Roubo nas Alturas

Antes de Eddie Murphy se fantasiar de um cara obeso, de sua família obesa e com problemas de flatulência, uma nave espacial em forma de gente e de uma mulher obesa, o comediante, praticamente, reinou supremo nos anos 80, e não sem razão para isso. Hoje, entre um punhado de péssimas escolhas, Murphy às vezes volta acertar, mesmo que Roubo nas Alturasnão seja lá essas coisas.

Dirigido por Brett Ratner, Murphy acaba então ganhando a chance de roubar meia dúzia de cenas e, quem sabe, ter uma segunda chance depois de tanta obesidade, o problema é que Ratner é um cineasta que, a cada filme, parece mais e mais conformado com uma certa mediocridade (no sentido claro de estar entre o melhor e o pior). Como se sentisse que fosse mais que suficiente agradar o espectador médio e, dessa vez, entregando então esse filme bobinho e descartável sobre um roubo atrapalhado.

A verdade é que Ratner, na falta de qualidades artísticas, não tem vergonha nenhuma de esbanjar um controle narrativo poderoso, que, sem muita cerimônia, manipula seu espectador do primeiro ao último frame e faz todos saírem do cinema com a impressão de terem visto um ótimo e agradável filme, mesmo que, para uma comédia, Roubo nas Alturas tenha pouca graça e, para uma aventura, acabe tendo pouco ritmo.

Como em um enorme jogo de Xadrez, Ratner sabe como posicionar todas as peças nesse tabuleiro, principalmente na hora de passear entre esses personagens na hora de apresenta-los. De cara, coloca sua câmera para olhar para essa enorme piscina em forma de uma nota de cem dólares (que terá um papel importante no desfecho surpresa) e criar essa dinâmica entre esses dois personagens, o dono da piscina (Alan Alda), um milionário que mora no topo de um dos prédios mais importante de Manhattan e o principal funcionário do condomínio (Ben Stiller). Sem a mínima sutileza, enquanto os dois jogam Xadrez, um deles até oferece “sua torre” para o outro, que promete vingança.

Alda e Stiller então são os dois pontos principais de Roubo nas Alturas, já que o milionário então é acusado de fraude, tem todos seus bens congelados e é obrigado a cumprir parte de sua pena em prisão domiciliar (enquanto aguarda o julgamento), do outro lado, Stiller se sente culpado por ter proposto ao mesmo que cuidasse de todo dinheiro da aposentadoria dos funcionários do prédio. Stiller então é despedido e se junta a mais dois outros ex-funcionários (Casey Affleck e Michel Peña) e um antigo morador despejado (Matthew Broderick) e resolvem tirar isso a limpo e assaltar o milionário, já que o FBI não foi capaz de encontrar onde ele enfiou todo dinheiro, e Stiller tem uma vaga ideia.

Para completar o time, Ratner então saca Murphy, esse criminoso (na verdade nem tanto assim) para ajudar o grupo a armar o golpe e Roubo nas Alturas se torna então o filme de roubo infantilizado (porém funcional) que prometia o tempo inteiro.

Roubo Nas Alturas

Daqueles mesmos que não desperdiçam uma só sketch (no caso de comédias) na hora de preparar a ação, que escolhem um personagem completamente imbecil (Peña) para ser motivo da maioria das risadas, que tem lá pelo seu fim uma reviravolta e que no final, mesmo sem se preocupar com qualquer credibilidade, dá aquilo que o espectador tanto almeja, um final surpresa onde todos acabam felizes. Por isso mesmo, Ratner não perde uma só oportunidade de, até o grupo se formar, mostrar a maior quantidade possível de iscas a serem pescadas pela trama da parte final do filme, o que até tornaria o filme alinhado se não fosse uma certa previsibilidade com que Ratner trata desses detalhes. Não são poucas as vezes em que Ratner prefere gastar enormes cenas mostrando um ou outro detalhe (vulgo mastigando a trama, para os mais íntimos) do que tentando ser engraçado ou apostando no próprio grupo de personagens, que na falta de coisa melhor, não desaponta em nenhum segundo.

E ainda que Peña seja demais o alvo da enorme maioria das piadas e Murphy pareça um pouco descontrolado dentro da personalidade desse bandido “meia-boca”, a seriedade com que Ben Stiller trata o protagonista acaba se encaixando perfeitamente no papel e Matthew Broderick impõe uma fragilidade interessante nesse ex-cara rico de Wall Street. Graças então a essa segurança do elenco que Ratner consegue que Roubo nas Alturas ganhe o espectador mais ainda, já que ninguém sai do cinema duvidando das ações e rumos de cada um deles, (até da dualidade de Murphy).

Mas nesse desespero de conquistar seu espectador e costurar todos esses detalhes, Roubo nas Alturas é enormemente prejudicado por uma trilha sonora pouco interessante, presente demais e que não permite que ninguém na sala de cinema tenha qualquer sentimento que não seja o dos acordes ao fundo (o que, ainda por cima, engana demais a todos em momentos que não são tão interessantes quanto realmente resultam para o público).

Já no caso dos detalhes, o roteiro de Ted Griffin (que já planejou um roubo bem mais interessante em Onze Homens e Um Segredo) e Jeff Nathanson (do horroroso Velocidade Máxima 2 e parceiro de Ratner nos dois últimos Hora do Rush), parece emocionado com todas as possibilidades (e reviravoltas) e acaba pouco se importando com sensatez da narrativa de certos momentos, como o da regra contra celulares no começo, que não tem a menor importância no resto do tempo, e até com a solução final que parece sair de um ponto “A” para um ponto “B” sem se preocupar com o caminho percorrido.

Mas como é de se esperar, Brett Ratner e sua capacidade de mascarar algo completamente besta em um resultado mais que divertido engana mais uma vez sua plateia, dá a Eddie Murphy uma nova chance de ser engraçado e segue firme dando a Hollywood o que ela mais sente necessidade: grandes números nas bilheterias. Até por que, nunca ninguém disse que isso era proibido.


Tower Heist (EUA, 2011), escrito por Ted Griffin e Jeff Nathanson, dirigido por Brettt Ratner, com Ben Stiller, Eddie Murphy, Casey Affleck, Alan Alda, Matthew Broderick, Téa Leoni, Michael Peña e Gabourey Sidibe

 

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