Monos | Sobre uma guerra banal e violenta

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]E[/dropcap]m seus dois primeiros atos, Monos chega muito perto do brilhantismo com a forma econômica, tensa e esteticamente impecável com que estabelece seu universo e seus personagens. Porém, ao assumir uma narrativa mais tradicional no terceiro ato, o representante colombiano no Oscar 2020 perde muito de sua força, mas não deixa de ser uma obra memorável.

Em meio às nebulosas montanhas da Colômbia, conhecemos um grupo de adolescentes chamados apenas por seus “nomes de guerra”: Lady (Karen Quintero), Lobo (Julián Giraldo), Rambo (Sofia Buenaventura), Sueca (Laura Castrillón), Pitufo (Deiby Rueda), Perro (Paul Cubides), Bum Bum (Sneider Castro) e Patagrande (Moises Arias). Não sabemos desde quando eles estão ali, como foram parar lá ou exatamente pelo que eles lutam… Mas guerras não são sempre mais ou menos assim? O que sabemos é que os jovens têm a importante missão de manter uma prisioneira estadunidense, chamada apenas de “Doutora” (Julianne Nicholson). O grupo é monitorado de perto pelo Mensageiro (Wilson Salazar), que eventualmente aparece para orientar, xingar e treinar os garotos.

O diretor Alejandro Landes (que, ao lado de Alexis dos Santos, também assina o roteiro) conduz Monos com calma, dando tempo e espaço para que os personagens simplesmente existam naquela rotina que, ao mesmo tempo que é familiar para eles, também é tão desprovida de contexto — para eles e para nós. Eles não entendem porque a Doutora é tão infeliz ou porque tenta escapar, já que eles a “tratam bem”. Tiros são disparados com aparente confiança na hora do combate, mas também por pura brincadeira imatura — e com graves consequências.

A fotografia sufocante de Jasper Wolf explora ao máximo os ambientes em que os personagens se encontram, seja a hostilidade e a névoa da montanha, seja o calor e a umidade da selva, que surge tal qual um labirinto infestado de insetos para os jovens, não familiarizados com aquele ambiente. Enquanto isso, a trilha sonora da sempre surpreendente e magistral Mica Levi acentua o lado quase fantasioso de Monos, conduzido por acordes que transmitem o sufoco, a agonia e o bizarro por trás de tudo aquilo.

Assim, é uma pena que o afastamento de um dos personagens do grupo inicie um terceiro ato voltado a perseguições repetitivas e à chegada de personagens externos ao cerne do longa que, de certa forma, servem para explicar um pouco o que vínhamos vendo até então. Mas a forma com que isso é feito faz com que a obra não ganhe muito com as novas informações e, ao contrário, perca parte da força que vinha apresentando até então.

De qualquer forma, o caráter guerrilheiro dos Monos, unido ao fato de que não sabemos quase nada sobre os objetivos do grupo — os próprios jovens só sabem que precisam se proteger, proteger seu território e manter a Doutora prisioneira — oferece uma perspectiva intensa sobre a banalidade da guerra e da violência.

Monos é, portanto, uma obra original, impecável em muitos aspectos e repleta de pontos brilhantes. Certamente uma escolha acertada para representar a Colômbia na categoria de melhor filme estrangeiro e um filme que merece ser visto e apreciado.


“Monos” (Col/Hol/Arg/Ale/Sue/Uru, 2019), escrito por Alejandro Landes, Alexis Dos Santos, dirigido por Alejandro Landes, com Julianne Nicholson, Moisés Arias, Julian Giraldo, Sofía Buenaventura


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