O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Logo de cara o melhor mesmo é acabar com o “elefante no canto da sala” e dizer que os 48FPS (48 Frames Per Second) são sim uma adição incrível e uma tecnologia que pode se tornar inovadora (revolucionária?), e O Hobbit: Uma Jornada O Hobbit Poster FilmeInesperada é o lugar perfeito para “testar” essa “realidade aumentada”. E isso só acontece, pois o começo de mais uma trilogia inspirada pelos livros de JRR Tolkien, funcionaria em 48FPS, 24FPS, com ou sem 3D, preto e branco e, quem sabe, até mudo.

Para resumir um assunto que mereceria muitas e muitas mais linhas de discussão, esses tais de 48FPS são a quantidade de imagens que são projetadas na tela do cinema por segundo (como uma sequencia de fotos), o dobro dos convencionais 24FPS, que acabaram sendo a opção que veio com o cinema falado e até hoje é o usual (antes disso ficava em torno de 19FPS). De modo prático, quanto mais quadros por segundo, mais próximo da imagem “real”, já que o olho humano não enxerga em frames.

O resultado então do HFR (High Frame Rate, apelido para os 48FPS) é uma imagem mais limpa que, realmente, se afasta um pouco daquela textura clássica da película e se aproxima do vídeo e do digital, mas a grande verdade disso tudo é que, com isso, a Terra Média nunca esteve tão linda e esplendorosa. E não estamos falando da Nova Zelândia, que mais uma vez serviu de cenário para Peter Jackson, mas sim de todo resto, das tocas dos hobbits à uma enorme cidade orc incrustada no interior de um montanha. Todos detalhes, sombras, movimentos e efeitos especiais tem a coragem de se exporem diante desses frames e não fazerem feio nem por um segundo.

E como está dito no primeiro parágrafo, todo esse visual só vem para coroar essa grande aventura, que, pode sim, ser considerado um resultado muito mais maduro e seguro do que A Sociedade do Anel foi. Não melhor, nem mais pertinente, apenas muito mais à vontade com o material que tem em mãos. Primeiro, por ter muito mais espaço para qualquer tipo de desenvolvimento, já que ao invés de três filmes para três livros, Jackson ganhou a oportunidade de ouro de esmiuçar uma única obra em um trio de filmes (tudo bem… eram dois e a possibilidade dos cifrões rendeu mais um, mas ainda assim é muito mais que suficiente).

O Hobbit, então, não tem absolutamente nenhuma pressa e o trio que escreveu a “trilogia do anel”, com Jackson, sua esposa Fran Walsh e ainda Phylippa Boyens, ganha a presença de Guillermo Del Toro (que começou a produção como diretor, mas abandou a cadeira antes do começo das filmagens) e esmiúça com carinho cada pedaço dessa história, completamente cientes, tanto do ritmo que precisam, quanto do delicioso material que têm em mãos. Por isso, ainda que em certos momentos o filme pareça se arrastar sem ação, como durante toda sequencia onde Bilbo recebe o grupo de anões, são exatamente esses momentos que deixam O Hobbit tão divertido.

O Hobbit Filme 3D 48FPS

Nele, esse encontro entre Bilbo (agora vivido em sua versão jovem por Martin Freeman) se dá diante o convite para se juntar a Gandalf (ainda Ian McKellan) e um grupo de anões que pretendem tomar de volta uma montanha onde um dia era seu reino, até que o terrível dragão Smaug os expulsou de lá.

E como fica óbvio, O Hobbit ainda conta com uma coisa a seu favor que todos três filmes de “Frodo e Cia” não tinham e aqui vai conquistar o espectador com muito mais rapidez: a leveza. Não existe o peso do Um Anel, do olho de Sauron e da experiência trágica que todos aqueles personagens tinham em mãos. E longe de isso ser ruim, apenas entrega um filme que se assemelha em estrutura e personagens, mas que agora tem a oportunidade de ser uma aventura muito mais simples e pura.

E essa era a ideia de Tolkien, de criar uma aventura que passasse por vários cenários e personagens, quase como uma Odisseia (no sentido homérico da palavra), com os anões passando por todas essas dificuldades e barreiras antes de conseguirem voltar a suas casas. O que Jackson faz é perceber isso e não se preocupar em forçar nada que saia desse clima quase lúdico e bem mais fantasioso. Como um conto de fadas contado de geração em geração.

É lógico também que, pensando em uma unidade maior à toda trilogia, também parece explorar de modo até um pouco forçado a presença de um tal Necromante e de um Orc Albino que quer se vingar do líder dos anões, Thorin “Escudo de Carvalho” (Richard Armitage, que você “não viu” em Capitão América matando o cientista que criou o Soro de Supersoldado), mas tudo isso surge de modo fluido e tão sutil que pouco incomoda e, na verdade, até ajuda ainda mais para que O Hobbit seja, realmente, essa viagem pela Terra Média.

Esse monte de personagens e lugares ainda é valorizado por uma direção de arte que mantém a genialidade do trabalho feito da Trilogia do Anel, mas tem muito mais liberdade de criar um número enorme de personagens diferentes dentro de cada raça, o que é um verdadeiro presente aos fãs da Terra Média. Além de impor com precisão toda personalidade visual desses 13 anões completamente diferentes (e um monte mais de outros que aparecem no decorrer da trama), Dan Hennan, que agora toma frente do departamento depois de já ter trabalhado na supervisão dos outros três filmes, ainda “ganha o prêmio” de mais um monte de orcs para “inventar”.

O Hobbit 3D Filme 48FPS

Lógico que todo aspecto visual acaba saindo ganhando com os 48FPS (ainda que certos pontos menores do CGI acabem ficando aquém do esperado, como alguns pratos voando no começo). Porém, quem mais ganha com isso mesmo é um velho e “precioso” conhecido, Gollum. Mais uma vez criado a partir da captação de movimentos de Andy Serkis, a criaturinha mais uma vez rouba a cena graças ao sensacional trabalho do ator, que agora tem ainda mais material para ser explorado durante a deliciosa disputa de adivinhações que, desde já, é um dos momentos mais esperados da trilogia, e supera qualquer expectativa.

Mas tudo isso só funciona graças ao “maestro” Peter Jackson que, além de viajar pelos enormes cenários (valorizando mais ainda a fluidez dos movimentos diante dos 48FPS), ainda se rende ao seu próprio esforço estético criado na Trilogia do Anel. Portanto, não são poucos os momentos que o diretor se diverte rimando com seus próprios filmes, mas se permitindo ser surpreendido com a solução imediata, Gandalf luta contra uma enorme criatura dentro de uma montanha sobre uma ponte, mas nem por um segundo se permite ter o mesmo destino trágico, ainda que um olho amarelo desperte ao final para ser o grande vilão da história. Do mesmo jeito que passa por Valfenda antes de começar a jornada, mas surpreende a todos com uma resolução furtiva e divertida, que ainda aprofunda um momento interessante entre Galadriel (Cate Blanchet) e o próprio Gandalf.

O Hobbit não se envergonha de ser um “pouco mais do mesmo”, mas sem perder a qualidade disso e, no final de tudo, olha para a Montanha da Solidão ao longe e garante a todos que ainda existe muita aventura a ser vivida.


The Hobbit: An Unexpected Journey(EUA, 2012) escrito por Fran Walsh, Phillipa Boyes, Peter Jackson, Guillermo Del toro e JRR Tolkien (livro), dirigido por Peter Jackson , com Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Hugo Weaving, Cate Blanchet, Andy Serkis e Christopher Lee .


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