A Menina que Roubava Livros

Em meio às várias histórias ambientadas durante o período do nazismo e da Segunda Guerra, o livro de Markus Zusak conquistou o público com seu tom quase de contos de fadas do descobrimento do poder das palavras, misturado de forma eficiente com o cinismo e Menina que Roubava Livros Postera secura do narrador, a própria Morte. Em sua adaptação para o cinema, A Menina que Roubava Livros perde as características que marcaram a obra de Zusak e, assim, o que resta é um filme genérico, repleto de elementos que já vimos antes e que se arrasta ao longo de seus 130 minutos de filme.

Perseguida pelo exército de Hitler por ser comunista, a mãe da jovem Liesel (Sophie Nélisse) vê-se obrigada a entregar a garota e seu irmão mais novo para uma família que mora em uma pequena cidade alemã. Na viagem até lá, o menino acaba morrendo, e Liesel vê-se sozinha com seus novos pais, o doce Hans (Geoffrey Rush) e a distante Rosa (Emily Watson). Em meio a constantes ataques de bombas, Liesel aprende a ler e se apaixona por histórias, e faz amizade com seu vizinho Rudy (Nico Liersch), que poderia ser um garoto-pôster da “perfeição ariana” buscada pelos nazistas, mas idolatra o atleta negro Jesse Owens, e com Max, um judeu que Hans e Rosa abrigam em sua casa.

Apesar de abrir com a narração da Morte (voz de Roger Allam), esta aparece apenas ocasionalmente ao longo da projeção, transformando o personagem mais em um “comentador ocasional” do que em propriamente narrador da história. Assim, além de algumas frases supostamente repletas de acidez e sabedoria que mas que surgem sem graça em momentos pontuais (incluindo, aqui, a que encerra o filme, que não carrega nada da força que tem no livro), a narração ainda é utilizada para mastigar os sentimentos de Max para a plateia em dois momentos diferentes; momentos que não precisavam de palavras e que, assim, perdem sua beleza.

Aliás, a falta de confiança em suas imagens é um problema grave em A Menina que Roubava Livros, e o diretor Brian Percival e o roteirista Michael Petroni constantemente constroem belas sequências que são arruinadas logo em seguida. Assim, a perturbadora imagem do coro infantil cantando um hino sobre a liberdade da Alemanha com a suástica ao fundo perde a força ao ser intercalada com o ataque de soldados nazistas nas ruas, o que também acontece com uma breve conversa entre Hans e Rosa que na cena seguinte é explicada por Max. E, apesar de os realizadores adotarem um tom fabulesco na cena do último ataque de bombas àquela cidade, eles não parecem muito confiantes na escolha, já que logo a abandonam para mostrar as bombas acertando as casas. Além disso, a montagem das cenas que mostram Liesel mergulhando na leitura ou na contação de uma história surge deslocada e formulaica e, desta forma, a obra nunca consegue encontrar seu tom.

A Menina que Roubava Livros Filmes

E a construção dos personagens também sofre com isso. Com exceção de Rush e Watson, que soam naturais (com relação a seus colegas de elenco), é sofrível o falso – e completamente desnecessário – sotaque alemão adotado pelos atores. Interpretando um homem gentil em um mundo cada vez mais endurecido e uma mulher que tenta se armar contra essa dureza, Rush e Watson oferecem belas e sensíveis performances que, em meio à mediocridade dos outros atores, não tem dificuldade de se destacar. A protagonista Sophie Nélisse surge apática durante toda a projeção, e o máximo que consegue fazer para demonstrar os sentimentos de sua personagem é oferecer pequenos sorrisos – o maior elogio que pode ser feito a seu trabalho é que ela não recorre ao overacting. Já Nico Liersch transforma Rudy praticamente em um stalker, e a falta de química entre os dois transforma o tão esperado (por ele) beijo em um momento completamente sem emoção.

Emocionalmente manipulativo a ponto de sugerir a morte de um personagem e, mais tarde, atrasar a revelação da morte de outro (algo comum no cinema, sim, mas que aqui não tem influência alguma na narrativa e, portanto, não passa de uma tentativa – falha – de arrancar mais algumas lágrimas do espectador), A Menina que Roubava Livros também não consegue transmitir algo em que tanto se equilibra, o poder das palavras e a importância que elas tiveram para que Liesel conseguisse suportar a realidade em que vivia. Assim, o roubo (ou empréstimo) de livros parece mais um pequeno gesto de rebeldia contra um sistema que queimava obras literárias, por estar ciente de que a cultura e a educação são grandes armas contra a opressão – algo, aliás, que o filme não aborda.

Com um final supostamente recompensador que, devido aos problemas do filme, não funciona, A Menina que Roubava Livros transforma um belo livro em um filme que, mesmo inofensivo e tratando de um tema popular e com facilidade de emocionar, é descartável e vazio.


The Book Thief, escrito por Michael Petroni, dirigido por Brian Percivalcom Sophie NélisseGeoffrey Rush, Emily Watson, Nico Liersch, Heike Makatsch, Roger Allam


Trailer do filme A Menina que Roubava Livros

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