Tiras em Apuros

por Vinicius Carlos Vieira em 01 de Novembro de 2010

Kevin Smith não pode ser citado como um grande diretor. Talvez como um roteirista competente com alguns pouco acertos, que fizeram seu nome aparecer no alto dos pôsteres  mas que, aos poucos, seguindo o “Método Shyamalan-Bogdanovich de Arruinar sua Carreira”, vai se distanciando mais e mais desse pouco que fez tão bem. Como se aquele gordinho de New Jersey, de barba e camisa de baseball, a cada filme fizesse mais questão de ser esquecido no passado, com aquele inquieto de “O Balconista”, ou até o dono aquele vontade de contar uma história bacana em “Procurando Amy”, agora se aventurasse em um filme de gênero impessoal e pouco interessante.

E é logo de cara isso que mais pula aos olhos em “Tiras em Apuros”: mais do que nunca, Smith tenta ser um diretor como qualquer outro, mas erra feio. Como se não soubesse para onde apontar suas armas, indeciso se como uma sátira em mãos, ou um filme nerd repleto de referências, ou até uma comédia corriqueira, sobre dois policiais de Nova York. No fim das contas, essa mistura toda, resulta é em uma salada sem graça e sem personalidade.

Nela, a dupla de policias vividos por Bruce Willis e Traci Morgan, acaba afastada por uma daquelas cenas clichê de filme policial, com tiros, perseguição no metro e tudo mais, mas, mesmo longe de seu trabalho, acabam dando de frente com um traficante de drogas que tem em sua posse uma valiosa figurinha de baseball do personagem de Willis (a qual ele venderia para pagar o casamento da filha).

Mas, infelizmente, o pior de tudo não é essa tentativa de trama, mas sim todo o resto, já que ela, mesmo sem pé nem cabeça, pouco incomoda diante do monte de atuações horrorosas, da uma ausência total de ritmo e de uma câmera perdida de Smith.

Se, com muita boa vontade, o espectador vai conseguir rir de, no máximo, meia dúzia de piadas (muito pouco para um filme inteiro), “Tiras em Apuros” sofre principalmente por não conseguir sair dessa meia dúzia. Gargalhar no começo do interrogatório, onde Morgan passa a citar, “em Homáge”, um monte de falas clássicas de filme policiais agrada até o momento em que essas mesmas falas passam a se tornam desconexas e esquizofrênicas. Tudo piora ainda mais quando esse “cacuete” é repetido a exaustão, não reciclando uma idéia, somente repetindo-a irritantemente.

O mesmo acontecendo com a entrada, no meio da trama, do ladrão vivido por Sean Willian Scott (que deixou de ser engraçado assim que abandonou o Stifler de “American Pie” em seu passado), se tornando talvez um dos personagens mais irritantes que o cinema poderia ver, além de uma ausência total de função (ou melhor, até com uma, mas sendo sacrificado por uma piada sem graça). No mesmo balaio, o personagem de Morgan se resume e um aparente esforço de caras e bocas para interpretar um personagem que acaba sendo parecido demais com seu trabalho na TV em “30 Rock”, porém, que funciona lá mas aqui se torna exagerado e totalmente perdido.

No meio de tudo isso, Willis só consegue repetir seu policial durão de tantos outros filmes, mas acabando pouquíssimo aproveitado como o próprio arquétipo que sua presença, que se caísse em um cinismo, poderia até ajudar ao filme. Do outro lado da lei, Guillermo Diaz acaba entrando para a história do cinema como um dos traficantes “chicanos” mais retardados e cheio de pose que a sétima arte poderia proporcionar.

O roteiro e Mark e Robb Cullen, piora mais ainda a situação ao se equivocar completamente, achando graça em donas de casa com armas, ladrões usando o banheiro e crianças sendo agredidas pelo personagem de Morgan. Definitivamente algo para se esquecido, ainda que Smith não faça muita questão disso.

Por trás de tudo isso, o diretor ainda se perde e uma câmera sem objetivo nenhum, que deixa mais claro ainda suas dificuldades nesse função, ainda mais quando decido fazer algumas sequencias de ação sem a mínima vontade, cheia de ângulos batidos, montadas (pelo próprio Smith) de modo desritmado e se levando a sério um pouco além da conta. Tudo acompanhado por um trilha sonora ruim de vídeo game de 8 bits, datada e, igualmente como todo resto, sem emoção.

Sem ser um sátira, o que pode ser pensado à primeira vista, “Tira em Apuros” acaba sendo apenas uma imitação ruim de um filme policial ruim (bem verdade, também falhando aqui, já que no fim, acaba se perdendo e um monte de tiros e morte sem sentido, de modo violento muito além do necessário), afogado em clichês que já foram largamente usados para provocar riso, mas aqui só resultando em vergonha.

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Cop Out (EUA, 2010) escrito por Robb e Mark Cullen, dirigido por Kevin Smith, com Bruce Willis, Tracy Morgan , Guillermo Diaz, Ana de Le Reguera, Kevin Pollak, Adam Brody, Rashida Jones, Jason Lee e Seann William Scott

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