O Doutrinador Filme

O Doutrinador | Faz bem aquilo que se propõe


[dropcap]P[/dropcap]recisamos parar com a velha reclamação da ausência de “filmes de gênero” no Brasil. Acreditem, eles estão por ai, os terrores, policiais e suspenses estão estreando semana atrás de semana, assim como o maior serviço de streaming do mundo já está chegando na segunda temporada de uma ficção científica puramente brasileira. Dito isso, O Doutrinador faz muito bem sua parte.

Também é preciso dizer que você já viu, leu e ouviu falar dessa história, ainda que ela tome alguns rumos diferentes. Policial perde a filha e resolve se vingar dos culpados usando a força e a violência que o distintivo o impedem de fazer.

Nesse caso, o Doutrinador do título nasceu nos quadrinhos e fez um certo sucesso no circuito de HQs por ele matar não o assassino, mas sim tentar acabar com os políticos que o levaram àquela perda. Mas esqueça a bobagem partidária que marcava o gibi e fez voz junto com um momento popular que parecia cegado pela propaganda. O Doutrinador (o filme) é realmente sobre expurgar políticos.

É preciso então uma carga de conveniência bem mais pesada do que o gênero geralmente carrega para que o “dois mais dois” seja algo quase como um cinco, mesmo que isso não importe, pois o que ele quer mesmo é uma desculpa para matar todos os números. Portanto, não espere coerência, nem narrativa, muito menos ideológica (o que nesse caso é bom): o que todo mundo quer é ver o anti-herói em ação.

Ao que tudo indica Gustavo Bonafé, que recentemente estreou também o interessante Legalize Já, fez a lição de casa certinha e isso é tudo que O Doutrinador merece para ser lembrado. Logo de cara o que se apresenta é um filme ágil, com um ritmo de cortes eficientes, ângulos baixos, composições claras e tudo o mais que um fã de filme de ação quer. Bonafé sabe explorar bem o clichê e coloca seu herói naquelas todas situações que um bom herói de ação merece, seja costurando o próprio corpo enquanto toma alguma cachaça, seja tendo seu covil invadido por capangas genéricos.

O esforço de “cair nos gostos” talvez só não chegue mais longe, pois o roteiro não consegue desenvolver bem três pontos que são como balas na cabeça atiradas por um franco-atirador (“sniper” é coisa de gringo!).

O Doutrinador Crítica

Em uma dessas três falhas está um vilão (na verdade todos) que beira tanto o clichê que não consegue “conversar” com o espectador. Ao invés de construir alguém que seja uma ameaça, o roteiro do próprio criador da HQ, Luciano Cunha (e mais um monte de “mãos”), prefere estacionar nas frases de efeito, malas de dinheiro e “Kobe Beefs”. Seus vilões são apenas a representação exagerada do que as pessoas imaginam ser um político corrupto. Falta maldade e, justamente, imaginação.

O outro pilar é a morte da filha, que chega de lugar nenhum, não se sabe para onde vai, não tem luto e muito menos emoção. Herói de ação que se preze, sempre surta de chorar no enterro do ente querido antes de sair por ai matando gente. E isso acontece para valorizar o sentimento do personagem e fragiliza-lo diante do mundo opressor que o esmaga. Quando essa cena não está lá, o resultado é sentido na pele.

Por fim, O Doutrinador também não acerta na hora de entender a necessidade de uma relação entre o protagonista, Miguel (Kiko Pissolato) e seu parceiro, Edu (Samuel de Assis), que em vários momentos deveria servir um pouco mais como âncora moral do personagem, mas que aqui é apenas um coadjuvante descartável que gosta de chá e pão de queijo de uma certa lanchonete que está em nove entre dez rodoviárias do Brasil.

De qualquer jeito, e para tirar qualquer elefante do canto de qualquer sala, O Doutrinador não é um filme político, mas sim uma ação onde políticos morrem com doses cavalares de gore (realmente a “montagem” das mortes é muito boa!). Não está em esquerda ou direita nenhuma (talvez no máximo um “black bock”). Mas sobre tudo isso, está apenas defendendo seu direito de ser mais um filme de gênero no Brasil, com todos clichês, um visual bacana, uma história que todo mundo conhece e a possibilidade de fazer seus fãs se divertiram com as balas para todos os lados.


“O Doutrinador” (Bra, 2018), escrito por Luciano Cunha, Gabriel Wainer, Rodrigo Lages, L.G.Bayão e Guilherme Siman, baseado na HQ de Luciano Cunha, dirigido por Gustavo Banafé, com Kiko Pissolato, Tainá Medina, Samuel de Assis, Marília Gabriela, Natália Lage, Tuca Andrade, Eduardo Moscovis e Nicolas Trevijano.


Trailer do Filme – O Doutrinador

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