Looper – Assassinos do Futuro | Ainda há espaço para algo novo


Não é difícil fazer um filme sobre viagem no tempo, o difícil é ele fazer sentido. E entre paradoxos e confusões temporais, Looper – Assassinos do Futuro pode se gabar de, não só estar nessa categoria, como, ainda por cima, fazer algo novo. Fresco, e que vai fazer todos saírem do cinema com a impressão de terem visto algo completamente inédito.

E quem ligar o nome à pessoa, vai ter certeza disso antes mesmo de chegar à fila da bilheteria, já que quem escreve e dirige o filme é Rian Johnson, aquele mesmo do mais que competente Os Vigaristas e do sensacional A Ponta de um Crime. Dessa fez, Johnson mergulha então nessa ficção científica que deixaria H.G. Wells orgulhoso de ter escrito sua Máquina do Tempo.

Não que um tenha a ver com o outro (com exceção da viagem temporal), mas sim por Johnson buscar uma premissa completamente concreta e nova dentro de tudo aquilo que o cinema (e a literatura) vem tentando fazer desde Wells. Nela, Joseph Gordon-Levitt é Joe, um looper, espécie de assassino contratado pela máfia para ¿dar conta¿ de certos alvos, nesse caso, mandados direto de quarenta anos no futuro. Até que dá de cara com sua versão futura (Bruce Willis) e acaba deixando-o fugir.

Mas não se acomode na poltrona do cinema, já que o que parece ser uma corrida de Joe em busca do ¿velho Joe¿ se transforma em uma experiência complexa e cheia de surpresas, pois Johnson faz questão de desconstruir tudo aquilo que você pode esperar do filme no exato momento em que Willis surge naquele milharal, lugar onde o alvo aparece, já que a tal máquina do tempo só existe no futuro.

E são esses pequenos detalhes que mais conquistam o espectador em Looper, que será surpreendido a todo o momento com soluções inspiradas que chacoalham aquele ¿famoso¿ paradoxo temporal de modo simples, mas completamente prestativo e objetivo. Não só por ainda criar essa espécie de realidade alternativa que empurra a trama, como no modo que trata os dois lados dessa mesma moeda. Literalmente, já que por vezes duas versões de certos personagens convivem na mesma linha temporal, e a solução encontrada para o personagem do (sempre ótimo) Paul Dano é, desde já, uma das mais inspiradas que o filme poderia apresentar (talvez até uma das melhores do gênero).

Johnson caminha então entre esses detalhes (e divertidos paradoxos) para, não só abrir mão de um filme convencional, como de traçar lados tremendamente coerentes na linha principal da trama. Que não faz questão de se colocar diante de uma simples trama do bem contra o mal, mas sim em busca de um herói (Gordon-Levitt), que acaba tomando um caminho egoísta diante de sua contraparte (Willis), nesse caso tão herói quanto ele em primeiro momento, mas que evolui para uma figura trágica sem opção nenhuma a não ser optar pelo caminho vilanesco. Uma dinâmica interessantíssima que carrega o filme até a conclusão e surpreende, justamente, por fazer com que todos no cinema embarquem nas necessidades de cada um deles, já que no final das contas, todos são vilões e o único diante de uma vingança por amor logo entra em uma busca que deixaria até o T-800 (do filme o Exterminador do Futuro) horrorizado com a crueldade dessas decisões.

A inquietude do roteiro de Johnson passa então por aquela clássica pergunta que todos já ouviram sobre uma máquina do tempo e um pequeno garoto na Áustria que depois se tornaria Adolf Hitler, e como a resposta nem sempre é fácil, o diretor faz questão de construir bem todo esse questionamento e dar razões suficientes para que todos estejam certos. Looper então ganha o espectador por fazer com que ele entenda cada uma das motivações de cada um dos personagens, nem sempre óbvias, mas fazendo sentido e movendo-os com leveza dentro dessa trama cheia de reviravoltas.

Looper – Assassino do Futuro ainda conta com um trabalho esforçado de Gordon-Levitt para emular uma versão mais nova de Willis (ajudado por uma maquiagem prestativa), uma boa desculpa para uma (aparentemente tirada da cartola) telecinese existir e um futuro visualmente divertido (que combina realidade com detalhes cheios de ¿luzinhas¿, celulares transparentes etc.) para completar essa divertidíssima e surpreendente ficção científica que acaba mostrando que, mesmo diante de um gênero tão maltratado, ainda há espaço para se conseguir algo novo.


“Looper” (EUA/Chi, 2012) escrito e dirigido por Rian Johnson, com Joseph Dordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Paul Danno, Jeff Daniels e Pierce Gagnon.


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