Sem Ressentimentos | A liberdade de cada um


Em entrevista durante a exibição de Sem Ressentimentos no Festival de Berlim, o diretor estreante Faraz Shariat descreve seu filme como um “activist popcorn cinema”, que mal traduzido poderia ser algo como “cinemão ativista”. É lógico que ele não está comparando seus filmes com algum Vingadores, por exemplo, mas sim com a proximidade de sua história com seu espectador.

Ele não está errado, Sem Ressentimentos é simples, fácil de encontrar um público interessado, ágil e tem um posicionamento claro e importante. O filme conta a história de Parvis (Benny Radjaiour), um jovem de ascendência iraniana, que decide roubar uma bebida em uma balada e acaba tendo que cumprir uma pena alternativa em um centro de refugiados. É nesse centro que ele encontra o casal de irmãos, Banafshe (Banafshe Hourmazdi) e Amon (Eidin Jalali) e disso nasce uma amizade e um amor que transformam a vida dos três.

É lógico que a ideia de ativismo de Shariat passa tanto pelo quanto Parvis e Amon precisam lidar com o preconceito, quanto com a problemática dos dois irmãos de conseguirem permanecer na Alemanha. Ambos lados da trama se encaixam sem muito esforço ou qualquer “barra forçada”, portanto, tudo anda leve e sem grandes dramas, o que deixa o filme extremamente agradável.

Parvis precisa fingir não ser gay nos primeiros dias de serviço comunitário, ao mesmo tempo que Shariat não esconde sua vida sexual desregrada, mas não o julga nesse momento, e sim expõe um preconceito dentro da própria situação, lembrando a todos o quanto ser um imigrante não sai de suas costas, mesmo em um ambiente onde estaria à vontade.

Sem Ressentimento é então formado por pequenos momentos que talvez sejam até autobiográficos, mas que se juntam em um sentimento de falta de liberdade. Os três personagens são fragilizados pela insegurança em que vivem. Em um mundo onde não parecem se encaixar, não por opção deles, mas do mundo ao seu redor.

Talvez seja até mais um filme brega sobre amadurecimento, daqueles que Hollywood gosta de chamar de “coming of age”, mas Sem Ressentimentos faz isso enquanto mostra o quanto a amizade desses três é a oportunidade deles próprios encontrarem essa liberdade. Enquanto um “popcorn movie” americano se contenta com o melhor vestido para o baile, a ideia aqui é mostrar que nem todo mundo tem essa possibilidade, alguns precisam enfrentar o mundo antes de se sentirem realmente livres.


“Futur Drei” (Ale, 2020); escrito por Faraz Shariat e Paulina Lorenz; dirigido por Faraz Shariat, com Benny Radjaipour, Banafshe Hourmazdi e Elidin Jalali


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