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Legião | Um maldito Álamo

Em 1836 (na história real) um cerco de mexicanos prendeu John Wayne (esse no filme produzido em 1960) e mais um monte de gente em um forte no meio do Texas, estava ai criado o “esquema Álamo” (diante do nome do forte). Na verdade, meu primeiro contato com ele foi com outro filme, o quatro anos mais novo, Zulu, de Cy Endfield (umas das vítimas da lista negra de Hollywood nos anos 50) e estrelado por um jovem Michael Caine, em que ele, cercado por uma tribo de zulus no meio da África, tenta defender seu ponto. Seu Álamo.

Talvez por definição, esse “esquema Álamo” (que eu talvez esteja inventando essa expressão ou não), seja aquele onde um grupo de personagens precisa defender um local, ou simplesmente tentar sobreviver enquanto estão cercados por um número imensamente maior de malfeitores. Romero fez seu Álamo de Zumbis (A Noite dos Mortos Vivos), John Carpenter em seu 13° distrito (Assalto ao 13° DP), assim como Howard Hawks, bem antes de todos esses, colocou o xerife John Wayne (de novo) protegendo sua delegacia no velho oeste (Rio Bravo). Uma olhada de leve deixará mais um monte desses à mostra, principalmente nos dias de hoje, onde nada mais se cria e tudo se copia. Legião de Scott Stewart segue esse caminho. Mal, mas segue.

Na verdade não só ele, mas ainda um monte de filmes, de vez em quando, pipocam por aí com essa mesma premissa, ou uma variação disso, o que deixa uma impressão desleixada a cada tentativa, como se ninguém mais conseguisse perceber o peso daquela situação e simplesmente usasse uma fórmula preguiçosa e sem emoção. Stewart cria um apocalipse onde o arcanjo Miguel desce à Terra para proteger a mãe do salvador, ao melhor estilo “Terminator” de ser. Acontece que ela está a 50 milhas de lugar nenhum trabalhando em uma lanchonete de beira de estrada.

Stewart tem as ferramentes, mas não parece saber usá-las. Desde o começo, graças a uma fotografia competente de John Lindley e uma direção arte interessante, o que ele tem em mãos é um visual moderno com cara de videoclipe, o que condiziria com uma trama a jato e cheia de emoção, até o momento em que ele parece percebe que seus personagens não foram desenvolvidos o suficiente e o resto do tempo o espectador é obrigado a vê-los divididos em duplas conversando sobre suas agruras e decepções. De vez em quando, é verdade, tudo para e rola solto um monte de tiros (com direito a plano detalhe nas balas caindo e tudo o mais), mas a impressão que fica é que em nenhum momento eles estão em perigo, já que tem tempo livre suficiente para conversarem, como se você soubessem que a única coisa que os mataria ali seria suas burrices (o que logicamente acontece). No fim o arcanjo Gabriel soa sua trombeta e dá as caras, mas até lá tem muito papo e pouca emoção.

É engraçado ainda perceber o quanto talvez isso tudo se resolvesse sem a sequencia inicial, onde Miguel se arma até os dentes em um “momento Comando paraMatar“, já que sem ela, por pouco aquele povo dentro da lanchonete não teria um filme de terror nas mãos, com uma velhinha subindo pelas paredes e um monte de “zumbis” atacando o lugar em uníssono (o que deve ser, já que ninguém se lembra de tocar no assunto, a tal Legião do título) enquanto eles começam a desconfiar do apocalipse propriamente dito. Talvez um Miguel mais sutil que trouxesse uma mensagem e não um porta-malas repleto de armas, e um “eles estão aqui”, fizesse um trabalho melhor, senão pelo menos muito mais interessante.

Gosto de pensar que talvez Legião seja o resultado de alguma montagem mal sucedida do estúdio, ou de alguma briga interna entre o diretor e o montador, até de um roteiro que caiu no chão e perdeu algumas páginas (as que continham a ação), mas sou sempre levado a acreditar que a culpa é simplesmente do cara que viu a cópia final e deixou-a ser lançada (ou até do diretor de elenco que não percebeu o “toque de Midas inverso” de Denis Quaid em seus últimos filmes).

Legião chega por aqui direto para as prateleiras em DVD e Blu-Ray por merecimento (ou falta de) e é por essa razão que tentei fazer um texto cheio de referências, já que sua ida a locadoras pode ser muito mais gratificante se você escolher qualquer outro filme que eu citei nessas linhas acima, até mesmo Comando para Matar.


Legion (EUA 2010) escrito e dirigido por Scott Stewart, co-escrito por Peter Schink, com Paul Bettany, Lucas Black, Tyrese Gibson, Adranne Palicki, Kevin Durand, John Tenney, Willa Holland, Charles S.Dutton e Dennis Quaid


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