Marcados para Morrer Filme

Marcados Para Morrer | Um assunto esgotado pelo diretor


[dropcap]D[/dropcap]eve ser realmente difícil ser David Ayer, apostando na mesma carta vez após vez sem perceber que aquele Rei que tanto espera já saiu em uma jogada lá atrás e não deve mais voltar a sua mão. A carta era Dia de Treinamento e o próximo filme a estourar “os 21” é Marcados para Morrer.

E se parece exagero achar que Ayer ainda está em busca daquele “momento mágico” que colocou seu nome sob os holofotes em 2002 com o sucesso do filme que deu o Oscar a Denzel Washington (e ainda uma indicação a Ethan Hawke), é por que ele próprio permaneceu batendo nessa mesma tecla na última década, com Los Angeles, um policial (ou uma dupla) durão, uma gangue e um monte de conversas dentro de uma viatura. Ayer tentou isso quando se mostrou diretor no fraco Tempos de Violência, depois no tumultuado Reis da Rua e antes disso ainda “voltou no tempo” com o roteiro de A Outra Face da Lei, o mais eficiente e interessante dos três.

O que talvez Ayer ainda não tenha percebido é que o assunto se esgotou, se tornou repetitivo e desinteressante. Pior ainda, ainda que ele tenha contribuído com o ponto principal do filme, era a presença de Denzel que mais chamava a atenção em Dia de Treinamento, principalmente pelo caráter dúbio do personagem e do trabalho genial do ator. Hoje, por um segundo, Marcados Para Morrer consegue até fazer uma aposta semelhante, com Jake Gyllenhaal, mas bem longe de funcionar, principalmente por que Ayer não parece à vontade para contar nem a história desse personagem nem a de nenhum outro.

E é impossível negar que a opção estética do diretor não seja uma das coisas mais interessantes de Marcados para Morrer, já que Ayer aposta um pouco na série COPS (com as câmeras das viaturas), um pouco em uma handycam do personagem de Gyllenhaal (e de diversos outros) e algumas outras imagens de segurança, o que cria um mosaico de pontos de vista que, ainda que pareça mexido demais, funciona perfeitamente dentro da moda de filmes com câmeras na mão/fitas encontradas.

Mesmo que Ayer falhe, derrape e dê com a cara no muro quando, de uma hora para outra, começa a ¿inventar¿ planos impossíveis de terem saído de uma filmagem amadora (como algumas tomadas aéreas e outras saídas de jogos de tiro em primeira pessoa), na empolgação da história seria difícil que isso atrapalhasse. Mas para isso ela deveria de existir.

Marcados para Morrer, por pouco, não tem nem objetivo, nem um conflito, não tem motivações e nem clímax. Durante todo tempo o espectador vai acompanhar esses dois policiais, Gyllenhaal e Michael Peña, passeando por Los Angeles (no barra pesada South Central) e atendendo pequenas chamadas, e assim que elas parecem que vão se ligar e dar razão ao péssimo título escolhido pela distribuidora brasileira, tudo volta a se arrastar nessa linha narrativa. O pior é que, diante de tudo que acontece com esses dois policiais, as chances do espectador ganhar um filme minimamente interessante seriam altas.

Marcados Para Morrer Filme

Fugindo de qualquer tipo de preguiça estereotípica, nenhum dos protagonistas é um daqueles anti-heróis que povoam as obras do diretor, nem tem problemas com álcool, trauma de guerra, famílias despedaçadas ou vontade de matar todos à sua frente. Dentro daquela viatura Ayer aponta sua câmera para dois personagens tremendamente reais e só. Que fazem seus trabalhos do exato jeito que a sociedade espera que eles façam, intercalando preocupações pertinentes com momentos completamente heroicos e sinceros.

É lógico que Ayer parece tentar traçar o enorme perigo e responsabilidade desses ¿homens de azul¿, mas depois de uma série de acontecimentos aparentemente sem ligação, o final decide continuar alinhavar toda trama e Marcados para Morrer acaba ficando com cara de filme institucional para a polícia de Los Angeles. Como um documentário ruim sobre o dia-a-dia desses personagens, que, é verdade, faz com que o espectador acabe o filme íntimo deles, mas sem entender qual a função de ambos dentro do todo.

Se perdendo em um final bobo e frágil (já que um dos personagens chega ao cúmulo de um discurso de despedida), que não tem coragem de ser sincero com seu espectador e “resolver tudo” (triste, porém pertinente), Marcados para Morrer é um sinal óbvio que talvez já esteja na hora de Ayer parar de teimar com Los Angeles e seus policiais.


End of Watch(EUA, 2012) escrito por David Ayer, dirigido por David Aye, com Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Natalia Martinez, Anna Kendrick, David Harbour, Franck Grillo e America Ferrara.


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