Um Príncipe em Nova York 2 | Era melhor que tivesse ficado quieto em Zamunda


Tudo bem, em algum momento de Um Príncipe em Nova York 2 existe um príncipe e ele está em Nova York. Se levarmos em conta o título original eles também “vão para a América”, não uma, mas duas vezes. Tirando isso, não há qualquer razão para essa porcaria existir e levar o nome de um filme importante para uma geração inteira de cinéfilos.

É lógico que o carinho pelo original vai fazer aquela parte dos coraçõezinhos dos fãs baterem quentinho com a empolgação de matar a saudade dos personagens. Mas o resultado é tão preguiçoso e desastroso que parece que a ideia era contar só com isso para fazer o filme funcionar: a boa vontade dos fãs.

A história continua nas mãos dos roteiristas originais Barry W. Blaustein e David Sheffield, agora com a parceria de Justin Kanew. E por mais que você lembre com carinho do original, acredite, o que presta no filme não era os textos dos dois, mas sim o timing sempre interessante do diretor John Landis e a qualidade do humor de Eddie Murphy e Arsenio Hall. Tirando isso, o que sobra é a mesma dupla que anos depois escreveu O Professor Aloprado 2: A Família Klump, portanto nada de esperar muito dos dois.

Um Príncipe em Nova York 2 é então uma bagunça com pouco sentido, enfiado goela abaixo do público através de um “retcom” vagabundo, sem a presença de Landis e com Murphy e Hall com pouco tempo de tela. Então é fácil fazer as contas.

Surpreendentemente Um Príncipe em Nova York 2 é dirigido pelo mesmo Craig Brewer do incrível Meu Nome é Dolemite, que deixou todas suas qualidades para o resto de sua carreira e assina um trabalho completamente sem personalidade, sem timming e com mais vontade de deixar ligada a câmera para uma série de cenas sem sentido. Nele, o Akeem (Murphy) agora se torna o rei de Zamunda, mas é colocado em check-mate quando não tem um substituto homem entre seus herdeiros. Nesse momento ele descobre também que tem um filho bastardo no Harlem, resultado de sua aventura na América.

O próprio Landis está creditado no filme como diretor por terem usado algumas cenas do original como flashback, principalmente essa onde Akeem e Semmi (Hall) buscam umas mulheres em uma boate, e acredite, mesmo 30 anos depois, essa é a única cena que presta no novo filme. O resto é um desperdício completo.

Akeem parte então de volta para os Estados Unidos para encontrar seu filho, vivido por Jermanine Fowler e que vem com a presença à “tira-colo” de Tracy Morgan e Leslie Jones, obviamente enfiados no filme para que tivesse alguém realmente engraçado no resultado final, já que os dois não prestam para muita coisa dentro da trama.

A presença de Akeem nos Estados Unidos dura cinco minutos e está lá mais como desculpa para repetir uma sequência dentro da barbearia, do que propriamente para refazer a ideia do filme original. O problema agora é outro, o agora Rei Akeem precisa encontrar um jeito de emplacar um herdeiro forte para enfrentar a ameaça do General Izzi (Wesley Snipes), líder de uma nação vizinha e que ainda tenta acabar com Zamunda desde que Akeem negou o casamento com sua irmã (que late).

Snipes não se leva mais a sério e o filme ajuda ele a encarar esse personagem extravagante e com entradas em cena que mais parecem saídas de algum musical brega da Broadway. Talvez sobrasse para Snipes ser um dos destaques do filme se ele não repetisse a mesma piada meia dúzia de vezes, mas ainda assim, muito provavelmente o espectador irá dar algumas risadas com ele.

Na verdade, os risos do filme, muito provavelmente surgem apenas com Snipes e com uma inspirada apresentação do filho bastardo em uma hilária, inteligente e pertinente entrevista de emprego que dá uma pequena aula sobre racismo, meritocracia e hipocrisia. Mas talvez seja pouca lacração e se tivesse lacrado mais, com certeza, teria lucrado mais.

Falando em “quem não lacra não lucra”, por mais que Um Príncipe em Nova York 2 seja construído sobre uma ideia progressista e moderna, o da filha mais velha não poder ser a herdeira do trono por ser mulher, isso é muito menos desenvolvido do que deveria. Em poucos segundos a filha parece ser movida quase por um ciúme que destrói a força da personagem dentro da trama. Pior ainda, a história caminha para um lugar onde, mesmo com a discussão sobre ela poder ser a herdeira, com a chegada do irmão, isso não aconteceria, já que ele é o primogênito. Resumindo, um desserviço às próprias intenções originais.

Voltando à extravagância, Um Príncipe em Nova York 2 é excêntrico e exagerado. Não sabe viver sem uns momentos musicais que não se encaixam no resto do filme, se acha grande demais por estar em cenários gigantes e não consegue ajustar o timming de suas piadas mais sutis. A grandes cenas com piadas que formam uma cena inteira, como o velório do Rei Joffer pode até funcionar, mas aquele punch line ou olhar divertido que movia o primeiro, aqui simplesmente não existe.

Para completar, a presença de Murphy e Hall só não é um desperdício maior, pois ambos se divertem com aqueles muitos personagens cheios de maquiagens, com o Reverendo Brown e o cantor Randy Watson (além, é claro, do pessoal da barbearia). Tirando isso, os dois estão completamente apagados e não aproveitam o filme que deveria ser para eles.

Um Príncipe em Nova York 2 não vai até a América, mas sim aposta nessa trama onde um novo príncipe irá para Zamunda. O melhor mesmo era então que o filme se chamasse “Coming 2 Zamunda” ou “Um Príncipe em Zamunda”, assim nem o título do filme original iria estar ligado esse desastre.


“Coming 2 America” (EUA, 2021); escrito por David Sheffield, Justin Kanew e Barry W. Blaustein; dirigido por Craig Brewer; com Eddie Murphy, Arsenio Hall, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan, Kiki Layne, Shari Headley, Wesley Snipes e James Earl Jones

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