Crítica do filme Cidades de Papel

Cidades de Papel

Para os apaixonados pelo cinema adolescente que se sentem órfãos desde a década de 80, quando os filmes de John Hughes faziam sucesso ao retratar uma adolescência muito próxima da real, filmes como Cidades de papel podem acalentar um pouco o coração. Depois da enxurrada de romances que abstraem completamente as ocorrências da vida real (olá, Nicholas Sparks!), a adaptação do livro homônimo de John Green (mesmo escritor do sucesso adolescente A Culpa é das Estrelas), apesar de trabalhar bastante com ilusões, mantém o chão suficientemente perto, desde a construção dos personagens até o desenrolar da trama.

Cidades de Papel é um filme “coming of age” que lida com as ilusões que criamos sobre as pessoas. A história é sobre Quentin (Nat Wolff), ou Q, um adolescente prestes a se formar no ensino médio que já tem sua vida praticamente planejada, e Margo (Cara Delevingne), a vizinha da frente de Q, por quem ele sempre teve uma paixonite. Apesar de serem vizinhos e terem crescido juntos, o espírito aventureiro de Margo acabou se afastando do cauteloso Q. Enquanto a vida de Margo virou uma série de aventuras e ela se tornou a garota mais popular da escola, Q se manteve longe de qualquer coisa que pudesse ameaçar comprometer seu plano de vida, mas continuou sonhando com Margo.

Uma noite, Margo aparece na janela de Q – como costumava fazer quando criança – e o convida para uma aventura. Após uma noite de aventuras – em que ele ajudar Margo a se vingar de amigos traidores -, Q pensa que talvez seu sonho de ficar com Margo vire realidade. Porém, no outro dia, a menina some. O mistério vira o assunto da escola e Q não consegue parar de pensar sobre sua última noite com Margo, até que pistas do paradeiro dela começam a aparecer, e Q, junto aos amigos Radar (Justice Smith), Ben (Austin Abrams), à namorada de Radar, Angela (Jaz Sinclair), e à melhor amiga de Margo, Lacey (Halston Sage), parte numa jornada para achar a menina.

Cidades de Papel Crítica

Cidades de Papel traz personagens interessantes e bem contruídos, que fogem dos estereótipos de high school normalmente apresentados nos filmes. Q é um nerd, mas não no sentido caricaturado do conceito, assim como seus dois melhores amigos, Ben e Radar seguem a mesma linha. Margo é retratada como uma lenda na escola, uma aventureira, que não segue regras e não se importa com consequências, porém essa imagem se revela diferente da Margo real conforme o filme passa. Angela e Lacey aparece pouco e não desenvolvem uma história muito interessante: servem apenas de interesses amorosos para os meninos do filme – e isso incomoda um pouco.

Há, porém, muitos trunfos em Cidades de Papel. O roteiro é bem desenvolvido, os diálogos parecem fluidos e há ótimas referências para as gerações nascidas nos anos 1990. O filme equilibra bem drama e comédia: faz rir nos momentos em que pretende ser engraçado e faz pensar quando se tenciona reflexivo. A história se desenvolve bem, sem momentos maçantes, e o final traz uma agradável surpresa aos acostumados ao mel de Nicholas Sparks, quando não rende ao clichê romântico.

Já no campo das atuações, Nat Wolff faz um ótimo Q, e consegue navegar nas diferentes facetas de seu personagem, gerando uma sensação geral de empatia mesmo interpretando um mocinho longe da perfeição. A transição do amor à obsessão de Q por Margo é feita por Wolff de maneira suave – são pinceladas no sentimento que, com a viagem, vão se tornando mais e mais fortes. Cara Delevingne tem pouco tempo em tela, mas sua Margo tem a força necessária para se fazer lembrar durante toda a narrativa – e não só porque se fala nela o tempo todo.

Uma das maiores qualidades de Cidades de Papel, porém, é a sinceridade. Num universo de filmes adaptados de livros de sucesso, essa produção se destaca por não ser apenas mais um caça-níquel. É revitalizante sair do romance água com açúcar e começar a, novamente, ver filmes adolescentes que façam sentido no mundo real. Cidades de papel tem tudo para ser o novo filme adolescente de qualidade do ano. E parece que o legado de John Hughes sobrevive, apesar de tudo.


“Paper Towns” (EUA, 2015), escrito por Scott Neustander e Michael H. Weber, dirigido por Jake Schreier, com Cara Delevigne, Nat Wolff, Halston Sage, Cara Buono, Caitlin Carver, Austin Abrams e Justice Smith.


Trailer do filme Cidades de Papel

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