O que acontece quando o Hassum fica magro | Editorial

O que acontece quando o Hassum fica magro | Editorial


Acabei de ver o trailer de Internet: O Filme e, além da narração do cara do Havaiana de Pau e dois ou três comediantes (de verdade), não reconheci ninguém. Longe disso ser um contratempo, não seria o primeiro filme que eu não conheço o elenco, o problema é que nesse caso acho que a ideia é bem diferente. Todo mundo ali é bem famoso… bom pelo menos para os padrões da tal da internet.

E novamente, isso não é um aborrecimento, é apenas uma constatação. O cinema não é feito somente de grandes produções, histórias inspiradoras, comedias inteligentes etc., também é construído em cima de uma ou outra bobagem. Mais que isso, no mundo que vivemos (não adianta fugir nem ser hipócrita), o cinema é feito de resultados. Feito de cifras.

Então por que não aproveitar essa moda de yotubers adolescentes que pouco tem a falar a não ser algumas frases de efeito sintéticas misturada com uma revolta sem valor (Ok… isso foi uma crítica a esses rapazes)? Semana que vem estreia Eu Fico Loko, com outro desses fenômenos, e com certeza fará tanto sucesso quanto o Internet fará. E não se surpreenda se na sequência mais alguém saído da frente das webcans levar seu discurso para frente das telas.

Ok… taí o trailer o Internet – O Filme.

Se você ai do canto levantou a mão e gritou “Kéfera”, amigão você também foi enganado, a moça sempre foi uma atriz e só usou você e o Youtube para abrir caminho para sua carreira nos palcos e telas. Mas isso quase não vem ao caso. O que é preciso levar em conta é o que o cinema brasileiro está fazendo. E eu te respondo: até agora, só besteira.

É como se os youtubers tivessem se tornado o novo Leandro Hassum. E uma previsão: mais cedo ou mais tarde eles também irão emagrecer e perder a graça.

E quando eles perderem a graça o que as distribuidoras farão? O pessoal do Porta dos Fundosdemonstrou esse ano que não empolga tanto assim nas bilheterias (nem em grupo, nem separados), o Paulo Gustavo fingindo ser sua mãe também não deve ter um futuro tão longo assim (assim como os programas de auditório do Multishow não devem dar certo nas bilheterias sem a presença do Paulo Gustavo). Enfim, pode acreditar, tudo pode ficar pior diante de uma certa cegueira das distribuidoras (e da Globo Filmes).

Em 2016 foram 114 filmes nacionais lançados no circuito comercial e somente um deles conseguiu atingir a barreira dos mais de 100.000.000 reais de bilheteria, Os Dez Mandamentos, e como a polêmica de sua estreia bem mostrou, muitas dessas poltronas estavam vazias. O filme bíblico da Record ficou em quarto entre as maiores bilheterias do ano no Brasil, o segundo melhor colocado nacional só apareceu na 19° posição, e tinha o Paulo Gustavo imitando a própria mãe (Minhã Mãe É Uma Peça 2).

Mas não se engane, estrearam nas salas de cinema do Brasil 26 comédias, quase 20% delas tinha alguém do Multishow na ponta do elenco (O Paulo Gustavo estava em duas). Pouco menos que isso, quatro, tinham ou o elenco inteiro do Porta dos Fundos ou algum de seus integrantes. A Kéfera, coitadinha dela, esteve na boca dos puristas mas só esteve em um filme (Ok, ela era uma Fada nele, o que já foi ruim o bastante para o The Rock, imagina para ela).

De destaque nisso tudo? Quase nada.

Do outro lado da equação, são 57 lançamentos, sem contar 31 documentários. Mas da maioria desses, você talvez nem saiba. E ai está o erro. Sem você, espectador médio e amante do cinema em geral, ter contato com esses filmes, como você irá vê-los? Pior ainda, você pode ser um amante de filmes de terror e suspense, daqueles que escolhe filmes na fila da bilheteria pelo gênero, e nem saber que em 2016, nove filme que se encaixariam em seu gosto deram as caras nos cinemas e você nem viu.

Recentemente Carolina Dieckman estrelou o suspense, O Silêncio do Céu, assim como o recém-falecido Domingos Montagner foi a estrela de Através das Sombras. Isso sem contar o purista O Diabo Mora Aqui. Mas o que esses três filmes tem em comum além de estarem tentando vencer dentro de um gênero pouco valorizado? Simples, a falta de atenção.

Ainda que seja complicado descobrir em quantas salas cada um desses filmes foram lançados, pode crer que alguns deles não chegaram nem a uma dezena delas. Isso enquanto Eu tô Ryca deve ter feito às centenas e o filme do Porta dos Fundos umas três ou quatro vezes isso.

Dos 114 filmes nacionais lançados no Brasil, mais da metade deles foram dramas com distribuições extremamente pequenas e que passaram despercebidos por grande parte do público.

E ainda que os yotubers se tornem os novos sucessos do cinema, as distribuidoras que estão bancando isso estão olhando para o lado errado. Com um investimento muito menor, caçar meia dúzia desses dramas e bancar seus lançamentos de modo coerente com sua qualidade pode até dar menos dinheiro a curto prazo, mas cria um mercado muito mais forte.

O futuro do cinema nacional não está nos youtubers, Porta dos Fundos ou no Paulo Gustavo (assim como nunca esteva nos quilos a mais do Leandro Hassum), o futuro do cinema nacional está na incrível diversidade do nosso cinema, falta só as distribuidoras terem um pouco mais de coragem para investir nesse pessoal que já está fazendo muito com muito pouco em mãos.

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