O Décimo Homem Filme

O Décimo Homem | Filme argentino mostra volta ao lar com simpatia e sensbilidade

Comédia dramática sobre o regresso de um homem a sua comunidade, O Décimo Homem aborda não apenas o conflito entre os diferentes hábitos entre a vida atual e anterior do protagonista, mas, também, as formas com que ele começa a encontrar seu próprio lugar no bairro onde cresceu. Assim, acompanhamos um personagem interessante em um filme eficiente, mesmo que, em certos momentos, se renda aos clichês .

Ariel (Alan Sabbagh) é um economista que vive em Nova York, onde tem uma namorada de longa data com quem pretende se casar. Por isso, ele viaja até Buenos Aires para apresentar a moça ao pai, Usher (Usher Barilka) — mas ela é bailarina e terá que ir depois, pois tem uma importante audição. Ariel, então, chega sozinho a sua cidade-natal, integrando-se à fundação da família, que ajuda os moradores do bairro judeu do Once — seu pai, entretanto, parece nunca estar por perto ou ter tempo para vê-lo.

O elemento mais interessante de O Décimo Homem é, justamente, a forma com que o diretor e roteirista Daniel Burman constrói a figura de Usher não como um personagem comum, mas como um símbolo. Mesmo sem jamais aparecer em tela, ele está presente em praticamente todas as cenas — falando ao telefone, como assunto de conversas ou, simplesmente, nos pensamentos dos demais personagens. Isso, por sua vez, se contrasta com a namorada de Ariel — também a conhecemos apenas por telefone ou pelo computador, mas jamais vemos seu rosto. E, enquanto o protagonista aceita cada vez mais a presença peculiar de seu pai, a mulher que ficou em Nova York vai se afastando da trama — uma forma eficiente de demonstrar como Ariel está reconstruindo suas raízes no bairro.

Por outro lado, outro artifício encontrado por Burman de demonstrar o crescimento dos laços afetivos do protagonista em Buenos Aires não é tão eficaz — seu romance com Eva (Julieta Zylberberg) é repentino e pouco desenvolvido demais para que tenha muito impacto. Além disso, a subtrama é repleta de clichês, como o fato de ela não falar até se aproximar mais de Ariel.

O Décimo Homem Crítica

Também é interessante notar como Ariel se aventura cada vez pelos ritos e costumes judeus, algo que contribui muito para sua aproximação com a comunidade. Abordando os costumes da cultura de forma orgânica e natural, O Décimo Homem constrói muito bem o espírito daquele bairro — o agito do comércio popular, os habitantes peculiares e, principalmente, o fervor da fundação comandada por Usher. Com um funcionamento complexo que conhecemos ao longo da narrativa — sem a necessidade de recorrer a diálogos expositivos, que quebrariam o ritmo naturalista do filme —, a fundação rende momentos inesperados, como a “coleção” de celulares utilizados para o trabalho, que são provenientes de moradores falecidos.

Dessa forma, a familiaridade da região fica evidente — inclusive através da fotografia e da montagem, que buscam retratar o bairro de forma natural, sem ousadias. Assim, a jornada de Ariel torna-se interessante — se, de início, ele batalha contra as diferenças entre si mesmo e aquelas pessoas, o protagonista logo passa a se reconhecer cada vez mais no Once. Mesmo hesitando, ele rapidamente pega o ritmo do trabalho da fundação, encontrando soluções sagazes para os problemas que Usher o encarrega de resolver.

Portanto, mesmo sem grandes pretensões e apesar de tropeçar em alguns momentos, O Décimo Homem funciona em seu retrato do retorno de um homem ao lar — demonstrando que, onde quer que estejamos, nossa criação sempre nos acompanha.


“El Rey Del Once” (Arg, 2016), escrito e dirigido por Daniel Burman, com Alan Sabbagh, Julieta Zylberberg, Usher Barilka, Elvira Onetto e Uriel Rubin.


Trailer – O Décimo Homem

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