Presságio de um Crime Filme

Presságios de Um Crime

Não tenha dúvidas que lugar de fofocas e “notícias” de bastidores não é dentro de uma crítica, mas acontece que em certos casos, o único jeito de entender o que deu errado no resultado final é se esforçando para entender o que rolou por trás das câmeras. Presságio de Um Crime é um desses exemplos.

E no centro dessa polêmica está o diretor brasileiro Afonso Poyart, que foi procurado por Hollywood após o sucesso do incrível 2 Coelhos. Poyart acabou com o roteiro desse Presságio de um Crime e com ele a responsabilidade de dar vida a um projeto que já passeava pelos corredores de Hollywood há muito tempo. Diz-se até que (via IMDB) a ideia inicial era fazer desse uma continuação direta de Seven, onde o personagem de Morgan Freeman ganharia habilidades psíquicas e estragaria o legado do filme de David Fincher.

Por sorte isso nunca aconteceu, mas a história acabou caindo nas mãos de Anthony Hopkins, que se apegou ao projeto e ficou com o papel do cara com poderes da mente. No caso, um ex-consultor do FBI que se afasta do mundo após a morte da filha por leucemia. Mas essa aposentadoria tem fim quando uma dupla de agentes vividos por Jeffrey Dean Morgan (aquele que morre em todas séries e filmes que faz) e Abbie Cormish (que tem a beleza que uma estrela precisa, mas que compensa isso uma total inabilidade de atuar) dá de cara com um serial Killer misterioso e vai até o médium pedir ajuda.

O filme então cai no marasmo de uma investigação meio sem pistas e um assassino que parece sempre estar um passo à frente deles. O tal vilão só dá as caras bem lá para o final, então não vem ao caso falar muito sobre ele, mas são suas motivações que ao surgirem dão uma reviravolta na trama, já que criam uma discussão moral que faz o filme ganhar um pequeno fôlego (e que, curiosamente, não é uma surpresa para quem der de cara com o título original “Solace” que é português é algo como “Consolo”). Mas nada de muito empolgante, e a impressão que dá é que essa falta de interesse se dá justamente pela falta daquele Afonso Poyart de 2 Coelhos.

Presságios de Um Crime Crítica

Ao que tudo indica, Poyart então é vítima de uma outra trama envolvendo Sir “Tony” Hopkins, que pouco deixou que o diretor brasileiro trabalhasse de verdade. É lógico que de modo diplomático Poyart apenas cita em suas entrevistas o quanto “Tony” é “meio” complicado, mas é impossível ver o filme e não perceber o quanto certos momentos foram extirpados de suas mãos.

Enquanto tem poder sobre seus atos, Poyart vai em busca da força de suas composições e até de alguma referências estéticas ao próprio Fincher, como nas duas cenas iniciais onde descobrem uma vítima e depois sua câmera observa do alto de uma escadaria Morgan telefonar. No resto do tempo (literalmente), o brasileiro só parece surgir nas pequenas visões que o personagem de Hopkins têm e em dois momentos em que o espectador acompanha como funciona o poder do personagem ao escolher que caminho no futuro ele pode escolher. Durante as clarividências, Poyart pode brincar com símbolos e um visual que embaralha a percepção, no resto do tempo, Presságios de Um Crime parece dirigido por algum diretor de segunda unidade.

Burocrático, pesado e sem a menor sensibilidade estética, todo o resto soa muito mais como uma imposição de estúdio (ou do Sir Tony) do que como um trabalho de um diretor que já provou suas capacidades e de jeito nenhum erraria de modo tão pobre e simplista. O resultado disso é um filme que se arrasta em uma trama linear e com poucas reviravoltas, que não consegue com o pouco material que tem, pelo menos ganhar alguns pontos na mão de um bom diretor, ao contrário, desperdiça-o do mesmo jeito que Hollywood adora fazer.

Para a sorte do filme, a reviravolta do terceiro ato faz o espectador discutir um monte de pontos éticos que permeiam a vida de todos, o que fará muita gente sair do cinema tentando aceitar ou não as motivações do assassino, situação que entrega ao filme uma sobre-vida que não deixará muito gente falar tão mal de Presságios de Um Crime a ponte dele se tornar um fracasso. Por outro lado, essas mesmas pessoas sairão do cinema sem ter a mínima ideia do filmaço que poderiam ter visto caso tivessem deixado Poyart fazer seu filme.


“Solace” (EUA, 2015), escrito por Sean Bailey e Ted Griffin, dirigido por Afonso Poyart, com Jeffrey Dean Morgan, Colin Farrel, Abbie Cornish e Anthony Hopkins.


Trailer – Presságios de um Crime

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