Os Boxtrolls Crítica

Os Boxtrolls

É muito difícil assistir a Os Boxtrolls e se dar conta que aqueles efeitos foram forjados na boa e velha arte do stop-motion: capturar mais de vinte fotos de bonecos em cima de uma maquete paraOs Boxtrolls Poster gerar um segundo de filme.

Essa dificuldade em enxergar o truque é resultado do cuidado admirável dos seus criadores. Os detalhes da pitoresca cidade de Ponte Queijo vão até no nome das ruas (a rua Leite termina na Coalhada), mas ganham o primor mesmo através dos seus personagens cuidadosamente desenhados. Claro que, com seu toque lúdico, as imperfeições dos seres que usam caixas para cobrir o corpo – daí o nome deles – passam despercebidas ou podem até lembrar algum efeito de pseudo-realismo no computador, criando uma estranha e fascinante sensação.

Mas Os Boxtrolls não é apenas suas qualidades técnicas. Sua narrativa inclui de maneira nada sutil metáforas da vida adulta. A obsessão do vilão de possuir um chapéu branco, por exemplo, é a velha sede de poder de todo ser humano, mesmo que esta esteja disfarçada do privilégio de provar dos queijos mais finos. Da mesma forma é divertido observar uma espécie de paródia infantil a respeito da típica incompetência e miopia do Estado, que antes de se preocupar com a construção de mais escolas prefere dirigir seus esforços para a edificação de um gigantesco queijo. Não é nada difícil encontrar paralelos entre países de população miserável financiando gigantescos projetos menos prioritários como eventos esportivos ou internet “de graça”.

Os Boxtrolls

A história principal gira em torno de convencer a todos da cidade que os Boxtrolls não são monstros, ou pelo menos não da forma com que seus exterminadores os pintam. A tal da propaganda enganosa com ares de propaganda política. O fato desses bichos serem bem estranhos e viverem debaixo da terra ajuda a criar preconceitos. Usarem caixas como roupa e roubar objetos da superfície também. No entanto, seu maior mito – o de comerem bebês – é de fato um mito, e é justamente esse o pilar para o discurso de ódio dos vilões.

Arriscando seu tom lúdico de maneira certeira em uma ou duas cenas talvez fortes demais para as crianças, Boxtrolls sai um pouco daquele mundo tão revisitado por Disney, Pixar e Dreamworks e tenta explorar melhor uma história que caminha bem na maioria do tempo entre o mundo adulto e infantil, apesar de ter pouco apelo emocional no quesito “fofura”. Em compensação será bem-vindo por crianças que, assim como eu, me divertia com uma ou outra reviravolta mais séria. Afinal de contas, até uma criança entende quando um político mente descaradamente.


“The Boxtrolls” (EUA, 2014), escrito por Irene Brignull e Adam Pava, à partir do livro de Alan Snow, dirigido por Graham Annable e Anthony Stacchi, com vozes de Ben Kinglsey, Jared Harris, Nick Frost, Richard Ayoade e Tracy Morgan


Trailer – OS Boxtrolls

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