Sombra Lunar | Não inova, mas funciona muito bem


[dropcap]É[/dropcap] difícil qualquer ficção científica conseguir fazer algo diferente de tudo que já foi feito. Com isso em mente, descobrir uma produção do gênero que não tenta ser inovadora, mas trata com carinho um assunto tão divertido quanto viagem no tempo, é sempre um achado, como é Sombra Lunar, produção recente da Netflix.

O filme é dirigido por Jim Mickle, que já deixou de ser um jovem cineasta há alguns anos, mas que ainda não emplacou um projeto que o colocasse na mira dos holofotes. Sombra Lunar talvez ainda não seja essa oportunidade, mas pelo menos demonstra o quanto Mickle parece ser um diretor cuidadoso e preocupado.

Essa preocupação vem da própria história, já que o único jeito de carregar Sombra Lunar para fora da simples repetição é apostando naquilo que está por trás da trama, nesse caso, seus personagens.

O roteiro escrito por Gregory Weidman e Geoffrey Tock então começa bem e tem um primeiro ato impecável, misturando mistério, ação, um personagem tremendamente bem desenvolvido e um final sensível e humano. O que vem depois disso nunca chega à mesma altura, mas ainda assim segura bastante as pontas.

No filme, Boyd Holbrook (da série Narcos) vive o policial Lockehead, prestes a se tornar pai e tendo que encarar o turno da noite esperando pela oportunidade de se tornar detetive. “Locke” e seu parceiro Maddox (Bokeem Woodbine, que recentemente esteve em Troco em Dobro… praticamente no mesmo personagem) então caem de paraquedas nessa noite onde três pessoas são assassinadas quase simultaneamente e a única pista é uma mulher com um capuz azul.

O que vem depois disso tem uma perseguição ágil, um mistério divertido e algumas dicas valiosas para quem ainda não sabe que estava vendo uma ficção científica. As perguntas ficam sem respostas nesse primeiro momento e um drama pessoal empurra o protagonista para nove anos no futuro, onde uma nova série de assassinatos ocorrem e o leva a crer que a culpada seja a mesma, ainda que isso seja impossível.

Os segredos vão se amontoando e uma teoria de conspiração começa a ganhar luz. Um segundo momento que ainda tem fôlego para discutir alguns assuntos sócio-políticos, mas tudo isso precisa dar lugar a respostas e a amarração de fios soltos na outra metade do filme.

Para sorte dos espectadores, Mickle continua entregando um filme bonito, com uma câmera que tenta fazer algo diferente (como quando capota dentro de uma van, ou como se comporta limpa e leve quando olha para suas composições mais rebuscadas). O visual de Sombra Lunar então ajuda a passar o tempo, mas quanto mais surgem fases da lua, cientistas malucos e viagens do tempo, mais o filme precisa embarcar na trama íntima, porém espalhafatosa.

De qualquer jeito, e aqui se permitindo falar de alguns spoilers, Sombra Lunar parte de uma premissa interessante, daquela onde o famoso paradoxo temporal se entrelaça em uma árvore genealógica, mas é movido pelo, não menos famoso, “paradoxo temporal e moral”. Ainda que não se responda a ideia de se alguém teria coragem de matar o bebê Hitler, pelo menos busca a resposta que hoje muita gente no mundo deve estar pensando caso tivessem uma máquina do tempo: Você então mataria os líderes ideológicos de certos presidentes celebrados por movimentos racistas e supremacistas brancos?

Sombra Lunar é com isso um suspense que se apoia na ficção científica para provar uma ponto de vista ideológico enquanto prevê um futuro pouco tentador para quem está hoje vivendo ainda no presente. Nada disso é novidade no gênero, mas mesmo assim, ver tudo junto e ainda com um diretor competente é sempre uma ótima opção.


“In The Shadow of The Moon” (EUA, 2019), escrito por Gregory Weidman e Geoffrey Tock, dirigido por Jim Mikle, com Boyd Holbrock, Cleopatra Coleman, Bokeem Woodbine, Michael C. Hall e Rudi Dharmaligam


Trailer – Sombra Lunar

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