Magnatas do Crime | Saudades do “velho Guy Ritchie”


É impossível negar o incrível trabalho feito por Guy Ritchie em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch: Porcos e Diamantes. Sua influência no cinema posterior é tão grande que todo resto de sua carreira foi formada, ou por copias canhestras de seus dois primeiros filmes, ou egotrips sem personalidade ou qualidade (OK, gosto bastante do Os Agentes da U.N.C.L.E.). Magnatas do Crime tem um pouco dos dois.

Esse seu mais recente filme tem bastante daquilo que lhe deu fama, e que ele já tentou copiar em Rock´n Rolla, que falha terrivelmente. Magnatas do Crime também falha, mas tenta pelo menos voltar a esse mundo onde Rithcie se sente mais confortável: em Londres, no submundo, cheio de bandidos, personagens excêntricos e uma trama que vai se quebrando entre pequenas surpresas e reviravoltas.

O filme conta a história desse traficante cheio de classe vivido por Matthew McConaughey. Na verdade, quem narra a história é o detetive Fletcher (Hugh Grant), tentando usar esse conhecimento como moeda de troca com Ray (Charlie Hunnam), braço direito de Michael Pearson (McConaughey).

A dinâmica se mantém através dessa espécie de narrativa contada pelo detetive enquanto monta esse quebra-cabeça do crime organizado da cidade, mas que envolve tanto a aristocracia do Reino Unido, quanto a máfia chinesa, tudo em meio a uma grande venda de um império de tráfico de maconha. Coloque ainda nesse liquidificador uma esposa apaixonada, um cara com muito dinheiro e uma gangue de lutadores que obedece ao “Treinador” (Colin Farrell).

Essa bagunça toda tem até alguns bons momentos, mas acaba não tendo nenhuma grande surpresa, muito menos Ritchie consegue extrair do filme nada de muito visual ou qualquer coisa que valha à pena. A câmera do diretor inglês parece tímida, longe de seu começo de carreira mais genial e impecável, mas também sem o esforço para compensar as fraquezas do roteiro, como consegue fazer no plástico Sherlock Holmes ou no estiloso Os Agentes da U.N.C.L.E., resumindo: Nem o visual salva Magnatas do Crime.

Infelizmente, Ritchie parece não perceber nada disso, então aposta em diálogos prolixos e sem interesse e grandes cenas que não chegam a lugar nenhum. O exagero e a dramaticidade do tom de Magnatas do Crime entrega um humor sutil que talvez ajude o filme a não ser um desastre total, mas mesmo assim é pouco se comparado ao que Ritchie teria a capacidade de fazer. Quando se deixa levar por momentos como de uma perseguição anticlimática entrecortada com uns momentos no futuro explicando a situação e escondendo as partes ridículas, Ritchie demonstra que ainda tem algo a presentear seus fãs, mas a sensação passa rápido.

A decepção ainda se estende para o elenco estelar. Farrell e Grant até conseguem arrancar alguma coisa de seus personagens ao exagerarem no ponto certo, mas o resto segue em um piloto automático que não incomoda, tampouco empolga. Hunnam, por exemplo, tinha tudo para não ser “só ele”, mas pega o caminho mais fácil e não sai disso, assim como o próprio McConaighey e até o ótimo Jeremy Strong, todo mundo seguindo a mesma preguiça de Guy Ritchie.

Mas o “velho Guy Ritchie” está por aí, mais uma vez tentando emplacar uma história que remeta ao momento mais impecável de sua carreira, não consegue. Falta surpresa, faltam maluquices e personalidade, mas principalmente, falta aquele Guy Ritchie do começo de sua carreira.


“The Gentleman” (UK/EUA, 2019); escrito por Guy Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies; dirigido por Guy Ritchie; com Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, Michelle Dockery, Jeremy Strong, Colin Farrell, Henry Golding e Tom Wu


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