The Tax Collector | Mais frustrante que a tatuagem do Shia LaBeouf


É impossível falar de The Tax Collector sem lembrar que Shia LaBeouf fez uma enorme tatuagem real no peito e deformou as orelhas só para compor o personagem Creeper. A tatuagem você não vai ver em nenhum momento durante o filme, as orelhas estão lá. Se isso parece frustrante, tudo bem, o resto do filme é bem menos interessante do que essa informação.

Pior ainda, Labeouf é quase um coadjuvante de luxo desse desastre anunciado. Não que ninguém possa negar o esforço o ator, que realmente cai na caricatura e tem pouco ou nada no filme que o faça parecer tão perigoso quanto ele quer parecer, mas ainda assim é um trabalho valido. Mas é vazio e desinteressante, assim como o resto do filme.

A estrela do filme é David (Bobby Soto), espécie de herdeiro de uma gangue de Los Angeles que organiza as demais gangues e mantêm a ordem diante do submundo da cidade. Não que ele já seja um chefão, não é, na verdade ele e Creeper são a dupla de cobradores que pegam todo dinheiro dos protegidos e aproveitam sempre para deixar claro por aí quem é que manda em tudo por lá.

E tudo vai bem enquanto apenas alguns “gangstas” locais criam pequenos problemas, uma calmaria que é interrompida pela chegada de Conejo (Jose Conejo Martin), um antigo chefão que pretende “voltar ao jogo”, nem que para isso tenha que passar por cima de todo estrutura atual e, é claro, acabar com David.

The Tax Collector não é interessante antes desse vilão surgir, soa até como um arremedo preguiçoso do primeiro sucesso do diretor David Ayer, enquanto ainda era um escritor muito mais eficiente e interessante. David e Creeper ficam por aí conversando dentro do carro como se estivesse em um Dia do Treinamento ruim.

Mas não se empolgue com a reviravolta, assim que ela acontece, um grande tiroteio mata praticamente todos personagens do filme e deixam David por aí tentando uma fuga frustrada que se torna uma vingança sangrenta. Ayer gosta do sangue e das cenas explícitas de violência, então The Tax Colletor tem litros e litros de sangue, cabeças explodidas, mas nada que valha a pena.

E incapacidade narrativa de Ayer é tão grande que ele apela ainda para uma luta entre o cristianismo e algum tipo de religião de matriz africana que junta vudu com galinhas mortas, sacrifício humano e cachaça 51. O texto de Ayer é tão risível que é impossível não se irritar com a carga enorme de preconceito com o “vilão malzão” que é “demoníaco”.

O mais impressionante é ver como um profissional que escreveu o impecável Dia do Treinamento se satisfazer com essa trama vagamunda e chinfrim. Um descontrole narrativa tão grande que chega a ser vergonhoso, como no momento em que o protagonista tem um flashback de uma aula de jiu jitsu que até aquele momento parecia perdida dentro do filme. Não estava, era só uma desculpa esfarrapada mesmo.

A lição final de The Tax Collector pode ser até sobre as heranças e como o passado volta para cobrar suas dívidas, do mesmo jeito que o começo da carreira de David Ayer deveria fazer enquanto volta para cobrar satisfação desse cineasta medíocre que ele se tornou.


“The Tax Collector” (EUA, 2020); escrito e dirigido por David Ayer; com Bobby Soto, Conthya Carmona, Shia LaBeouf, José Conejo Martin, Cheyenne Era Hernandez e George Lopez


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