Querência | Não sabe o que fazer com sua beleza

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]Q[/dropcap]uerência, quem diria, é uma cidade de verdade, localizada no estado de Mato Grosso. Mas o que acaba não sendo nem de verdade, nem de mentira, é este filme escrito e dirigido por Helvécio Marins, que cria uma ficção com personagens da vida real, e demonstra uma das péssimas formas de unir duas formas de filme em um resultado insosso e sem alma.

Acompanhamos o drama de Marcelo Di Souza, um gerente de uma fazenda de gado que é assaltada. Cem cabeças de gado são levadas, o maior roubo de gado já registrado. É um caminho natural Marcelo se mudar, preocupado com sua segurança e desestimulado pelo acontecimento, e o filme enquanto acompanha essa mudança vai nos apresentando o ambiente do Centro-Oeste brasileiro e os outros personagens da vida real. No meio do caminho ele faz algumas críticas aleatórias sobre política que agrada algumas pessoas e este filme acaba ganhando prêmios (inclusive lá fora).

Querência tenta unir vida real e ficção gravando ou reproduzindo conversas durante sua história, mas a posição das câmeras, mais de uma, durante as cenas criadas, acaba revelando a “farsa”, mais ou menos o efeito contrário que a câmera única na mão tem, de evocar realismo. Esse estilo foi usado também em outro filme exibido nesta Mostra de São Paulo, E Em Cada Lentilha Um Deus, mas no caso do filme de Miguel Ángel Jiménez ele nos mantém presos na narrativa pela história pregressa do protagonista. Aqui não há esse artifício.

O que vemos neste filme não é muito diferente de outros filmes da região. Pessoas do interior isoladas da internet conversando dos estranhos hábitos do pessoal da cidade grande de chamar “tomar uma pinga” de “happy hour”, rodeios, o evento principal da cidade, e o roubo dos gados, o acontecimento da região, e que será comentada por muito tempo, já que praticamente nada acontece por estas bandas, como o ritmo lento e as tomadas de pores do sol repetitivas. Lindas, mas repetitivas.

É uma ode ao pequeno pecuarista brasileiro? Um mini-documentário sobre costumes da região? Uma tentativa de ficcionalizar a realidade? Talvez nenhum, talvez todos. Mas nenhum deles é o tema principal, desconhecido talvez até dos idealizadores. Mas Querência não mostra cenas ruins. Ele apenas não sabe o que fazer com elas.


“Querência” (Bra, 2019), escrito e dirigido por Helvécio Marins Jr., com Marcelo Di Souza, Kaic Lima e Carlos Dalmir.


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