Fim dos Tempos

O Fim dos Tempos | Deixe-o ou deixe-o

Se “ame-o ou deixe-o” é uma frase que acompanha o cineasta indiano M. Night Shyamalan desde que chocou as plateias do mundo com seu O Sexto Sentido, talvez Fim dos Tempos resuma essa expressão para apenas o “deixe-o”. Não que seu novo filme não tenha qualidades, até tem algumas poucas e marcantes, mas é tão repleto de equívocos que não deixam essas mesmas se sobressaírem nem um pouco sequer.

No entanto, botando de lado o festejado O Sexto Sentido, tanto Corpo Fechado quanto A Vila são exemplos de filmes que, mesmo deficientes, permitem ao diretor conseguir esconder “esses problemas” por trás, seja de uma narrativa impressionante, seja de um final surpreendente (e coeso) ou de uma direção caprichada. Porém, Fim dos Tempos se encaixa em uma outra leva de filmes, na qual Shyamalan parece preocupado em testar a paciencia do público que ainda acredita nele, assim como fez em A Dama da Água (e por que não em Sinais), para uma história que até poderia ser interessante, mas que se esvai pelas suas mãos quando tenta imprimir uma profundidade que não consegue se encaixar.

O filme começa com o Central Park sofrendo algm tipo de acontecimento onde as pessoas começam a se matar, logo aquilo se alastra para os trabalhadores de um obra, que se jogam do alto do prédio, assim como, em pouco tempo, isso se espalha para todo lugar, só restando para o professor de ginásio Elliot Moore (Mark Whalberg), sua mulher Alma (Zooey Deschanel) e o melhor amigo Juliam (John Leguizamo) partirem de Nova York para o mais longe possível de qualquer perigo.

O roteiro de Shyamalan tem todas cartas na mão para fazer um filme cativante, que te prenderia na cadeira do cinema sem entender o que estava acontecendo, com os personagens fugindo de um inimigo desconhecido. Mas não, ao mesmo tempo que tenta criar um certo suspense começa a arranhar um explicação científica de quinta categoria, que durante quase todo tempo faz você torcer para que não seja ela. Ou melhor ainda, torce para que sejam “aquelas forças além do nosso conhecimento”, e não “algum tipo de ato da natureza, que talvez nunca entendamos”, citados durante a aula de Whalberg, e que funcionam mais como um ofensa aos espectadores que não precisam de nada jogado em suas caras.

E demonstrando mais ainda um descaso narrativo, Shyamalan, sempre que quer contar alguma coisa, dá um jeito do grupo de personagens encontrar um rádio em algum lugar ermo, seja uma cerca (???) ou um carro abandonado. Pior ainda, recorrendo a uma ou outra TV para explicar mais ainda alguma teoria, que obviamente passam pelo já lugar comum do ataque terrorista.

 A grande impressão que fica é de uma falta de um inimigo mais concreto, com os personagens fugindo não só de um invisível, mas sim de um ventinho xinfrim. Em certos momentos, o que poderia ser um verdadeiro estudo do ser-humano, que tem que aprender a conviver com ele mesmo, já que que o perigo o espera do lado de fora (como George A. Romero fez em sua trilogia dos mortos), se transforma em uma fuga de algo que não existe. E pior ainda concluindo tudo em uma pseudo lição de moral eco-babaca, rasteira e  com cara de alguma besteira falada por algum pós-hippie chapado.

Shyamalan também tem a “ótima” idéia de enfiar goela abaixo dos espectadores um humor pra lá de inconveniente nas situações piores possíveis (além da quase ausência de graça). É fácil em algum momento você se pegar achando que aquilo é uma paródia de algum filme, coisa que não condiz com o tema, e muito menos com o clima. Isso cria ainda uma péssima caracterização da dupla de personagens principais, que se perdem em uma caricatura meio esquisita, como se a ficha do tal “acontecimento” do “fim dos tempos” não caísse, e eles tivesse que fazer piadinhas sobre a vida pessoal deles. Além disso colocar Mark Whalberg, em um de seus piores papeis (senão o pior) para conversar com uma planta de plástico só funcionou para roubar a piada de algum Todo Mundo em Pânico futuro. Se era para ser engraçado, que desse para o ex-Cameron (amigo de Ferris Bueler), algumas linhas mais interessantes na (super) ponta que ele faz no começo do filme, naquela reunião no teatro.

Curiosamente, o único acerto do filme está, justamente, na pele do mesmo responsável. Shyamalan continua sendo um diretor de mão cheia quando quer criar suspense. Todas cenas de suicídios são extremamente bem pensadas e com um impacto visual de encher os olhos, e mesmo ficando sempre com a impressão de que a trama dá um tempo para mostra-las, ainda assim funcionam perfeitamente. É impossível não se arrepiar com toda sequencia do jipe (onde o motorista, para os mais nerds, que praticamente não aparece, é vivido pelo eterno Dante, “balconista” dos filmes de Kevin Smith, outro que poderia ser usado como piada), com os corpos pendurados nas árvores e a batida na árvore sem cortes no seu final. O diretor ainda explora esse aspecto continuado melhor ainda com a imagem seguindo o revolver usado para vários suicídios. Shyamalan consegue criar um tom de pesadelo nessas cenas, que arrepia e assusta, só que acaba sendo jogadas fora diante de todo resto.

Talvez o indiano hoje só precise de um roteiro melhor, um que resgate seus momentos de grande cineasta criador de suspense, e não os deixem soterrados por uma história ridícula derrubada por um “Monstro-Vento-Vingador” como em Fim dos Tempos.


The Happening” (EUA, 2008) escrito e dirigido por M. Night Shyamalan, com Mark Whalberg, Zooey Deschanel e John Leguizamo


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