Operação Sombra – Jack Ryan

Criado pelo escritor norte-americano Tom Clancy, o personagem Jack Ryan protagoniza vários de seus livros, alguns deles adaptados para o cinema. Assim, Chris Pine (o novo Capitão Kirk) é o quarto ator a interpretar o agente, depois de Alec Baldwin, Harrison Ford e Ben jacl-ryan-posterAffleck. Operação Sombra – Jack Ryan é, porém, o primeiro longa com este protagonista que não é adaptado diretamente de um livro (mesmo com todas diferenças entre as adaptações anteriores e o material original), e se estabelece como um reboot da série nas telonas. Enquanto Pine se mostra uma boa escolha para o agente, o resultado final não empolga o bastante, e é difícil imaginar o surgimento de uma bem-sucedida série de filmes a partir desta primeira tentativa.

Em um prólogo corrido que, apesar de explicar como Ryan se envolveu com a CIA, não consegue estabelecer as motivações do protagonista, acompanhamos a ida do personagem ao Afeganistão depois dos atentados de 11 de setembro. Lá, ele sofre um acidente de helicóptero que lhe garante meses de fisioterapia – onde conhece a estudante de Medicina Cathy Muller (Keira Knightley), que logo desperta seu interesse e, após o fim de seu tratamento, engata um namoro. Ryan também chama a atenção do oficial da CIA Thomas Harper, que o convoca para analisar investimentos suspeitos em Wall Street em busca de atividades terroristas. Ele logo passa a suspeitar de um grupo de investidores russos, liderados por Viktor Cherevin (Kenneth Branagh) e, enfim em Moscou, Ryan descobre que Cheverin tem um plano para desestabilizar a economia norte-americana.

Carregando o filme com carisma, Pine mostra bem a mistura de falta de experiência em campo e uma certa arrogância de Ryan, necessária para que acreditemos (dentro da lógica de um filme de ação, claro) que um estudante de economia possa salvar heroicamente dois homens de um acidente de helicóptero. Já Branagh se diverte como Cherevin, criando um vilão nada sutil, que peca apenas por se mostrar ingênuo demais em alguns momentos, algo não condizente com seus planos mirabolantes e sua experiência na área. Ele se sai bem também na direção e, mesmo não fugindo muito do que já foi visto inúmeras vezes no gênero, consegue criar cenas de ação eficientes e até mesmo utiliza alguns movimentos de câmera inesperados, tornando o longa ágil.

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Mesmo assim, o roteiro de Adam Cozad e David Koepp é o ponto mais fraco do longa e, ao criar um espião que trabalhava de uma mesa e que, subitamente, se vê envolvido com tiroteios e perseguições, a passagem de Ryan pelo Afeganistão, por exemplo, mostra-se, de certa forma, desnecessária, ainda mais levando-se em conta a brevidade com que acompanhamos aquele momento. Os roteiristas acertam, por outro lado, de estabelecer Cathy como mais do que apenas “a garota do herói” ou “a donzela em perigo” (mesmo a colocando em perigo), e Knightley também cria uma personagem interessante e carismática, além de ter uma boa química com Pine e, assim, realmente mostrar o quanto Ryan se importa com a médica. Por outro lado, Ryan, descrito por um colega como tendo um olhar constante de “escoteiro indo acampar”, é mais ácido em teoria do que na prática, e percebe-se que a essência desta versão do personagem não conseguiu ser totalmente refletida na obra.

Se por um lado a trama simples evita que o filme se torne desnecessariamente confuso, as soluções surgem tão facilmente que é difícil entender como aquela missão se tornou tão perigosa – apenas algumas horas depois de chegar em Moscou, Ryan já entende todo o plano dos antagonistas, e as constantes epifanias do protagonista soam patéticas. E não é só a inteligência dele que sofre com o roteiro – em certo momento, Cathy parece ter notado algo aparentemente importante e surpreendente em uma tela de computador, quando a informação era óbvia e deveria já ter sido notada pelos agentes que analisavam as imagens.

Falhando também ao tentar criar conflitos internos para o vilão e com uma cena de encerramento excessivamente patriótica, Operação Sombra consegue prender a atenção durante seus 105 minutos de duração, mas nada que justifique possíveis (ou melhor, prováveis) sequências. E, com um elenco talentoso interpretando personagens interessantes que não pudemos realmente conhecer, permanece menos a vontade de encontrá-los de novo e mais a frustração pelo trabalho raso feito com eles.


Jack Ryan: Shadow Recruit, escrito por Adam Cozad e David Koepp, dirigido por Kenneth Branagh, com Chris Pine, Kenneth Branagh, Keira Knightley e Kevin Costner.


Trailer do filme Operação Sombra – Jack Ryan

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