O Lobo do Deserto Filme

O Lobo do Deserto

Com sensibilidade, O Lobo do Deserto conta a história de amadurecimento do jovem Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat), um garoto com um nome que significa “lobo” e que embarca em uma jornada pelo deserto. De forma simples mas eficiente, o represente da Jordânia na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar pode não ser um grande filme mas, certamente, possui méritos que o fazem uma obra interessante.

Ambientado no período em que tanto a Revolta Árabe — em que nacionalistas árabes lutaram contra o Império Otomano — quanto a Primeira Guerra Mundial aconteciam, o longa acompanha, dentro desse contexto, o garoto Theeb, que mora com seus dois irmãos mais velhos em uma tribo no deserto. O pai deles, morto recentemente era um conhecido sheik; sua reputação atrai a atenção de um árabe que viaja ao lado de um misterioso inglês. Os visitantes querem ajuda para chegar a seu destino, que percorre uma perigosa trilha abandonada. Isso acaba por deixar Theeb sozinho no deserto e longe de casa.

Assim, o personagem-título nos leva em uma jornada, inicialmente, da coragem e da determinação de seu irmão Hussein (Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen) em cumprir a tarefa de guiar os visitantes em segurança, mesmo conforme a missão parece se tornar cada vez mais perigosa, enquanto o próprio Theeb insiste em também correr esse risco por não querer se distanciar de seu amado irmão. Depois, passamos a acompanhar a saga do garoto em sua tentativa de voltar para casa — o que, em certos momentos, parece não passar de um sonho impossível.

Comandando a obra com segurança, o diretor Naji Abu Nowar (que, ao lado de Bassel Ghandour, também assina o roteiro) faz de seu primeiro filme uma produção que tira proveito de sua locação desértica para criar planos longos através de uma câmera discreta que, ao mesmo tempo que traduz toda a beleza e grandiosidade do deserto, também deixa claro os perigos que ali podem se esconder. Por outro lado, em certos momentos, parece que estamos vendo aquelas imagens simplesmente para percebermos o quanto elas são imponentes, e não realmente porque acrescentam algo à obra. E o ritmo lento, que funciona tão bem nos momentos mais introspectivos, por outras também torna o filme um tanto arrastado em determinadas passagens.

Mas o coração de O Lobo do Deserto reside na bela construção do personagem-título e, claro, na atuação do pequeno Al-Hwietat. Se percebemos logo no começo da trama que Theeb é um garoto sensível e averso à violência, por outro lado, ele também é determinado e ávido para provar-se para a família. Assim, o momento em que ele escapa de um poço para enfrentar o deserto, sozinho, é forte e emocionante, justamente por ele fazê-lo de força tão centrada: o garoto analisa sua situação por determinado tempo e, então, simplesmente encontra uma forma de sair dali.

O Lobo do Deserto Crítica

Também é muito importante que, apesar de Theeb enfrentar situações desesperadoras e violentas e, assim, ser forçado a tomar decisões igualmente desesperadoras e violentas, ele jamais perde sua humanidade ou sensibilidade; o que o move é sempre o desejo de voltar para casa e reencontrar sua família e sua tribo. Assim, mais do que demonstrar que todos podemos “nos tornar lobos” quando preciso, o filme não destrói a personalidade, a essência do garoto para que ele consiga encontrar essa coragem e garra dentro dele — o que faz de sua história uma saga otimista, mesmo que dura.

Demonstrando de forma discreta mas eficiente os efeitos que a situação política causaram na vida da gente comum do país, O Lobo do Deserto se refere à locomotiva que “arruinou tudo” quase o tempo todo como “burro de ferro”, o que representa também a forma como aquele povo simples começava a lidar e a perceber as mudanças ao seu redor. E não precisamos de letreiros ou diálogos expositivos para entender melhor o que está acontecendo ali — afinal, vemos tudo através dos olhos de uma criança que está apenas começando a descobrir o mundo.

O Lobo do Deserto se estabelece como um retrato eficiente de que não é preciso esquecer a sensibilidade para crescer, e que acontecimentos dramáticos não definem a vida de alguém para sempre — enquanto também mostra a força que surge dentro de nós quando precisamos dela. Embalado em cenários deslumbrantes e ameaçadores explorados com eficiência, portanto, esta é uma produção que merece ser conferida.


“Theeb” (Emirados Árabes Unidos/Catar/Jordânia/Reino Unido), escrito por Naji Abu Nowar e Bassel Ghandour, dirigido por Naji Abu Nowar, com Jacir Eid Al-Hwietat, Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen, Hassan Mutlag Al-Maraiyeh e Jack Fox.


Trailer – O Lobo do Deserto

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