Zama Filme

Zama | Lento, ainda que tenha lá algumas ideias interessantes


Em algum momento na metade de Zama, da diretora argentina Lucrecia Martel, o protagonista se muda para um casebre pior de onde estava e começa a ser rodeado de mulheres que não existem. Esse poderia ser o clímax de um desejo reprimido que foi aumentando na mesma medida que suas frustrações, perdido em uma terra de ninguém. No entanto, como o filme nunca muda de tom, ainda estamos no mesmo estado de quando o filme começou. Exceto o sentimento de tempo perdido e um sono épico.

O protagonista é Don Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho), um oficial menor da colônia espanhola em continente sul-americano. Assim como o romance existencial de Antonio Di Benedetto, onde apesar de coisas acontecerem nada realmente sai do lugar, a diretora/roteirista Lucrecia Martel executa o mesmo processo usando a linguagem cinematográfica, o que se revela um tremendo porre artístico.

Zama está o tempo todo delirando; ele ouve de alguém a história de um peixe que nasce e luta para se manter na água, que o tenta expulsar todo tempo. O peixe vive sempre à margem do rio. Assim como Zama, que começa o filme às margens de um rio, observando nativos. No final ele se encontra no rio, mas não da mesma forma. Ainda assim, e sabendo que haverão transformações irreversíveis para ele, permanece o sentimento de que nada mudou.

O bandido mais procurado e mais injustiçado neste mundo é Vicuña Porto (Matheus Nachtergaele), que é um daqueles criminosos brasileiros que povoaram a pior nação da América do Sul: a que fala português. Disfarçado entre os colonos, já passou-se muito tempo desde que ele virou uma lenda viva, o que quer dizer que praticamente todos os eventos negativos do vilarejo e ao seu redor a ele é atribuído. Ele virou o bode expiatório que a História hei de imortalizar.

Essa é uma produção argentina/brasileira, mas mais argentina que brasileira. É um filme de baixo orçamento e com aqueles roteiros intraduzíveis. Ele não quer dizer (quase) nada; apenas acompanhar a vida de Zama, um corregedor às margens da Coroa Espanhola e que nunca chegará perto do centro.

Zama Crítica

Aquele vilarejo onde vivem é o purgatório, o limbo ou algo que o valha (interpretação minha). O corregedor nunca troca de roupa, que é vermelha e que referencia o seu final. Ele está vendo pessoas que não existem e as que existem não lhe dão atenção ao seus choramingos egoístas. Ele quer voltar para a esposa e os filhos, mas o governador está mais interessado em um relatório de um livro sendo escrito sem o aval do governo.

Ao ar livre nunca vemos a luz do Sol e dentro das casas não vemos mais miséria só por causa da escuridão. As pessoas nesse filme são completamente alheias à realidade. Um homem careca faz sexo com uma das belas filhas de um dos moradores, que se preocupa que seja mais uma vez, claro, obra de Vicuña Porto. Quando descobrem que o corregedor esteve lá, logo surge mais um causo: Zama matou Vicuña.

Pensando agora em épicos, os livros de História perdem um pouco do brilho através das lentes de Lucrecia Martel, que esfrega em nossa cara como a realidade pode ser registrada baseada em boatos de pessoas que não estão interessadas na verdade. Embora isso não esteja relacionado com a história de Zama (que é fictício), imagine o quanto não foi inventado de todos os personagens que um dia a história escrita imortalizou.

A primeira metade de Zama é tão arrastada que seu terceiro ato parece um filme de ação. Há algumas cenas com índios que se pintam de vermelho terra e que é são o ponto da produção. Há uma certa mensagem aí sobre a chegada do europeu de fato sobre a terra que conquistou. Ficam todos vermelhos. Mas como nos mostra a diretora, a vida real é bem mais complexa que isso.

Todas músicas são interpretadas pelos Índios Tabajara. Isso seria uma bela piada brasileira, habituados que nós estamos ao humorista Casseta & Planeta; mas parece que é real, mesmo, então… interessante.


“Zama” (Arg, 2017), escrito por Antonio Di Benedetto, Lucrecia Martel, dirigido por Lucrecia Martel, com Daniel Giménez Cacho, Lola Dueñas, Matheus Nachtergaele.


Trailer – Zama

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