Slender Man: Pesadelo Sem Rosto

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto | Um desperdício de uma lenda


[dropcap]O[/dropcap] personagem-título de Slender Man: Pesadelo Sem Rosto nasceu na internet em 2009 e, logo, “aparições” da criatura alta, pálida e, bem, sem rosto começaram a ser reportadas. Ele persegue, traumatiza e, em alguns casos, sequestra crianças e jovens. A história alcançou tal proporção que, em 2012, duas garotas em Wisconsin esfaquearam uma colega de classe, justificando a tentativa de assassinato com o fato de que elas queriam aproximar-se do Slender Man. Entretanto, nada da natureza insidiosa e contagiosa do mito encontra-se neste fraquíssimo longa-metragem sobre a lenda urbana.

Certa noite, as amigas Hallie (Julia Goldani Telles), Wren (Joey King), Chloe (Jaz Sinclair) e Katie (Annalise Basso) descobrem que alguns garotos da escola estão prestes a tentar invocar o Slender Man, personagem sobre o qual leram na internet. Determinadas a sair na frente deles, as garotas procuram informações sobre a lenda e assistem a um vídeo que promete atrair a criatura para quem o assiste — vídeo esse que adoraria chegar perto da fita de O Chamado, mas que sequer consegue causar alguns arrepios.

Nos próximos dias, as jovens têm um ou outro pesadelo, mas, quando Katie desaparece durante uma excursão da escola, as coisas começam a ficar cada vez mais assustadoras. Para elas… para os espectadores, não sobra nem um único susto eficiente.

Qualquer aparição ou manifestação do Slender Man aparece apenas quando um pessoa que já viu mais de um filme de terror na vida sabe que ele vai surgir em cena. O que sobra, então, são diversos momentos em que alguma coisa deveria acontecer, mas não acontece — e isso sequer causa tensão graças à quebra de expectativa, já que é um claro resultado do fato de que o roteirista David Birke e o diretor Sylvain White não sabem o que fazer com o filme.

As quatro amigas, por exemplo, exibem personalidades praticamente idênticas; de início, Katie é a única que ganha resquícios de autenticidade, mas as frases que tentam estabelecê-la como sendo uma garota sombria são extremamente forçados e, além disso, a característica logo é abandonada sem ter qualquer impacto na trama. Diante de personagens tão rasas, o grupo de jovens atrizes mal têm o que fazer; apenas Joey King (que os fãs do gênero vão reconhecer de Invocação do Mal e mais recentemente de A Barraca do Beijo) tem algumas cenas mais desafiadoras conforme sua personagem mergulha nas pesquisas sobre o Slender Man.

O longa também é prejudicado pela fotografia de Luca Del Puppo, que investe em uma escuridão quase homogênea para praticamente todas as cenas, fazendo com que qualquer possível nuance da direção seja apagada. Com isso, momentos que efetivamente se beneficiariam das sombras e da falta de luz — como a sequência na biblioteca e as cenas na floresta — acabam não destacando-se tanto quanto necessário. Enquanto isso, se o Slender Man em si tem um visual apropriadamente bizarro, outros rostos distorcidos surgem apenas… hilários, e não assustadores.

Mas o pior problema de Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é o quanto White e Birke desperdiçam a própria premissa do personagem. Para começar, hoje, histórias que viralizam na internet já não têm mais o mesmo impacto do que na época em que o personagem foi criado. Pior ainda é o fato de que é apenas na última cena do longa que uma personagem, em uma narração em off, comenta sobre como a lenda é contagiosa e como o Slender Man espalha-se porque alguém lê sobre ele e conta para outra pessoa, que mostra o vídeo para outra, que acessa o site ao lado de outra e assim por diante. O impacto psicológico que na vida real levou duas garotas a quase assassinarem uma colega, aqui, é nulo.

Assim, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é uma produção sem atrativos e que não serve nem para matar a curiosidade que alguém possa ter pelo personagem. Seja para atrair os “fãs” da criatura ou para apresentá-la ao grande público. Um exemplar medíocre do gênero  que falha em todos os sentidos.


“Slender Man” (EUA, 2018), escrito por David Birke a partir do personagem criado por Victor Surge, dirigido por Sylvain White, com Julia Goldani Telles, Joey King, Jaz Sinclair, Annalise Basso, Taylor Richardson, Alex Fitzalan, Jessica Blank, Michael Reilly Burke, Kevin Chapman e Javier Botet.


Trailer – Slender Men: Pesadelo Sem Rosto

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