Missão Impossível: Efeito Fallout | Série continua entregando tudo aquilo que promete


[dropcap]A[/dropcap] maior satisfação da série Missão Impossível nos cinemas é que ela sempre entrega o que é esperado. Nesse sentido ela ganha até de James Bond. Porém, estamos falando de apenas meia-dúzia de filmes que seguem basicamente a mesma fórmula em toda nova edição (e direção): as missões recebidas em segredo com gravações que se auto explodem em cinco segundos, vilões com maldade pura, o passado de Hunt o amaldiçoando e ao mesmo tempo o fazendo crescer como ser humano, as cenas de ação frenéticas e muito bem coreografadas, as reviravoltas que acontecem sob um teto mal iluminado e que costuma dar nós no cérebro do espectador e, por fim, uma bomba e uma contagem regressiva. Bom, senhoras e senhores, tenho boas novas sobre Missão Impossível: Operação Fallout: dessa vez teremos duas bombas! Isso que é plot twist!

Brincadeiras à parte, mesmo não sendo muito original em seu roteiro a série acaba entregando diferentes versões de um filme de ação e suspense bem feito. Idealizado em sua primeira versão, de 1996 e dirigido por Brian de Palma, a série seguiu sempre elencando diretores competentes e diferentes, sendo o sexto filme agora a repetição inédita de diretor (Christopher McQuarrie, que já havia assumido a franquia no anterior, Nação Secreta).

De qualquer jeito, adoro a capacidade que essas produções têm de tornar as histórias batidas minimamente interessantes e com picos de adrenalina que se tornam emocionantes por causa justamente da historinha que a permeia. E Fallout felizmente não é uma exceção.

Da parte da história, há pequenos elementos que, como linhas quase invisíveis, amarram toda a trama do começo ao fim, permitindo ao espectador sentir que houve uma mudança. Essa mudança está na preocupação (mais uma vez) de Ethan Hunt (Tom Cruise) em sua ex-esposa, que remói desde Protocolo Fantasma se sua decisão de se afastar não teria sido tarde demais, trazendo dor e sofrimento desnecessários à personagem de Michele Monaghan que, convenhamos, é perfeita demais para ficar passando esses perrengues. Mesmo que seja com Tom Cruise. O fantasma de Monaghan o persegue como uma cobrança eterna por salvar toda e cada vida.

Já do lado da ação, temos nesse filme, por exemplo, uma perseguição na cidade que beira a perfeição. Coreografado com menos cortes de costume, se aproveitando das esquinas e rotatórias que os veículos ultrapassam, entendemos a localização geográfica pelas ruas de Paris do começo ao fim sem nos perdermos, o que geralmente ocorre nos filmes de ação de quinta categoria. Missão Impossível consegue aqui até imprimir um pouquinho de realismo a mais do que a série se propõe, evitando a ação em formato de hipérbole (se tornando cada vez mais e mais inacreditável) que ocorria nos primeiros três filmes. Claro, toda suspensão de descrença tem um limite no cinema, e precisamos aqui ignorar todas as coincidências em série da moto de Tom Cruise conseguindo passar cruzamentos enquanto todos os carros (e motos) da polícia não, os deixando para trás (mas apenas um pouquinho).

Mas voltando à história. O forte dela é que há uma equipe carismática e coesa, agora menor que nunca, com Cruise, Simon Pegg e o sempre bem-vindo Ving Rhames, além das participações coringa de Rebecca Ferguson e Henry Cavill (ambos agentes de fora), apenas para termos diversidade de suspeitos das reviravoltas que irão com certeza surgir.

A equipe está sempre à mercê do psicológico de Ethan Hunt, e por um bom motivo: quando o personagem de John Travolta cita para ele seu comportamento recorrente de quase estragar as missões valorizando uma vida em detrimento de milhões, Travolta sugere que esse traço de Hunt é justamente o que o torna mais forte que outros agentes. Além de um salvaguarda enigmático: ele sabe que pode contar com Hunt para lhe proteger quando for necessário. Isso sair da boca de um ator que vem se especializando em vilões diz duas coisas: 1) não acredite em tudo que ouve no filme e 2) algumas coisas ditas serão verdade, mas não da forma como você imagina de início.

Os personagens de Henry Cavill (que faz o agente August Walker) e Angela Bassett (a nova cara entre as lideranças da agência) surgem como um respiro bem-vindo à franquia, mas ao mesmo tempo não chegam a dizer a que vieram com tanto frescor assim, se revelando versões repetidas de outros personagens enigmáticos que já surgiram em outros filmes. Ainda assim, é uma boa notícia perceber que Cavill consegue se desvencilhar a figura do Homem de Aço de vez em quando, conseguindo equilibrar o seu lado observador em um timing cômico que dessa vez ultrapassou o de Simon Pegg, que tem pouca participação no filme.

Por outro lado, o que não ganha respiro é a trama, que já soa datada ao repetir elementos do filme anterior, como o terrorista/anarquista Solomon Lane (Sean Harris) e seu desejo sanguinário de extermínio em massa por um ideal que nunca soa mais do que a loucura usual dos vilões megalomaníacos de praxe. Porém, precisamos lembrar que esta é uma história em dois atos; e este é o segundo. Nesse sentido a última novidade ainda reside nas invencionices de Protocolo Fantasma, onde nas mãos de Brad Bird a série realmente ganhou um respiro tecnológico e temático. Mas note como todas as ameaças geralmente giram em torno de líderes religiosos ou armas prontas para um genocídio. Pelo menos dessa vez não houve uma ópera, marca registrada de M:I.

E é por isso que eu não citei esse elemento recorrente em Missão Impossível como fórmula de sucesso. Você nota algumas variações, vê? Mas o que chama mais a atenção são os detalhes que se repetem. E Tom Cruise continua louco por adrenalina como nunca. Graças a ele você dificilmente verá cenas de ação tão sufocantes e empolgantes este ano como neste filme. A IMF segue firme e forte.


“Mission: Impossible – Fallout” (EUA, 2018), escrito e dirigido por Christopher McQuarrie, com Tom Cruise, Henry Cavill, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Sean Harris, Angela Bassett, Vanessa Kirby, Michelle Monaghan.


Trailer – Missão Impossível: Efeito Fallout

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