Dominação Filme

Dominação | Podia ser uma novidade no gênero, mas é só mais um equívoco


O que Dominação quer passar ao espectador? De sustos eficientes, o filme é nulo; enquanto discussão sobre religião e a Igreja Católica, funciona apenas de início. Os personagens são caricaturas, e as regras do universo do filme, mal explicadas. O que sobra? Uma bobagem que se arrasta ao longo de intermináveis 90 minutos até um final abrupto.

O Dr. Seth Ember (Aaron Eckhart) pratica um modo peculiar de exorcismo: ele consegue entrar dentro da mente de pessoas possuídas e, a partir de lá, demolir a ilusão em que o demônio prende a vítima e, dessa maneira, expulsar o invasor. Afinal, possessões vão muito além do domínio da Igreja Católica e, portanto, não devem ser combatidas apenas pela instituição. Entretanto, quando a Igreja se depara com um caso particularmente complicado em que o possuído é um garoto de 9 anos, Ember aceita ajudá-los, pois esta pode ser sua última chance de derrotar o demônio que matou sua esposa e filho no acidente de carro que o deixou paraplégico.

O método de Ember e suas reservas em relação à Igreja são sementes promissoras do que poderia ser uma história original sobre exorcismo. Mas o diretor Brad Payton e o roteirista Ronnie Christensen não demonstram interesse algum em desenvolver o argumento de Dominação e, assim, resta-nos acompanhar sessões repetitivas de invasão à mente e “sustos” que jamais funcionam.

Afinal, um dos maiores problemas do terror é a absoluta falta de imaginação de Payton para conceber a mente possuída das vítimas. Ok, a intenção dos demônios é prender os possuídos em uma ilusão que pareça real e, portanto, faz sentido que estas sejam versões idealizadas de situações cotidianas/possíveis. Entretanto, quando Ember alcança a mente alheia, as rupturas começam a surgir e o próprio demônio invasor aparece em cena, mas tudo aquilo poderia estar acontecendo no mundo real, pois segue suas mesmas regras. A única exceção é o recurso tramado por Ember para escapar do poder do demônio, que torna-se repetitivo logo após sua primeira ocorrência.

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Além disso, o roteiro de Christensen depende excessivamente de diálogos expositivos, fazendo com que as regras e limitações do trabalho de Ember sejam entregues de maneira artificial. O senso de humor também apresenta-se através de uma série de erros, com piadas que quase transformam o longa em paródia. Mas mais problemático é o fato de informações importantes serem relevadas apenas no terceiro ato, mudando o jogo de forma atrapalhada e inorgânica. A direção bagunçada de Payton nada ajuda nesse sentido, enquanto o design de produção e a trilha sonora não sabem exatamente qual tom estão tentando dar ao filme.

A caracterização dos personagens, naturalmente, sofre bastante com todos esses problemas. Aaron Eckhart tenta, mas Ember chega perigosamente perto de tornar-se uma caricatura ¿ ao menos, é interessante notar como ele apresenta-se diferente na mente das vítimas, com sua aparência pré-acidente e mais seguro de si. Seus colegas de elenco, por outro lado, se saem ainda pior: Oliver (Keir O’Donnell) e Riley (Emily Jackson), os assistentes do exorcista, recebem do departamento de figurino e maquiagem um estilo roqueiro de botequim para comprovar o quanto Ember trabalha “fora dos padrões”, enquanto Carice van Houten (como Lidsey, a mãe do garoto possuído) e Catalina Sandino Moreno (Camilla, uma agente da Igreja) não tem absolutamente nada para fazer. Fechando o elenco principal, Matt Nable vive Dan, o abusivo pai do garoto, que aparece e some da narrativa apenas para acelerar seu ritmo. Aliás, por algum motivo, Lindsey mantém uma simpática foto de família que traz ela ao lado do filho e do ex-marido, mesmo com uma ordem de afastamento contra Dan após ele ter batido no filho.

Quando começamos a achar que, depois de toda a enrolação, Dominação finalmente parece estar chegando a algum lugar, a tela escurece e os créditos finais sobem. Sem ritmo ou estruturação alguma, o terror sofre de uma profunda falta de imaginação, que faz com que todos os seus elementos sejam tratados da forma mais rasa e bagunçada possível.


“Incarnate” (EUA, 2016), escrito por Ronnie Christensen, dirigido por Brad Peyton, com Aaron Eckhart, Carice Van Houten, Catalina Sandino Moreno, David Mazouz e Keir O´Donnel


Trailer – Dominação

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