Malasartes

Malasartes e o Duelo com a Morte | Personagem folclórico ganha as telas com sua picardia


Ainda que seja um alívio ver uma comédia nacional chegar aos cinemas sem ter a assinatura da Globo ou o Leandro Hassum… pera aí, ele está lá, assim como todo elenco você pode encontrar na grade da TV do Roberto Marinho, mas nada disso atrapalha Malasartes e o Duelo com a Morte.

O que atrapalha ele é mais um monte de outras decisões pouco inspiradas e um roteiro fraquinho escrito por Paulo Morelli (que também dirige), o que, por sua vez, não deve atravancar a vida de Malastartes, que mesmo sem isso, ¿vai muito bem, obrigado¿.

O filme traz de volta ao cinema um personagem do folclore nacional que já tinha sido vivido por Mazzaropi em As Aventuras de Pedro Malasartes. Vivendo entre pequenos golpes e trambiques, o personagem é um antepassado do Chicó de Auto da Compadecida. E as semelhanças não ficam por ai, já que Malasartes também precisa enfrentar o ¿outro lado¿ para sobreviver no caipiríssimo interior de Minas Gerais (ou algum lugar semelhante).

Entre um golpe aqui e outro ali, Malasartes (Jesuíta Barbosa) precisa fugir da fúria do irmão de sua amada, Áurea (Isis Valverde), o brutamontes, Próspero (Milhem Cortaz). Mas o destino de Malasartes está na verdade sendo discutido em um lugar bem distante dali, onde a Morte (Júlio Andrade), decide se aposentar e, para isso, tenta entregar seu ¿cargo¿ para o mais ¿esperto dos homens¿.

O que vem depois disso é uma corrida onde o esperto e velhaco Malasartes faz disso uma oportunidade para ganhar algum dinheiro enquanto se mete em mais enrascadas, já que aos poucos vai enfurecendo todos ao seu redor, sem contar ainda uma das Parcas (ou Moiras), vivida por Vera Holtz, que perdeu o emprego para o ceifador e ainda o assistente da própria Morte (Leandro Hassum), que acha que será substituído por Malasartes.

E toda essa bagunça é muito mais interessante e engraçada na teoria do que na prática, já que, tirando alguns bons momentos com Hassum (ele ainda estava gordo, consequentemente engraçado) e um cataléptico e “sem destino” Zé Candinho Voltaire (Augusto Madeira, e aqui uma dica, seu nome ser o mesmo do filósofo francês não é de graça e vale um aprofundamento, já que o filme não faz), o resto do filme é raso e sem graça. É lógico que a simpatia da situação, dos personagens e o jeitão de ¿causo¿ fazem valer o filme, mas o riso praticamente não chega.

Malasartes e o Duelo com a Morte Filme

Talvez pela história se sentir pouco a vontade com um punhado de situações óbvias, ou até mesmo por ter receio de infantilizar toda trama, Malasartes perde a oportunidade de ser uma diversão para todas idades (como o Auto da Compadecida foi). Mas o que importa é que quando se deixa levar pela comédia simples e visual, acerta em cheio.

De qualquer jeito, Malasartes ainda assim tem algumas boas armas para se lutar. E principalmente do ¿lado de lá¿. Cheio de efeitos especiais acima da média e uma direção de arte que capricha na ¿terra da Morte¿, o resultado é de encher os olhos, ainda mais com a presença marcante de Júlia Andrade, no papel da dita cuja. Tanto sua composição visual, quanto corporal acabam sendo o melhor do filme, e principalmente pelo diretor Paulo Morelli, perceber isso e não deixar que nada disso seja cortado por composições menos inspiradas. As Parcas seguem o mesmo rumo e demonstram que ¿desse lado¿ do filme, tudo parece ir bem melhor do que do lado de cá.

No mundo real o visual não empolga, as composições não valorizam nada, até porque os cenários parecem pouco inspirados e comuns, só servindo para rodear sem muita beleza ou interesse um certo humor de costume e sertanejo.

Sotaque, xingamentos que você nunca ouviu falar, um andar caricato aqui, um olhar exagerado ali, tudo tentando arrancar o riso quase acidental, meio sem querer e que na verdade é apenas o resultado de um exagero regional que poderia muito bem embrulhar o resto da comédia, mas aqui só se arrasta pelo meios de lugar nenhum.

Mas também serve para criar essa personalidade de um filme que só poderia acontecer no Brasil, com um jeitão de farsa sertaneja e uma identidade marcante. E mesmo se tudo isso te incomodar, no final das contas o que vale é acompanhar Malasartes dando um nó na morte, no destino e até no espectador, que deve sair do cinema bem satisfeito.


“Malasartes e o Duelo com a Morte” (Bra, 2017), escrito e dirigido por Paulo Morelli, com Jesuita Barbosa, Isis Valverde, Milhem Cortaz, Leandro Hassum, Vera Holtz, Júlio Andrade e Augusto Madeira.


Trailer – Malasartes e o Duelo com a Morte

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