O Protocolo de Auschwitz | Obrigatório para ninguém esquecer


História baseada em fatos registrados sobre a fuga de dois judeus eslovenos do campo de concentração nazista mais famoso, em O Protocolo Auschwitz a chave é a direção sóbria de Peter Bebjak que entrega uma visão fatalista, claro, pois todos sabemos o desfecho geral da segunda guerra, mas ao mesmo tempo realista. E não estamos falando daquele realismo dramático.

A câmera de Bebjak acompanha esses dois heróis e seus companheiros pelo pesadelo de olhos abertos que essas pessoas viveram nesses duros dias de um passado que vai se tornando cada vez mais apagado na memória do povo. Para atingir esse efeito não existe música durante boa parte do filme. A trilha sonora só começa a comentar o drama quando voltamos ao mundo civilizado e existe espaço para algum lazer, nem que seja ter alguns coisa familiar para comer.

Acompanhando os poucos tons de uma história brutal, a fotografia de Martin Ziaran se limita a esboçar tons de vermelho que surgem de maneira sobrenatural sobre os personagens. É como se eles literalmente estivessem em uma versão do inferno na Terra. E, assim como a música, isso só muda no terceiro ato. Mas muda do vermelho infernal para o melancólico, desesperançoso, cínico, frio e conveniente azul. E mais uma vez o espectador não vai se surpreender, pois esta é uma história sem final feliz.

A parte mais linda, embora manjada, são as microtransiçōes entre cenas. Em um dado momento um prisioneiro é torturado com chicotadas. Enquanto o capataz executa a violência há um rápido avanço no tempo e vemos ele efetuar o mesmo movimento para presos enterrados até o pescoço. Ele esmaga o crânio de um deles. A mensagem é clara: uma vez que a violência atinge um certo limite o discernimento entre os tipos de dor e sofrimento vira uma questão de gosto do torturador, que usa sua ferramenta de controle mecanicamente.

É importante ressaltar que o final anti-climático não foge do tema inicial, pois os nazistas aqui não são retratados com aquela caricatura de sádicos sedentos por sangue. No mesmo ritmo da diplomacia dos aliados, da burocracia dos americanos e da fuga conveniente da mídia, os alemães estão apenas dançando no ritmo que lhes foi imposto. E o único ponto condenável ou discutível do filme é tornar algumas cenas consideravelmente lindas. A estética dos enquadramentos e das sombras evoca momentos enquadráveis daquele universo arredio. Curioso de se ver, bonito como cinema. Mas condenável do mesmo jeito.

Você talvez esteja se perguntando por que mostrar mais do mesmo, já que filmes retratando o holocausto foram lançados “ad nauseam”. É verdade. Porém, cada novo filme lança uma luz à realidade vigente. E a realidade da vez é acreditar que a história se repetirá em breve com outras minorias, ou até novamente com os judeus. Durante os créditos finais ouve-se diversas falas imbecis, ou ditas por imbecis ao redor do mundo. Pessoas defendem a teoria que essas falas sejam discurso de ódio, e portanto sujeito a censura. E por isso, mais um filme sobre holocausto nunca é apenas um filme sobre holocausto. Está embutido com ideologia política e documentando nossa… curiosa época. Nisso, sim, podemos dizer que é mais do mesmo.


“The Auschwitz Report” (Slo/Cze/Pol/Ale, 2020); escrito por Peter Bebjak, Tomás Bombík e Jozef Patéka, a partir do livro de Alfred Wetzler; dirigido por Peter Bebjak, com Noel Czuczor, Peter Ondrejicka, John Hannah, Wojciech Mecwaldowski, Jacek Beler, Michal Rezný e Kamil Nozynski


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