Relatos Selvagens Crítica

Relatos Selvagens

Existem várias formas de provocar o riso, desde as mais inocentes como uma torta na cara, até as mais refinadas gags do Monty Python, no meio disso tudo existe o humor negro. Não politicamenteRelatos Selvagens Poster incorreto nem escrachado, negro mesmo, que aposta em algo tremendamente violento, sangrento e desastroso para que o espectador caia na risada. O argentino Relatos Selvagens é sobre isso, doa a quem doer.

E nesse caso, muita dor para seus personagens, já que a aposta do diretor e roteirista Damian Szifron é elevar essa afirmação à alturas pouco imaginadas por qualquer um que entrar no cinema. Uma análise fria colocaria todos no escuro, em suas poltronas, em um lugar monstruoso rindo de desastres aéreos, comidas envenenadas e grávidas atropeladas. E não se preocupe, você vai rir disso sim.

Mas além da tragédia e do humor negro, o que realmente liga as seis histórias de Relatos Selvagens é a vingança. Seja vinda do passado e “batendo à sua porta” em um noite chuvosa ou numa briga de trânsito, o filme passa entre essas pequenas histórias de modo ágil, sutil e fino. Seis lados de uma mesma moeda, que sempre acabam selvagens, violentos e, na maioria das vezes, inesperados.

Talvez então seja isso que mais apaixone em Relatos Selvagens, essa leveza diante da surpresa violenta. Do atropelamento que se transforma em uma negociação descabida por algumas centenas de milhares de dólares, ou diante da quantidade de decisões erradas que colocam em rota de colisão dois motoristas em uma estrada abandonada.

E ainda que tenha a coragem de encarar alguns assunto mais pesados (como o do atropelamento do parágrafo anterior) o filme de Szifron tem a inteligência de abrir com uma engenhosa e impagável vingança dentro (e fora) de um avião e fechar com a certeza de ter em mãos um dos casamentos mais desastrosos da história do cinema. Mas ainda assim, terminar com um toque de esperança, de que além de qualquer vingança ainda pode haver amor. Já na primeira história não, o resultado são apenas escombros.

Relatos Selvagens Filme

Entretanto, todas essas histórias tem ainda em comum a sucessão de pequenos acontecimentos ou uma cadeia de conexões que beira o exagerado, de modo tênue e nunca caindo no comum, mas sempre com aquela impressão de que aquilo é cômico apenas diante da alta improbabilidade. Um emaranhado preciso, por exemplo, que é o principal astro (ao lado do protagonista) do segmente onde Ricardo Darín vê sua vida ser implodida diante de uma vaga proibida de estacionar, mas muito mal pintada.

Distante de qualquer lição de moral, pré-conceito ou julgamento, Relatos Selvagens conta uma história por vez, sabendo perfeitamente o que cada uma delas necessita para acabar. Então, enquanto para uns a vingança funciona, para outros ela dá incrivelmente errada, suja, estabanada e apertada. Principalmente, pois o filme está preocupado com um conceito, e não com a quantidade de imundice que aquilo possa vir a provocar.

E essa busca por refletir um conceito (que acaba se assemelhando muito com a do chinês Um Toque de Pecado… só que muito mais engraçada do lado argentino, com sua vingança) é que faz de Relatos Selvagens tão impressionante, tanto tecnica, quanto narrativamente. Uma experiência imperdível que só o cinema pode nos dar, já que onde mais alguém derrubaria um avião sobre dois velhinhos só para tentar arrancar seu riso?


“Relatos Salvajes” (Arg, 2014), escrito e dirigido por Damián Szifrón, com Rita Cortese, Ricardo Darín, Nancy Dupláa, Dario Grandinetti, Oscar Martinez, Osmar Núñez, Maria Onetto, Erica Rivas, Diego Gentile, Maria Marull, Leonardo Sbaraglia Julieta Zylberberg


Trailer de Relatos Selvagens

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