Verdade ou Consequência Filme

Verdade ou Desafio | A ideia é boa, mas o resto é um desastre


Filmes como ¿Would You Rather¿ e este Verdade ou Desafio, de início, divertem simplesmente por suas premissas, que envolvem uma situação de terror, tensão e violência nascida de brincadeiras bobas que todo mundo conhece. Jogar verdade ou desafio ¿ ou “verdade ou consequência”, como chamamos no Rio Grande do Sul ¿ é algo repleto de oportunidades e ansiedades adolescentes, e não é interessante ver isso ser elevado à última potência? No caso de Verdade ou Desafio, novo título lançado pela produtora Blumhouse¿ Não, não é.

Depois do sucesso estrondoso (e merecidíssimo) de Corra! e de produções eficientes como A Morte te Dá Parabéns e Fragmentado, fica até difícil lembrar que a Blumhouse também é perfeitamente capaz de errar. Em Verdade ou Desafio, acompanhamos a YouTuber e estudante Olivia (Lucy Hale) e seus amigos, que partem para um último Spring Break de muita curtição e álcool no México. Lá, Lucy conhece o jovem Carter (Landon Liboiron) e, apesar de ser bastante centrada (pelo menos quando comparada a seus colegas), a garota, por algum motivo, decide que é uma ótima ideia que o grupo todo siga Carter até uma igreja abandonada no meio do nada. Quando o rapaz sugere que eles brinquem de verdade ou desafio, as coisas logo começam a se complicar diante das revelações feitas ¿ o grupo de amigos é cheio de dramas e segredos! Mas isso não é nada perto do que está por vir!!!!!

Ao retornar para a faculdade, um dos amigos de Lucy morre misteriosamente e, logo, ela percebe que o jogo está perseguindo-os com uma roupagem bastante demoníaca. Carter já havia esclarecido as regras, mas Lucy não acreditou nele de imediato (compreensível). Quem não falar a verdade morre; quem não cumprir um desafio morre; quem se recusar a jogar pode voltar para casa e seguir sua vida. Ok, ok: quem se recusar a jogar morre também.

Para apimentar as coisas, descobrimos também uma regra exclusiva desta versão: depois que dois jogadores seguidos escolherem verdade, o próximo não tem escolha ¿ é hora de um desafio.

Isso acaba sendo contraprodutivo para o roteiro assinado a oito (oito!!) mãos por Jillian Jacobs, Michael Reisz, Christopher Roach e Jeff Wadlow ¿ o último é responsável também pela direção do longa. Considerando que a premissa do filme dá abertura para os desafios mais cruéis e bizarros possíveis, os cineastas mostram-se absurdamente pouco criativos nesse sentido.

O longa ao menos possui um ritmo dinâmico e ágil, mérito do montador Sean Albertson. Mas, como a direção também não consegue criar tensão ou ansiedade, o resultado, ver os personagens cumprindo seus desafios e arriscando a morte (ou morrendo), não acaba sendo algo envolvente ¿ e isso também acontece pelo fato de que não nos importamos muito com aquelas pessoas.

Verdade ou Consequência Filme

Enquanto isso, típicos dramas adolescentes, como o segredo de que Lucy é apaixonada pelo namorado da melhor amiga, misturam-se a conflitos mais pesados e importantes de serem discutidos, como o de Brad (Hayden Szeto), que esconde o fato de ser gay do pai homofóbico, ou o de Penelope (Sophia Ali), que disfarça o alcoolismo sob a fachada de garota baladeira. Dessa forma, as verdades, é claro, revelam-se mais perigosas do que os desafios, resultando em situações que carregam um peso real para os personagens centrais. Que, infelizmente, não são dos mais interessantes. Lucy Hale tem um tipo de carisma ideal para produções adolescentes de qualidade duvidosa feitas para a TV (não à toa, ela era ¿ é? ¿ uma das estreladas do seriado Pretty Little Liars), mas Olivia é uma daquelas personagens que, apesar de terem uma personalidade relativamente bem definida, toma atitudes movidas mais pelas necessidades do roteiro do que por quem ela é. Enquanto isso, sua melhor amiga, Markie (Violett Beane), e o namorado desta, Lucas (Tyler Posey), são as duas únicas outras figuras a conseguirem deixar qualquer tipo de impressão no espectador.

Mas Verdade ou Desafio ainda tem outra pedra em seus sapatos: as redes sociais. Como um filme assumidamente voltado para o público adolescente (o que não é um problema!), o longa é ¿obrigado¿ a reconhecer o papel que smartphones, YouTube e Snapchat (Snapchat? Não tinha todo mundo migrado de vez pro Instagram?) têm na vida dessa faixa etária. Entretanto, isso também não é bem explorado, limitando-se à documentação da viagem nas redes sociais e a diálogos comparando, por exemplo, o sorrisinho demoníaco exibido pelos jogadores a um ¿filtro macabro do Snapchat¿. É apenas na conclusão (moderadamente eficiente) do filme que essa exploração da internet é realmente utilizada como parte integral da trama.

Longe de ser uma bomba (como A Forca, por exemplo, outra produção da Blumhouse), Verdade ou Desafio não exibe a criatividade e a ambição suficientes para explorar ao máximo a sua trama; um fiapo disso é demonstrado apenas no final. É claro que a produtora não vai viver apenas de Corra!, mas o já citado A Morte te Dá Parabéns é o exemplo perfeito do que uma produção de médio orçamento munida de uma ideia interessante é capaz de ser.

Mas Verdade ou Desafio não possui uma identidade própria ou o desejo de falar alguma coisa e, apesar de até acertar em alguns quesitos, coloca-os ao lado de uma mediocridade absurda  ¿ e essa é a melhor palavra para definir o filme.


¿Truth or Dare¿ (EUA, 2018), escrito por Jillian Jacobs, Michael Reisz, Christopher Roach e Jeff Wadlow, dirigido por Jeff Wadlow, com Lucy Hale, Violett Beane, Tyler Posey, Sophia Ali, Nolan Gerard Funk, Landon Liboiron, Sam Lerner, Brad Chang e Aurora Perrineau.


Trailer – Verdade ou Desafio

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