Sangue de Pelicano | Você não imagina onde irá chegar


Nem sempre a surpresa de não saber para onde se está indo é interessante quando estamos falando de cinema. Sangue de Pelicano não te diz nunca onde irá chegar, e quando chega, você também não entende muito como foi parar ali.

Talvez isso nem seja um problema, apenas um impedimento para fazer com que você acabe o filme pensando no quanto aquele caminho foi interessante e inesperado. Muito provavelmente, pois ele é inesperado demais.

O filme escrito e dirigido por Katrin Gebb conta a história dessa mulher que tem um haras que cuida dos cavalos policiais especializados em contenção de tumultos. E isso parece aleatório, mas acredite, faz sentido dentro das necessidades mais tardias do roteiro.

A mulher, Wiebka (Nina Hoss), vive no haras apenas com sua filha Nicolina (Adelia- Contance Ocleppo), mas isso está prestes a mudar, já que decide adotar uma garotinha, Raya (Katerina Lipovska). O problema é que a nova menina parece ter um problema de comportamento que extrapola o compreensível.

Sangue de Pelicano, na maioria do tempo, é então esse drama que caminha para tentar acompanhar o esforço dessa mulher para se tornar mãe dessa menina, custe o que custar. O problema é que a história aos poucos vai se tornando excentricamente pesada e sombria.

Não um terror simplesmente, mas sim uma jornada envolvendo fezes, abusos infantis e uma psicopatia que torna a jornada surpreendentemente sinistra. Isso sem contar um lado sobrenatural que não esconde dos espectadores quando percebe que a ciência não irá mais ajudar. E é difícil saber se isso irá agradar mais do que chatear quem ficar acompanhando essa história e ver essa transformação colocar o filme de cabeça para baixo.

Mas a diretora Katrin Gebb nunca expõe essas ideias como se estivesse caminhando para um lugar apelativo, mas sim como uma opção que aos poucos vai assimilando o desespero dessa mulher. Como se entendesse, assim como a mãe, que não pode haver barreiras para conseguir salvar essa garotinha que não tem culpa do passado quebrado (e extremamente tenebroso!).

O drama choca, tanto pelo quão fundo e aterrorizante pode chegar esse distúrbio da criança, quanto pelo desmoronamento da protagonista. Gebb mantém esse equilíbrio com um trabalho eficiente, mas que nunca se permite cair no fantástico só para impactar. Portanto, Sangue de Pelicano é um filme esteticamente rico, muito mais por contar essa história com segurança, mesmo diante da transformação de tom, do que por fazer qualquer coisa rebuscada só para chamar atenção.

Talvez a experiência de se surpreender só não seja tão eficiente, pois acaba perdendo um pouco de tempo demais com um ritmo lento e que torna o filme carregado e sem clímax. Cai nesse lugar que aceita um certo misticismo, mas, por não dar quase nenhuma dica disso durante todo o filme, parece enrolar um pouco mais que o necessário para aceitar sua própria ideia.

Mas Sangue de Pelicano não acelera, muito provavelmente, porque não quer. Sobra personalidade para o filme de Katrin Gebb, portanto, se a trama se joga nesse lugar meio maluco e obscuro, não faz por falta de opção, mas sim porque parece gostar da ideia de não precisar dar satisfação para ninguém. Sobra essa força em Sangue de Pelicano, portanto, não tente julgá-lo, no final das contas ele irá virar as costas para você e ir viver a vida dele.


“Pelikanblut” (Ale/Bul, 2019); escrito e dirigido por Katrin Gebbe; com Nina Hoss, Yana Amrinova, Katherina Lipovska, Christophe Jacobi e Adelia-Constance Ocleppo


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