Ninja Xadrez | Até uma criança bocejaria se um ninja feito com cashmere não fosse tão fofinho

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]I[/dropcap]magine conciliar as histórias de uma criança escrava de um “sweatshop”, morta a pauladas, seguido da vingança de um ninja de pelúcia com o espírito de um guerreiro e, para finalizar, o desafio comum de um garoto apaixonado pela garota popular da escola. Agora responda rápido: quem deve assistir a esse filme? Crianças ou adultos? Seriam crianças com uma mente de adulto ou adultos que adoram humor negro, mas têm um coração de criança (guardado em um pote na dispensa)? Ninja Xadrez um filme que mistura elementos pesados em uma narrativa infantil, conseguindo agradar… ou melhor dizendo, desagradar, adultos e crianças ao mesmo tempo.

Ele tem uma animação tecnicamente competente, uma trilha sonora até que bacana, mas uma dublagem apática (as vozes que ouvimos nos créditos finais são melhores trabalhadas), impedindo uma conexão com seus personagens. Você não irá se lembrar muito bem dos detalhes da animação cinco minutos após assistir, pois são genéricos demais, cumprindo apenas a função primária de acertar seus estereótipos, seja uma criança tailandesa, um adulto dinamarquês ou um cachorro de raça agressiva.

Esse é um filme que “revela” as maldades do “Terceiro Mundo” ao mesmo tempo que aponta o dedo para a apatia do “Primeiro Mundo”, ou alguma similaridade no jogo de poder de ambos. Os vilões são pessoas da vida comum que justificam suas ações com o velho “se não fosse eu outro o faria”, e os heróis são o espírito milenar de um ninja protetor de crianças e uma criança que só quer viver em paz na escola e em casa. Mas a criança irá se tornar a exceção à esta regra “se não fosse eu” que torna o mundo cada dia pior. O problema é que quando isso acontece é tarde demais e o filme já acabou.

Eu não creio que possa recomendar esse filme para pais levarem suas crianças, mas poderia para pessoas que gostam de animações com temática semi-adulta e um certo humor negro que luta para não ir longe demais. É o filme que faríamos quando crianças, mas apenas as que cresceram nos anos 80 e 90, para justificar o “politicamente incorreto”.

O diretor Thorbjørn Christoffersen possui a imensa vantagem de colocar a câmera como quiser, mas a desperdiça, pois está viciado nos velhos planos de live-action sem computação. Pior do que isso, em alguns momentos são maus planos, que se unem pela movimentação errada da câmera, confunde o espectador, que ele corrige voltando para planos abertos e mostrando onde a ação se passa tudo de novo. Esta não é uma decoupagem para melhor localizar o espectador, mas uma série de “story boards” que não se imaginou que terminariam em um filme.

As piadas utilizadas por Christoffersen e Anders Matthesen, que assinam o roteiro, são velhas demais, mas você pode rir de algumas se não assistiu muitas animações ou comédias na vida. Para o resto de nós reconhecemos as piadas com um acenar de cabeça. E ficamos imaginando enquanto isso, se haverá alguma parte da história que irá nos surpreender. Além disso, o roteiro junta elementos por coincidência, como o garoto é vizinho do empresário malvado e tem o nome idêntico ao do pai da garota que está afim. E quando a ação é movida para os minutos finais, a tensão é chapada, no estilo que o mocinho consegue ou não consegue. Não há elementos secundários para nos entreter.

Até uma criança bocejaria se um ninja feito com cashmere não fosse tão fofinho.


“Ternet Ninja” (Din, 2018), escrito por Anders Matthesen, dirigido por Thorbjørn Christoffersen e Anders Matthesen, com Anders Matthesen, Emma Sehested Høeg e Alfred Bjerre Larsen.



Trailer do Filme – Ninja Xadrez

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