Tragam A Maconha Filme

Tragam a Maconha | Divertido, mesmo sem pretensões maiores


[dropcap]T[/dropcap]ragam a Maconha é um mockumentary engraçadinho, que não tem muitas pretensões de ser mais que isso. O que o torna uma boa pedida entre sessões mais pesadas da Mostra de São Paulo, como uma aliviada no meio de tantos dramas e críticas sociais e políticas. Porque, por incrível que pareça, este filme não tem nada disso.

Isso porque estamos falando de um assunto sério: a liberação da maconha. Uma causa que já deve somar umas cinco décadas pelo menos nos EUA e que teve como seu primeiro país do mundo a legalizá-la o Uruguai, um povo pacato da América do Sul. Seu presidente, Pepe Mujica (que possui algumas cenas no filme), é considerado o mais pobre do mundo. Ele tem um fusquinha, mora em uma casa humilde e quer deixar como legado essa lei.

Porém, uma vez que ela é aprovada, alguém precisa plantar. E como se trata de uma questão de Segurança Nacional (em letras maiúsculas), apenas o exército deve possuir licença para tal. Ou, como é explicado no filme, os militares estão entediados em um país pacífico e seria uma boa terem algo pra fazer. É esse o nível cômico da história, que se mistura facilmente com a vida real.

Os heróis do filme, além de Pepe, são uma dona de farmácia e seu filho, que partem para os EUA em uma missão que coincide com o encontro entre o presidente uruguaio e Barack Obama. A missão extra-oficial dos dois é contrabandear maconha americana para iniciar os negócios em terra uruguaia enquanto a nacional não cresce. O filme ganha assim um ar internacional, com várias partes sendo falado em inglês, inclusive, e feito para todos darem risada de maneira mais universal.

Este, porém, não é um mockumentary muito bom. Ele deixa nas entrelinhas se está falando sério, mas seu tom é exagerado demais para sequer pensarmos nisso. A não ser que você acredite que o Uruguai é o sítio de Mujica que virou um país para ficar mais fácil de plantar maconha e protegê-la com o exército. Com isso, o filme corre o risco de nos fazer esquecer de sua parte crítica: a legalização da maconha não é um bicho de sete cabeças como as pessoas costumam pensar.

Tragam A Maconha Crítica

Para isso há um lado útil e informativo na história toda: os nossos heróis passeiam pelos eventos americanos relacionados ao consumo e comercialização da erva no estado de Colorado, onde a droga é legalizada e que une o jeito americano de ser com a tradicional defesa do direito individual. É engraçado quando eles vão entrevistar um político liberal clássico e o que vemos é sua surpresa em saber que a erva recreativa será tratada como assunto nacional no Uruguai (um país socialista).

Nessa parte do filme vamos aprendendo mais sobre os consumidores e como o comércio se organiza em torno da droga. Há várias brincadeiras no meio do caminho também, como um policial uruguaio que encontram em NY ou a gangue de jamaicanos de onde pretendem conseguir a erva valiosa (que irá custar um dólar por grama no Uruguai, como anunciado mil vezes no filme, e para espanto dos americanos acostumados a pagar vinte vezes mais). O filme só não vira uma bagunça total, pois não consegue enganar que todos os percalços fazem parte de um roteiro planejado desde o início, o que o faz perder um pouco da graça e espontaneidade.

De qualquer forma Tragam a Maconha consegue contar uma história falsa com certa legitimidade graças ao bom humor do presidente uruguaio (e de todos os entrevistados que comentam como Obama era uma chaminé na faculdade). O filme é levemente divertido através de seus pobres personagens, mas deixa uma mensagem importante no ar: por que alguns levam esse assunto tão a sério?

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Misión No Oficial (aka Get the Weed)” (Uru/EUA, 2017), escrito e dirigido por Denny Brechner, Alfonso Guerrero e Marcos Hecht, com Denny Brechner, Talma Friedler, Pepe Mujica, Gustavo Olmos, Ignacio Roqueta.


Trailer do filme – Tragam a Maconha

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