Ma | Frustrante


[dropcap]O[/dropcap] que o cartaz de Ma quer dizer com “da Blumhouse produtora de Corra! e A Morte te dá Parabéns” é que você pode esperar uma produção com custo baixo, um realizador feliz e sem amarras e algo que irá fazer com que o filme estoure na bilheterias. Realmente Ma tem tudo isso, mas isso não quer dizer nada em termos de qualidade.

A Blumhouse, para quem não conhece é uma produtora criada por Jason Blum, ex parceiro dos Weisteins na Miramax que em 2007 criou a Blumhouse para “abraçar” pequenos filmes e cineastas criativos. Talvez sua história tivesse sido outra se no ano seguinte ele não tivesse colocado no mercado o fenômeno Atividade Paranormal, com seu custo de US$ 15.000,00 e seu lucro nas bilheterias que chegou a quase US$ 200 milhões.

Por mais que ela tenha “acertado na mosca” mais duas vezes em filmes de gênero (Sobrenatural e Uma Noite de Crime), a Blumhouse já chegou até bem perto do Oscar com Whiplash e Infiltrado na Klan.

Falando em Oscar, Ma é justamente dirigido por Tate Taylor, que antes disso tinha comandado o superestimado Histórias Cruzadas, indicado a quatro prêmios da Academia, entre eles, aquele ganhado por Octavia Spencer, que agora volta a trabalhar com ele como a personagem título desse terror bem-intencionado, mas pouco empolgante.

Spencer deve ser a garantia do sucesso de Ma, que custou R$ 5 milhões e deve tirar isso de volta só no primeiro final de semana de exibição (bem a cara da Blumhouse). O outro ponto, a liberdade para Taylor, talvez seja o que mais prejudique o resultado final.

O roteiro escrito por Scotty Landes parte da ideia interessante de um grupo de jovens que conhece uma mulher que os leva para o porão de sua casa e lhes dá a oportunidade de fazerem ali suas festas cheias de bebidas, contanto que não subam para o andar de cima.

O maior problema de Ma é, justamente, que o andar de cima não é lá muito interessante e nem tem uma reviravolta que irá explodir sua cabeça, ao mesmo tempo que muito da motivação da personagem vai sendo diluído em flashbacks que a colocam quase como um misto de Freddy Kruger e Carrie, por mais que o bullying não seja tão visualmente interessante e nem a vingança seja narrativamente divertida. Portanto, um meio termo frio e insosso, mas talvez essa liberdade autoral não tenha permitido ninguém ver esse defeito com clareza.

Na verdade, a protagonista é Maggie (Diane Silver), uma menina que, junto com a mãe vivido por Juliette Lewis, e repetindo uma das fórmulas mais batidas do cinema, chegam em uma cidade pequena, com seu reboque cheio de mudanças e uma nova vida para ambas (até os planos de câmera parecem ser iguais a inúmeros outros). É Maggie que vira amiga do grupo de jovens mais simpáticos da história das High Schools americanas. A ausência de conflitos e dificuldades é tão grande nesse momento que você já imagina que todo o resto não irá dar certo.

Sem uma surpresa interessante e esse passado vindo para assombrar a vilã (sim, Ma é a vilã!), o suspense se arrasta mesmo bem-intencionado, já que existe claramente ali uma discussão a ser sentida e uma ideia complexa a ser enxergada, mas o que se faz com ela é arrastado e anticlimático. Talvez lá para o final namore um pouco um gore interessante, mas demora demais para embarcar nessa insanidade que move a antagonista para esses cantos escuros que os espectadores esperam ver.

A Ma de Spencer tem até algo de simpático demais, por mais que a atriz encare com uma sutileza divertida esses dois lados da mesma personalidade. Como se faltasse a impressão de perigo para esses jovens que, por sua vez, demoram demais para achar que é uma péssima ideia ficar no porão de uma mulher que tem momentos extremamente esquisitos desde o começo da relação. O “não fale com estranhos” de todos os pais ganha então um significado ainda mais perturbador: “Não fale com estranhos, não os siga até a casa deles e não permaneçam por lá caso eles pareçam que deveriam estar internados em um hospício”.

De qualquer jeito, Ma é essa experiência que não decola, enrola demais na hora de preparar o terreno para um terceiro ato, não apresenta nada de interessante nele e frustra quem criar qualquer tipo de expectativa. É da mesma produtora de Corra! e A Morte te da Parabéns, mas acredite, a única semelhança entre Ma e esses dois é a presença da Blumshouse nos créditos de abertura.


“Ma” (EUA, 2019), escrito por Scotty Landes, dirigido por Tate Taylor, com Octavia Spencer, Diane Silvers, Juliette Lewis, McKaley Miller, Corey Fogelmanis, Gianni Paolo, Dante Browns, Tanyel Waivers e Luke Evans


Trailer do Filme – Ma

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