Cinefilia Crônica | Fernanda e/ou Meryl


Gosto da Gwineth Paltrow, mas evito ver filmes com ela no elenco. Nesses dias de quarentena, achei um título que figurava na minha lista de pendências. Comecei a assistir sem saber que a moça com nome difícil apareceria para azedar meu humor.

Gosto mesmo dela. Mas nunca superei o Oscar de 1999. Gwineth (é muito difícil colocar a língua entre os dentes nos “TH” dessa língua de bárbaros) teria a vida inteira para ganhar uma estatueta. Menos em 1999. Todo mundo sabe que era a vez de Fernanda Montenegro por Central do Brasil.

Longe de qualquer ufanismo patriota à la Galvão Bueno. Fernandona merecia mesmo. Aliás, merece um prêmio para cada aparição em filme, série, novela e comercial de margarina, se já tiver feito algum. No recente A vida invisível, aparece só nos últimos 20, 30 minutos. Mas cada gesto, olhar. “Caracoles” (já que o palavrão foi censurado pelo editor)! Dá vontade de chorar, como é comum em suas atuações.

Ela é capaz de me fazer assistir qualquer produção audiovisual. Se Fernanda Montenegro está ali, é claro que vou ver. Ricaça, carrasca, dona de casa, mãezona, prostituta, cigana, miserável. Impossível não sair convencido e comovido na entrega em cada uma dessas e de outras personagens.

Outro dia, me perguntaram: Fernanda Montenegro ou Meryl Streep? Assim, cruel, na lata. Demorei a responder. Certamente, minhas preferidas. Uma escolha de Sofia, com o perdão do trocadilho. Meryl tem esse poder de atuação surreal também dado a Fernanda e a raros seres humanos. Já assisti àquele musical fraquinho só para vê-la cantando músicas do Abba. Não duvido que depois das filmagens ela tenha ido a um ortopedista especializado em moléstias da coluna, já que carregou o filme nas costas.

Chefe carrasca, mãe cruel, freira enjoada. Meryl também me convenceu em todas aparições. Essas duas entidades nasceram uma longe da outra, quem sabe, para que cada país não gastasse a capacidade máxima de talento a que tem direito.

No meu mundo ideal, há uma lei proibindo que pessoas como Fernanda Montenegro e Meryl Streep sofrem de qualquer mal. Não ficam doentes, não morrem. Obviamente, não acredito que isso um dia aconteça. Entidades como elas são eternas em qualquer crença.

Respondendo à pergunta, disse que preferia Fernanda. Repito: longe de qualquer ufanismo patriota à la Galvão Bueno. Mas tinha que escolher uma, escolhi. E falei mais uma vez da injustiça do Oscar-1999, como quem relembra aquele dia, décadas atrás, em que o time foi roubado na final que os mais jovens só assistiram por Youtube.

Na mesma conversa, o assunto mudou para religião. Me perguntaram se acredito em milagres, e eu: claro, há fenômenos que a natureza e as leis da Física não explicam, nunca ouviram falar em Fernanda Montenegro e Meryl Streep?

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