Para Sempre Alice Filme

Para Sempre Alice

No decorrer do filme esqueci completamente de Julianne Moore. Sim, é claro que a atriz estava ali, e não é difícil capturar seus trejeitos característicos. Porém, determinada em criar uma personagem Para Sempre Alice Posterunidimensional que representasse a espécie humana como seres individuais e efêmeros, apenas Alice existia, e deixava de existir, assim como cada um de nós. A diferença entre nós e Alice simplesmente é o ritmo. Todos nós iremos nos extinguir. Nossas memórias, pensamentos, sentimentos e aquele “algo a mais” que podemos ou não acreditar irão evaporar em átomos que não conterão sequer uma pista do que foram no passado: aquele ser orgânico dotado de consciência e raciocínio só existiu por um momento. A força contida em Para Sempre Alice é que, para ela, a cada momento esse processo de morte acontece repentinamente, e um dia pode ter a duração de um mês. Aumentando o ritmo, esse processo que todos nós sofremos se torna extremamente dramático.

Alice foi diagnosticada com Alzheimer precoce, um problema genético que além de tudo é hereditário. Aos poucos palavras irão sumir de seu vocabulário. Depois, momentos. Mais tarde, nem o banheiro será um lugar fácil de encontrar. Seu mundo vai desmoronando de dentro para fora, e a atuação de Julianne Moore ganha méritos por não se intrometer no processo, mérito esse que pode se estender para seus familiares. Um conjunto de pessoas genérico que não possuem nada de mais em suas personalidades, além de seu marido se manter sempre estranhamente distante de sua esposa, mesmo depois de revelada a doença.

Para Sempre Alice ganha um formato menos de melodrama – como se poderia esperar pela história – e mais de metáforas da vida moderna. Por exemplo: antes apenas um joguinho de palavras, o celular se torna o principal e primordial companheiro do dia-a-dia de Alice, que ironicamente é uma estudiosa de linguística e fascinada por comunicação. Cada vez mais os diálogos cara-a-cara perdem o sentido, o que é natural quando precisa-se fazer a mesma pergunta dezenas de vezes durante a mesma conversa. Em contrapartida, cada vez mais informações vitais vão se acumulando nos gadgets eletrônicos, inclusive instruções para um futuro suicídio caso a protagonista não se lembrasse de coisas básicas como o mês de seu aniversário.

Para Sempre Alice Crítica

O que nos leva à falta de jeito dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland em conseguir tomar as rédeas da história e argumentar a respeito do que acontece na narrativa, tornando alguns momentos arrastados pela repetição de fatos. Para compensar, a sequência dramática em que Alice precisa subir as escadas e seguir uma série de instruções é um ponto alto, assim como o uso de uma profundidade de campo reduzidíssima após uma corrida em que ela passa mal e onde as pessoas em volta viram borrões não-identificáveis. O ritmo empregado na passagem do tempo também é impecável, pois dá ao espectador parte da sensação de estar perdido e não conseguir situar-se no tempo e nos espaço.

O que é um sentimento comum, embora não-crônico. Para Sempre Alice aproveita dos sintomas que todos nós já sentimos pelo menos uma vez na vida para trazer a personagem para perto de nós, enquanto ao mesmo tempo somos obrigados a acompanhar o horror de ver nossas memórias serem perdidas para sempre. Como bônus, a última fala da personagem nos enche de uma esperança vazia com perfeição. Afinal de contas, não somos apenas um punhado de informações espalhadas em nossas cabeças e na internet. Como seres orgânicos dotados de consciência, temos emoções, e mesmo que durem apenas o momento presente, isso é nosso, naquele exato aqui e agora. Pelo menos aconteceu.


“Still Alice” (EUA, 2014), escrito por Richard Glatzer, Wash Westmoreland e Lisa Genova, dirigido por Richard Glatzer e Wash Westmoreland, com Julianne Moore, Kate Bosworth, Alec Baldwin e Kristen Stewart.


Trailer – Para Sempre Alice

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