjo.

Mas é bom lembrar que se em 24 de agosto de 1891 Edison patenteou algo que parecia ser o “elo não tão perdido” entre a fotografia e o cinema, é bom colocar ai nesse balaio dois nomes que quase ninguém cita enquanto preferem ficar nessa dicotomia entre Estados Unidos e França: William Kennedy Laurie Dickson e Louis Le Prince.

O segundo foi quem pela primeira vez na história conseguiu “capturar” imagens em movimento usando apenas uma lente. Le Prince fez isso em Leeds, cidade do interior da Inglaterra. O “filme” mais parecia mesmo um monte de fotos em movimento, algo bem rústico e com as transições quebradas, mas ainda assim, aquele homem andando pelo jardim por alguns segundos em 1888, pode ser considerado os primeiros passos do cinema.

Enquanto isso, do outro lado do Oceano Atlântico, as más línguas dizem que após uma viagem à Europa, Edison “voltou” com uma “incrível ideia” de uma câmera que “capturava” imagens em movimento usando apenas uma lente e depois as exibia. Mas Edison, diferente do que todos pensam, não era um cara que ia para sua garagem e se sujava de graxa, quem fazia isso era sua equipe, e o cara responsável por colocar em prática essa sua “nova invenção” era William Kennedy Laurie Dickson.

Foi ele quem tornou realidade esse projetor que resultou no Kinetografo e no Kinetoscope. Um capturava a imagem, o outro era uma espécie de caixa onde o filme (em celuloide) era rodado e o espectador (assim, no singular mesmo) poderia ver aquela “mágica” acontecendo. Ainda que não estivéssemos falando de cinema e sim de uma janelinha, a ideia já estava ali.

Edison mostrou o primeiro protótipo desse aparato em 1891 na Feira da “Federation of Women´s Clubs”. Em 1893, no dia nove de maio, já devidamente patenteado, mostrou sua “caixa” (no pejorativo mesmo, já que isenção não é uma opção do autor) no “Brooklyn Institute of Arts and Science”. Parte picareta, parte gênio, parte estrela pop, Edison ali, naquele momento, cumpria o que dizia desde o momento que voltou da Europa com “sua” ideia: “Faria para os olhos o que o fonógrafo fazia para os ouvidos” (sim a frase é do Edison, isso a gente não pode tirar!).

Kinetoscope

“Mas onde estava Louis Le Prince nesse momento?” você pode estar se perguntando. E “se ferrando” e “ninguém sabe”, seriam as duas respostas mais acertadas. Primeiro Le Prince descobriu que Edison “inventou” sua câmera nos Estados Unidos, o que o fez partir em uma luta para provar que a ideia era dele. O segundo passo seria pegar um navio e ir para a ainda não “Terra do Tio Sam”, tentar acabar com essa confusão.

E a última vez que se ficou sabendo da existência terrena de Louis Le Prince foi em 16 de setembro de 1890, quando entrou em um trem que ia de Dijon para Paris e simplesmente sumiu. Há quem diga que ele conseguiu realizar o suicídio perfeito, sem deixar pistas, mas também há quem coloque Edison no meio dessa trama. As teorias de conspiração ainda “afirmam” que ele pode ter fingido um sumiço, já que encarava sérios problemas de grana, assim como tem gente que fala que seu filho o teria matado. Infelizmente na época não se falava em ETs, então ninguém nunca pensou nessa possibilidade.

Louis Le Prince

Le Prince levou a pior, sumiu falido. Edison levou a melhor, fez o mundo ignorar a existência do francês e de William Kennedy Laurie Dickson, enquanto até hoje engana os americanos que acreditam que ele inventou o cinema (assim como acham que os irmãos Green “voaram”). Mas não se enganem, o grande pai do cinema é Léon Bouly (para desespero do hipster no fundo da sala que achava que sabia de tudo e tinha gritado “Irmãos Lumiere!”).

Mas não se preocupem, nos próximos capítulos Edison ainda estará aprontando das suas, mas também você conhecerá esse tal de Bouly e os Irmãos Lumiere. Até lá!


Confira:
Capítulo 2 | BOULY E IRMÃOS LUMIERE


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