Oferenda à Tempestade | Fecha a trilogia, mas não vai além disso


Quase sempre o terceiro filme de uma trilogia serve para alinhar as pontas soltas e tentar amarrar pelo menos algumas delas de modo minimamente satisfatório. Oferenda à Tempestade é o último dos três filmes focados da região do Vale de Baztan, pedacinho do “País Basco”, no norte da Espanha. Os livros foram escritos por Dolores Redondo e viraram produções da Netflix em 2017, 2019 e agora.

Como é de se esperar, Oferenda à Tempestade não está tão preocupado com uma trama que o torne único, mas sim um fiapo que o permita deixar feliz os fãs da série tão cheio de perguntas. As principais delas, ligadas à família da protagonista Amaia Salazar (Marta Etura), serão desvendadas, mas não crie muitas expectativas, muita coisa ainda vai ficar para a imaginação dos espectadores (ou quem sabe para uma sequência).

A trama adaptada por Luiso Berdejo começa um pouco mais direta do que os outros dois filmes, jogando Amaia direto na ação enquanto ela e sua equipe perseguem um homem com seu filho bebê morto em uma mochila. O estilo mais pesado e sinistro do início não se permite ser mais tão visual no resto do filme, mas o tom segue esse caminho. Amaia dá de cara com uma seita esquisita e ainda mais com os segredos de sua família. E lógico, sem esquecer desse tom místico que parece rodear toda trama.

Talvez esse misticismo, esse tom extraordinário, não largue o pé de Oferenda à Tempestade durante todo percurso, e isso é ótimo para a história, já que faz com que tudo seja mais misterioso, compensando a falta de uma trama mais complexa. Essa ideia esfíngica já estava por lá nos outros dois filmes, mas ambos tinham uma história mais independente, portanto agora isso só ajuda no clima, ainda que, como os bons mistérios do mundo, você não irá acabar o filme com certezas.

Muito provavelmente responder essas perguntas iria fazer mal para o filme, já que todo mundo gosta de um bom mistério. E a intenção da história é, acima de tudo, resolver a trama da família Salazar, e logicamente ela esbarra nesse novo caso de Amaia. Mas nada de muito empolgante, pelo contrário, um tanto quanto rocambolesco, apressado, conveniente e tão cheio de “segredos e mentiras” que o resultado é mentalmente cansativo, afinal, é muita informação, muitos personagens, muitos acontecimentos e a falta de um fio central mais poderoso. O final é obvio e não surpreende, mas é um final, então tudo bem.

Sobre o monte de personagens, ironicamente  talvez isso também seja um dos pontos mais interessantes da história, já que pela primeira vez na trilogia, Amaia não parece sozinha na polícia. Tanto seu parceiro Etxaide (Nene) ganha mais espaço, como seus outros companheiros, uma dinâmica interessante e que dá à protagonista a oportunidade de desenvolver melhor a personagem ao invés de, simplesmente, não ir encavalando descobertas e mistérios.

Felizmente, o trabalho do diretor Fernando González Molina ajuda. Talvez nem tanto quanto nos outros dois filmes, onde parecia ter mais material para criar um ritmo de suspense e uma tensão no ar, mas seu filme continua sendo bonito, amplo, aproveitando bem os cenários locais e sempre dando aquela (boa) forçada de barra na hora de criar um incômodo estético com alguns detalhes mais “pesados” da trama, já que o “bebê na mochila” é só o começo dessa jornada com pitadas de terror.

Tudo bem que tem uma hora que a paciência não dá mais conta de tanto carro andando nas estradas escuras sem que aconteça nada, assim como fica uma impressão de que o diretor gostaria de mais uma meia hora de filme para explorar certos assuntos que ficam meio “jogados” (como a construção do vilão, o passado da tal seita e até algumas opções mais místicas). Mas nada disso atrapalha a diversão de quem veio acompanhando todas essas histórias com guardiões misteriosos, ossos, bruxaria, sacrifícios e um final em meio a um cemitério basco. Pelo menos entregando tudo aquilo que prometeu ao seu público desde o começo.


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“Oferenda a la Tormenta” (Esp/Ale, 2020); escrito por Luiso Berdejo, a partir do livro de Dolores Redondo; dirigido por Fernando González Molina; com Marta Etura, Leonardo Sbaraglia, Nene, Francesc Orello, Itziar Aizpuru, Benn Northover, Patricia Lopez Arnaiz e Elvira Mínguez


Trailer do Filme: Oferenda à Tempestade

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