Ted Bundy – A irresistível Face do Mal | Chocante, mal, vil… e humano


[dropcap]N[/dropcap]ão é complicado entender a razão da citação de Goeth no começo de Ted Bundy – A irresistível Face do Mal: Poucas pessoas tem a imaginação suficiente para a realidade. É realmente difícil acreditar que tudo aquilo no filme seja real. E não existe nada mais assustador que a realidade.

Bundy foi um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que participou de um daqueles momentos de falência da sociedade americana onde valores se invertem e uma grande tenda de circo cerca um assunto. Nesse caso, o julgamento de Bundy, que foi devidamente televisionado e tornou o assassino um bizarro sex symbol que encheu o tribunal de fãs.

No filme, Bundy é vivido por Zac Effron, que consegue entender o tom do personagem e deixa que a história, bizarra por si só, faça seu trabalho. Na verdade, o filme se permite, em grande parte, estar sob a visão da namorada de Bundy, Liz Kendall (Lily Collins), mesmo que isso não dure o tempo inteiro, já que os holofotes estão realmente sobre Bundy.

A história original (livro) é escrita pela própria Kendall, o que talvez seja o ponto mais interessante do filme, já que a trama está interessada nesse cara que nega seus crimes por décadas. O jovem charmoso, bonito, inteligente, gentil e interessante pelo qual ela se apaixonou. O mesmo personagem que o diretor Joe Berlinger parece encontrar o porto-seguro de seu filme.

Berlinger vem do mundo dos documentários, mais precisamente do já clássico Paradise Lost e suas duas continuações e ainda o surpreendente Metallica: Some Kind of Monster. Mais recentemente Berlinger ainda comandou a série Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy, que deve ter servido de porta de entrada para o filme.

De qualquer jeito, Berlinger traz de sua experiência essa câmera mexida, talvez um pouco demais, já que na maioria do tempo em que acontece, não tem muita razão de ser, funcionando muito melhor quando firma sua imagem na ação. Isso porque, sua maior façanha é entender a possibilidade de manipular seu espectador.

Assim como Bundy, Berlinger parece negar e seguir esse caminho absurdo onde tudo vai se transformando em grande teoria de conspiração maluca onde, mesmo com todas evidências óbvias, Bundy continua fingindo não ter acontecido nada. A farsa beira o bizarro e o resultado é interessantíssimo, já que mostra o quanto a realidade pode ser manipulada ao bel prazer de seu olhar.

Por definição, Berlinger é um documentarista e isso o torna um manipulador profissional, já que o resultado é sempre um recorte da realidade influenciado pelo olhar de seu criador. Ted Bundy é isso: uma história distorcida pelo olhar de quem não estava sendo influenciado pelas provas conclusivas que deixavam claras o quanto Bundy era um assassino psicopata.

Todo o esforço de Ted Bundy (o filme) é então seguir de perto esse personagem e até chegar a enxerga-lo como um ser-humano, mesmo diante de todas provas contrárias. É fácil se pegar negando com eles todas as provas, não por acreditar na inocência, mas sim por estar na inércia dessa história maluca.

O mais assustador é exatamente saber da realidade, mas ser manipulado para esse lado, o que faz com que o trabalho de Berlinger seja ainda mais interessante, já que permanece firme dentro dessa ideia, até quase chegando ao limite do absurdo.

Esse esforço não sucumbe à completa maluquice revisionista, justamente, pois Effron leva o personagem à sério na medida, sem se permitir ser um psicopata clichê comum, e manter sempre essa impressão de fantasia. Ao mesmo tempo em que a Liz vivida por Collins caminha por esse caminho em que o espectador enxerga a paixão em seus olhos, mas permanece firme em uma incerteza que culmina com uma pequena reviravolta final que explica perfeitamente bem de onde vem toda sua dor.

É interessante ver tudo isso culminar em Ted Bundy – A irresistível Face do Mal e acompanhar todos esses lados de uma história que é fantasticamente real, porém extremamente malvada, chocantemente mal e vil.


“Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile” (EUA, 2019), escrito por Michael Werwi, à partir do livro de Elizabeth Kendall, dirigido por Joe Berlinger, com Lily Collins, Zac Efron, Angela Sarafyan, James Hetfield, Haley Joel Osment, Terry Kinney, Jim Parsons e Johns Malkovich


Trailer do Filme – Ted Bundy

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