[dropcap]E[/dropcap]ra pra ser uma história simples sobre perdas e auto-destruição, como o ótimo Em Pedaços (do diretor Fatih Akin, com Diane Krueger), que de bônus tem uma trilha sonora ótima de rock pesado. Mas Um Noir nos Balcãs é apenas um filme que lembra vagamente o gênero noir, mas, por outro lado, resolve aplicar gracinhas cinematográficas no meio que não fazem o menor sentido e de quebra com uma trilha sonora pop bobinha.
A protagonista até usa o título da música-síntese da cantora pop, Cyndi Lauper: “Girls Just Wann to Have Fun”, mas, com certeza, o único que não tem diversão nisso tudo é o espectador.
Partindo de uma história simples – uma mãe com a filha desaparecida há seis anos – o filme mistura uma lógica temática que envolve propagandas antigas de cigarro, como o inconsciente coletivo agindo. Mas além disso, corta a história em pedaços que nada contribui para entendermos seus personagens nem a história, que avança a passos de tartaruga e de forma confusa. Porém, mais uma vez, não é a forma confusa e de moral duvidosa de um noir, somente um confuso por ser confuso mesmo.
Além dos truques com as propagandas de cigarros – um achado divertido em si mesmo – há também o uso indiscriminado de movimento de câmera, brincando com a percepção do espectador e nos jogando longe da ficção, como quando a câmera deita junto quando alguém derruba uma árvore (muito brega), ou “piscadas” feitas em alguns momentos em que alguém está acendendo o isqueiro ou socando alguma coisa. Nada disso contribui com a história e é mera diversão estética do diretor Drazen Kuljanin, que quer que olhemos para ele em vez do filme.
Não é possível extrair significado de toda essa bagunça sem ritmo exceto a própria estética aplicada no filme. Não é um filme sobre uma história. A história é mera isca para apreciamos vídeos antigos de médicos promovendo o fumo ou imagens de bebês que piscam em alguns momentos. Um Clube da Luta sem imaginação nem propósito preparado artesanalmente em dois dias na Suécia e cinco na Sérvia.
Não me admira que tenha sido feito tão rápido: não há roteiro enquanto o filme pisca para você. Vai um cigarro aí?
Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
“A Bankan Noir” (Sue, Mon, 2017), escrito e dirigido por Dražen Kuljanin, com Disa Östrand, Johannes Bah Kuhnkee, Sergej Trifunovic