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Vírus | Infelizmente vai passar despercebido

Em Outubro do ano passado, em sua coluna para a revista Entertaiment Weekly, o escritor Stephen King falava de um pequeno filme, Carriers, que passara quase despercebido pelos cinemas dos Estados Unidos, mas que merecia uma certa atenção. Cinco meses depois, aqui com nome de Vírus, ele continua pequeno, pouco falado e com a certeza de passar igualmente despercebido pelos cinemas do Brasil, o que é uma completa pena, já que fará muita gente perder um dos terrores mais interessantes que, provavelmente, os cinemas verão esse ano.

Nele, dois irmãos e suas namoradas (ainda que o roteiro não tente nem criar uma tensão sexual entre dois deles) rumam na direção de uma praia onde passaram sua infância, passando por um mundo devastado por um vírus mortal que parece ter dizimado toda população. Na verdade, um quase road-movie pós apocalíptico, embora extremamente contemporâneo e próximo. E só isso já cria o nó na garganta suficiente para te carregar pelo resto do filme.

Te faz andar por aquele deserto vazio e deixado para trás, junto com o quarteto de personagens, principalmente por não tentar te enganar, não te deixando perder aquelas amarras do real. Um filme que teria todas ferramentas para sucumbir a um terror comum cheio de infectados zumbis, mas prefere escolher um inimigo invisível, inevitável e sem compaixão por nada. Tão pouco cai no lugar comum do ser humano como seu maior inimigo e vai de encontro a pessoas comuns, com suas virtudes e defeitos em uma situação desesperadora apenas contando com seu senso de sobrevivência para dar o próximo passo.

Uma trama que, graças tanto ao roteiro quanto a direção da dupla de espanhóis Alex e David Pastor, fica entre o suspense e o terror de um jeito preciso e eficiente, sem forçar uma ou outra situação para se encaixar em algum dos gêneros, buscando uma naturalidade, visual e narrativa, extremamente agradável e pouco vista no cinema atual. Como se tivessem a sensibilidade de deixar sua história fluir do jeito que ela parece pedir, por mais que em alguns momentos, analisado friamente, fique fácil se irritar com uma ou outra coincidência que o roteiro se permite para fazê-lo se movimentar pela trama, mas tudo com uma naturalidade sensível que nem se faz perceber.

Ainda que pareça demorar um pouco demais para criar um problema maior, a dupla de diretores não parece preocupada em forçar nada, como se tivesse o único intuito de carregar seus personagens de uma a outra situação, cada vez deixando-os com menos controle sobre o mundo a sua volta.

Vírus não se deixa levar por um terror fácil de ser seguido, e muito menos por um suspense melodramático cheio de mortes, escolhendo por encará-las como verdadeiros sacrifícios dolorosos, mesmo que inevitáveis. Uma ótima produção que ainda conta com atuações precisas e sinceras, além de uma boa maquiagem, sutil e eficientes, mas que, sobretudo, tem a seu favor aquelas velhas lições que a lenda George A. Romero ensinou ao mundo em sua trilogia da morte (já escrevi em outra oportunidade que o que veio depois disso pode ser ignorado), onde, na maioria das vezes é melhor criar uma situação interessante e colocar seus personagens nela do que perder tempo explicando-a. Além da lição sobre o quanto é fácil fazer um ótimo filme de terror com o mínimo de dinheiro e o máximo de criatividade.


Carriers (EUA, 2009) direção: Alex pastor e David Pastor com: Lou Taylor Pucci, Chris Pine, Piper Perabo, Emily VanCamp e Christopher Melloni


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