Na Prisão Evin | Crítica do Filme | CinemAqui

Na Prisão Evin | Uma boa ideia que se perde no formato


Uma das sacadas da direção dupla deste longa-metragem sobre uma mulher transgênero é nunca mostrar a face de Amen. Curioso, mas não original, a história inteira se passa sob seu ponto de vista. Os personagens olham para a câmera como se estivesse olhando para ela. Isso acaba se tornando repetitivo, pois o estilo impõe a percepção. Porém, assim como o destino de Amen, não há mais volta. Na Prisão Evin nunca se trai sobre seu método de filmagem, mas o preço é perder em expressão.

Isso acontece porque não se identifica com o que não se vê. Tudo bem, pode-se dizer que nos identificamos com o personagem de O Escafandro e a Borboleta, mas nesse caso ouvimos o pensamento do personagem de Mathieu Amalric, que é razoável e compreensível, além de em umas poucas tomadas vermos seu rosto e sua condição moribunda e objetificada. Com isso sabemos instintivamente que há um ser humano do outro lado da tela, e não uma pessoa filmando uma festa, como geralmente esses vídeos com todo mundo olhando para a câmera se parecem. E no caso deste filme, uma festa fúnebre.

Portanto, se sacrifica a identificação com o espectador pela ideia mal-concebida de amar o que não vemos, mas, pior do que o personagem já comparado de O Escafandro…, não vemos e não ouvimos. Quero dizer, ouvimos suas falas, mas elas são automáticas, robotizadas e esquemáticas. Amen responde ao que lhe perguntam como um autômato, e faz seus questionamentos na mesma moeda: sem emoção. Ela está lendo um roteiro e confusa sobre isso. “Quando que eu devo atuar?” E o filme termina.

O texto da dupla de diretores Mehdi e Mohammad Torab-Beigi não é ruim. Te leva a acreditar na situação. As atuações nos levam menos. Apenas o mistério mantém vivo o interesse. Uma metáfora envolvendo uma borboleta não. É brega e velho. Clichê para os Ocidentais aplaudirem o cinema do Oriente Médio “evoluindo” como nós. Talvez seja simbólico não mostrar frente às câmeras um transexual. Talvez seja uma lei não-escrita do país em que foi produzido. De ambas as formas uma escolha duvidosa para a arte.


“At the end of Evin” (Ira, 2021); escrito e dirigido por Mehdi Torab-Beigi e Mohammad Torab-Beigi; com Mahdi Pakdel, Ra’na Azadivar e Ali Bagheri.


O filme faz parte da cobertura da 45° Mostra de Cinema de São Paulo

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