Uma Ladra sem Limites

Lá atrás, em 1989, Júlia Roberts foi indicada ao Oscar pela primeira vez por Flores de Aço, e o que ela fez? Tornou-se a inesquecível prostituta de “Uma Linda Mulher” e recebeu mais uma indicação à estatueta dourada. Agora, sabem o que a Melissa McCarthy fez com uma-ladra-sem-limites-postersua indicação ao Oscar pelo superestimado Missão Madrinha de Casamento? Pois bem, preferiu vomitar na cara de um policial em Uma Ladra sem Limites.

E se alguém acha isso ruim, não se preocupe, por que ela ainda apanha de Jason Bateman com um violão e uma torradeira, tomar uns safanões de Robert Patrick e ainda conseguir fazer o espectador achar que isso é pouco diante do que ela poderia receber. E não só ela, talvez devesse ainda sobrar alguma coisa para o diretor Seth Gordon e, com certeza, para a dupla de roteiristas Jerry Eeten e Craig Mazin.

Longe de celebrar qualquer tipo de violência. Pelo menos muito menos do que o trio faz questão de se divertir fazendo ao criar essa personagem sociopata, triste, dissimulada e irritante, ao mesmo tempo em que parecem ter a cara de pau de pedir para que alguém em sã consciência se aproxime ou se identifique com esse desastre. Sobra então se escorar em Bateman… não, não sobra não, na verdade bem pelo contrário.

No caso Bateman é Sandy Petterson, um executivo qualquer com um trabalho pouquíssimo empolgante e cheio de problemas que acaba tendo sua identidade fraudada por uma falsária (McCarthy) que, entre compras compulsivas, bebedeiras e mais um monte de imbecilidades acaba desgraçando a vida do coitado. O problema é que o único meio de resolver isso é com ele indo até o outro lado do país para busca-la e fazê-la pagar por seus crimes, assim como limpar sua barra em um novo emprego.

E com motivos tão repletos de egoísmo (dele) e falta de culpa (dela) os dois acabam embarcando em uma viagem de volta para casa, daquele tipo que traumatizou Steve Martin em Antes Só do que Mal Acompanhado e mais recentemente Robert Downey Jr. em Um Parto de Viagem. A diferença é que, em ambos os casos, ninguém no cinema torceu para que qualquer acidente se tornasse fatal para os dois personagens assim que o caminho se iniciasse. Como já foi dito, nem Bateman, aquele personagem que devia ser o representante comum do espectador médio do cinema consegue salvar absolutamente nada.

De cara, se percebe o quanto o ator parece estar à vontade em ter se tornado o panaca oficial de Hollywood, encarnando mais uma vez um personagem completamente apático, nada simpático e pouquíssimo inspirador. E torcer para que um cara desses se dê bem é quase um esforço hercúleo para quem entrou no cinema somente para ver uma comédia.

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E é verdade, tudo isso seria facilmente relevante diante de um pequeno detalhe que caracteriza as comédias: o riso. Depois de forçar uma piada com o nome do personagem mais de um par de vezes antes de perceber que ela não tem a menor graça, Uma Ladra sem Limites parece decidir não tentar mais nenhuma espécie de humor que não seja ligado a uma ou outra careta de McCarthy (e sua indicação ao Oscar). Pior ainda, o roteiro ainda acaba esquecendo completamente de usar uma dos mais famosos subterfúgios desse tipo de filme em nem ao menos faz o personagem de Bateman sofrer tanto durante a viagem, guardado isso tudo para apenas uma sequencia envolvendo uma cobra e uma desculpa complemente idiota para eles estarem no meio de uma floresta em volta de uma fogueira.

Uma falta de sentido que resvala ainda na presença de uma traficante que envia dois capangas para perseguir a personagem de McCarthy, mas que acabam não influenciando absolutamente nada da história, e se tivesse saindo da história antes mesmo de explodirem uma porta com uma escopeta e caras de mau, não fariam falta alguma.

Bom, talvez Uma Ladra sem Limites também não faça (nem falta nem sentido), e também talvez seja injusto comparar a carreira de McCarthy e suas escolhas pós Oscar com a de Julia Roberts, se bem que no mesmo ano que ela estreou nos Prêmios da Academia, uma tal de Jessica Chastain também fazia o mesmo, e sem apanhar nem vomitar em ninguém aproveitou essa oportunidade para voltar esse ano a ser lembrada, dessa vez por A Hora Mais Escura.


Identity Thief, escrito por Craig Mazin e Jerry Eeten, dirigido por Seth Gordon , com Jason Bateman, Melissa McCarthy, Amanda Peet, T.I. Genesis Rodriguez, Jon Favreau e John Cho


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