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Soundtrack | Selton Mello e Seu Jorge estrelam drama meio perdido em sua racionalidade


Ao chegarmos no fim de Soundtrack percebemos que falta um pouco de alma ao projeto, o que torna sua conclusão, diferente do esperado, mais patética do que triste ou inspiradora.

Esse é o resultado de um roteiro e direção focados em muitas ideias racionalmente organizadas e pouco envolvimento emocional. Aquelas pessoas parecem irremediavelmente isoladas de tudo e de todos, e quando algum tipo de aproximação acontece, ela soa forçada, artificial e contra os princípios dos personagens já estabelecidos.

O roteiro e a direção são da dupla Manitou Felipe e Bernardo Dutra, que assinam o filme como 300ml e são responsáveis pelo curta (que já virou cult) Tarantino’s Mind, onde também estrelam Selton Mello e Seu Jorge. Aqui eles também fazem dois brasileiros, mas precisam falar inglês quase sempre porque vivem com mais três cientistas vindos de outros lugares do mundo.

Todos estão isolados nessa estação de pesquisa em uma área gelada e inóspita do planeta, e o companheiro de cabine do recém-chegado Chris (Mello), o britânico Ralph Ineson, possui uma filha e uma esposa que está grávida, mas há três meses vem acordando naquele inferno de gelo para coletar medições atmosféricas junto com mais centenas de pessoas espalhadas em volta do planeta. De acordo com o coordenador da estação, um chinês expatriado por usar a internet em seu país, esses cientistas possuem um instinto que todos deveriam ter: o sentimento de auto-preservação. Com isso sabemos que a proposta do filme parece flertar com uma mensagem ecológica, mas nunca chega a citar algo concreto, como o aquecimento global.

Chris não é um cientista nesse grupo, mas um fotógrafo. Ele veio experimentar uma forma de arte que une imagem e som. Sua exposição deve não apenas mostrar suas fotos, mas o que estava ouvindo no momento em que foram tiradas. Há um motivo melancólico de Chris para esse projeto, que é revelado mais pra frente, mas quando descobrimos soa como manipulação para nos emocionar.

Tudo, aliás, nessa história, não parece ocorrer como algo natural, mas inevitável. Chris não ganha a simpatia do grupo de imediato, mas não se trata de grosseria ou o esperado bullying contra alguém fora do grupo da Ciência. Todos são adultos, e provavelmente cada um com seus motivos para estar lá. A história tenta explorar mais os motivos do amigo do colega de quarto de Chris, mas mesmo ele no final ainda é uma incógnita. Sabemos uma coisa ou outra dele através de suas falas, mas eles não parecem convencer o suficiente.

E a mesma coisa acontece com o personagem de Selton Mello. Chris, quando sozinho, aparentemente está perdido e surtando, mas a forma com que o filme resolve mostrar isso e a forma com que Mello resolve vivenciar estão em claro descompasso com a história, que não sabe direito onde focar. O resultado é um processo burocrático que só resta acompanhar, mas que nunca gera drama ou tensão para o espectador. Até porque ninguém sabe ao certo qual o objetivo de Chris.

Soundtrack Crítica

O problema talvez é que nem o próprio Chris ao certo sabe o que veio fazer naquele isolamento forçado, o que torna sua história algo complicado de contar sem muitas pistas de onde ela irá chegar. Chris chega dizendo que quer se desconectar do mundo, mas está a todo momento tentando agradar as únicas quatro pessoas em sua volta. O rapaz está confuso, mas não fica engraçado. Apenas patético, embora dê o tom bem-humorado à história (onde aí a pequeníssima participação de Seu Jorge faz com muito mais propriedade).

O uso da trilha sonora aqui é uma outra incógnita. Utilizando momentos intensos, com a música tomando posse de algumas cenas com toda força e sendo cortada rudemente após isso, a lógica sonora do filme nunca parece fazer sentido, parecendo apenas uma distração estética. Considerando pelo título que ela deveria ser algo importante da história, ela mais confunde que ajuda. No máximo sua participação incidental demonstra que é possível mudar nossa percepção com sons. Ótimo. Isso já sabemos. Mas há uma cena sobre uma montanha que resolve explicar isso para o público leigo, só pra ter certeza.

A pergunta que fica é se Soundtrack poderia ser um filme melhor ou, dado o material, esse é o máximo que ele chega? Ele entretém, isso é verdade, e isso a despeito de suas esquisitices. Mas não nos mantém muito a par de por que estamos tão interessados em sua história. Se isso é uma virtude ou não, acredito que isso fica a cargo do espectador descobrir. E ele que escolha sua própria trilha sonora para curtir o momento.


“Soundtrack” (Bra, 2017), escrito e dirigido por 300 ml, com Selton Mello, Ralph Ineson, Seu Jorge, Thomas Chaanhing, Lukas Loughran


Trailer – Soundtrack

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