Meu Nome é Dolemite | O Retorno do Rei?


[dropcap]R[/dropcap]udy Ray Moore (Eddie Murphy) é um comediante/cantor/artista à moda antiga, que passa seus dias como gerente de uma loja de discos enquanto batalha por manter suas apresentações num clube noturno de Los Angeles.

Cada vez mais decepcionado com a falta de perspectiva mas se recusando a desistir, tudo muda quando, mais uma vez, Moore tem que retirar de dentro da loja um mendigo “poético” chamado Ricco (Ron Cephas Jones). Percebendo como os clientes da loja riem e dão atenção ao monólogo profano e cheio de duplo sentido, decide criar um personagem chamado Dolemite, um cafetão lutador de kung-fu, e usá-lo como principal atração de seu show.

Com o sucesso do personagem e dinheiro entrando com os discos de comédia (sim, isso já foi comum), Moore / Dolemite decide, depois de assistir no cinema uma das maiores comédias do ano – e não entender porque fazia tanto sucesso -, e mesmo sem ter a menor ideia de como fazer isso, lançar um filme e faturar ainda mais. A epopeia da gravação e lançamento de Meu Nome é Dolemite, com uma trupe tão empolgada quanto inepta é a cereja do bolo, batiza tanto o filme, quanto essa cinebiografia.

E uma cinebiografia de responsa, já que acaba endo o retorno do ator Eddie Murphy ao estilo que o consagrou nos anos 80, com muita profanidade e palavrões aos baldes. Na verdade, curiosamente, Meu Nome é Dolemite é o primeiro filme dele com censura R em vinte anos, o que serve também para homenagear um dos artistas mais emblemáticos do movimento Blaxploitation dos anos 70, além de considerado como o “Padrinho do Rap”, pelo estilo de se apresentar rápido e cheio de rimas.

Em baixa, depois de se enterrar por anos e anos, alternando filmes de péssima qualidade com outros direcionados ao público infantil, Murphy acerta a mão e entrega uma de suas melhores performances, tomando o cuidado de não imitar demais seu biografado e dar seu toque pessoal, relembrando ao público porque se mantém relevante há mais de quatro décadas.

Além disso, a produção é excelente em recriar o clima dos anos 70, principalmente ao entender aquele momento depois da geração hippie, em um choque de realidade com a guerra do Vietnã e mostrando para o público toda a cena artística de Los Angeles, onde os negros se sentiam ainda mais marginalizados pela indústria do entretenimento do que nunca.

Todo esse caldo cultural é muito bem representado pelo diretor Craig Brewer e pelo roteiro nostálgico e redondinho da dupla responsável por outra cinebiografia de um gênio dos filmes ruins, Ed Wood. Assim como o “pior diretor do mundo”, Moore não se importava nem um pouco com os obstáculos e sua própria falta de conhecimento sobre o que queria fazer, simplesmente metia as caras e que se danassem as consequências.

Destaque para um bom elenco, recheado de talentos da nova geração de comediantes e pela ressurreição de Wesley Snipes, divertidíssimo como D’Urville Martin e, depois do protagonista, a melhor coisa do filme.

É delicioso ver Murphy de volta à boa forma e revisitar uma época onde as pessoas estavam nem aí para agradar a todo mundo.


“Dolemite Is My Name” (EUA, 2019), escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski, dirigido por Craig Brewer, com Eddie Murphy, Keegan-Michael Key, Mike Epps, Craig Robinson, Tituss Burgess, Da’Vine Joy Randolph, Kodi Smit-McPhee, Snoop Dogg, Ron Cephas Jones , Barry Shabaka Henley, Luenell, Tasha Smith, Wesley Snipes, Chris Rock.


Trailer do Filme – Meu Nome é Dolemite

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