Tiger King: Máfia dos Tigres é uma história que só poderia acontecer nos Estados Unidos

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[dropcap]M[/dropcap]uita coisa vai lhe chocar e chamar atenção assistindo à série Tiger King – no Brasil, Máfia dos Tigres -, mas poucas são mais chamativas do que a breguice de todas as pessoas envolvidas nessa história. É sério! Não importa se estamos falando sobre os malucos proprietários de grandes felinos ou a ativista que deseja salvar esses animais, todos eles são cafonas. Mas este é um artigo sobre a série e não sobre moda.

A impressão que tenho sobre a história contada em Tiger King é que são tias do gato que foram longe demais. Uma espécie de amantes de felinos com muito dinheiro e armas pra construírem zoológicos particulares e utilizarem esses animais ao seu bel-prazer. Algo que seria impensável em qualquer outro lugar do mundo que não os cantos mais singulares dos Estados Unidos.

Os dois personagens principais da história são Joe Exotic e Carole Baskin. Joe é o estereótipo do redneck republicano sem papas na língua, com o detalhe de ser gay, adepto do poliamor e dono do GW Zoo. Carole é uma milionária ativista pelo direito dos grandes felinos fundadora do Big Cat Rescue. O embate entre essas duas excêntricas personalidades é o tema central da série.

E por mais que pareçam ser motivados por ideias diferentes, Joe Exotic e Carole Baskin são muito mais próximos do que aparentam. As denúncias de crimes e exploração de animais surgem para ambos os lados. E os dois são ególatras que desejam fazer seus rostos conhecidos por toda a América.

Um grande exemplo dessa egolatria é que todo o conteúdo disponível só é possível graças ao egocentrismo de Joe. A impressão que temos é que a vida do Tiger King foi relatada a cada passo. E é exatamente isso que acontece. Joe Exotic estava produzindo um reality show pessoal quando os acontecimentos da série se desenrolaram. E esse material serviu para que a Netflix pudesse produzir Máfia dos Tigres.

Outro exemplo de toda essa egotrip já é escancarado logo no primeiro episódio da série. Na loja de souvenir do GW Zoo, você pode encontrar uma grande variedade de itens com o rosto de Joe Exotic, incluindo uma cueca de oncinha. Mesmo que ele faça questão de ressaltar que não usa cuecas.

A Tiger King sequel will investigate the death of Carol Baskin's ...

Mas Joe não é o único dos criadores de grandes felinos a ser apresentado na série. Doc Antle é um personagem central da história, uma espécie de Osho do mundo animal que faz muito sucesso na internet. Jeff Lowe é outro que surge no meio da trama, um playboy de 40 anos com síndrome de peter pan viciado em drogas e swing, e se torna o principal responsável por tudo que acontece com Joe Exotic.

Em meio a toda essa briga de egos, Tiger King é uma mistura de série documental de crimes com uma crítica à exploração animal. Em alguns momentos, chega a lembrar o documentário Blackfish, que fala sobre a vida das orcas em cativeiro no Sea World.

Os Estados Unidos têm mais tigres criados em propriedades particulares do que o número de outros animais da espécie espalhado por todo o mundo. Lembrando que eles não são animais naturais do continente. Essa é a grande luta de Carole Baskin, uma defensora do direito animal. Em contrapartida, Joe defende seu “direito” à propriedade e à criação dos grandes felinos. Ambos são figuras tão caricatas que, se fosse pura ficção, diríamos ser exagero dos roteiristas.

As denúncias de crime e troca de acusações para os dois lados escancara um mercado de tráfico de grandes felinos onde ninguém sai ileso. As denúncias contra Carole Baskin não são mais leves do que as que ela levanta contra os proprietários de zoológicos particulares, o que gera um conflito de ideias e emoções até mesmo nos defensores dos animais.

O que vemos durante toda a história de Tiger King é uma imensa disputa de quem tem a pistola maior, literalmente. Uma espiral de acontecimentos que surge da rivalidade entre uma militante pelos direitos animais e um criador de animais selvagens que escala tão rápido que mal somos capazes de acompanhar tantos acontecimentos e desgraças com as mesmas pessoas.

E essa rede de exploração que começa através do uso de animais como ferramentas de entretenimento e fonte de dinheiro segue em diferentes campos da vida dessas pessoas. Joe Exotic, por exemplo, é casado com dois homens viciados em drogas que se veem presos a este relacionamento de forma abusiva. Doc Antle tem um harém de mulheres que chegam “jovens” – para não dizer adolescentes – ao seu zoológico e se tornam funcionárias e esposas. Jeff usa os tigres como estratégia pra atrair mulheres as suas luxuosas suítes em Las Vegas. E todos eles têm algo em comum: a ligação com o crime e a exploração da mão de obra.

Essa é uma história que só poderia acontecer nos Estados Unidos, um país onde ameaças públicas de assassinato são consideradas apenas liberdade de expressão.

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