Karate Kid Filme

Karate Kid | Falta humildade, sobra kung-fu

Karate Kid, refilmagem do original de 1984, pode ter seu valor pela coragem de mexer em uma obra tão icônica como essa, mas, infelizmente, acaba ficando bem longe da homenagem que o clássico mereceria. Não por desrespeitar o material original ou algo do tipo, coisa que não faz, mas sim, principalmente, por não ter a humildade suficiente diante da trama.

Nela, mantendo a estrutura do original, um garoto chega a uma nova cidade com a mãe, (nesse caso sai a Miami de 1984 e entra Pequim), e acaba caindo na antipatia de um dos valentões locais, só deixando de ser saco de pancadas deles, quando entra em cena um zelador para ensiná-lo a arte do kung-fu (que entra no lugar do Karatê original) com o intuito de resolver esses problemas em um grande campeonato de artes marciais. E é justamente nesse momento que o filme dirigido por Robert Zwart começa a escorregar.

Sem conseguir seguir a risca a dinâmica do original, acaba tentando fazer um filme muito maior, em uma cidade muito maior, com uma cultura muito maior, porém esquecendo daquilo que fez o original dar tão certo: o charme.

A começar pelo protagonista pouco simpático, Jaden Smith, filho de Will Smith (que, junto com a esposa Jeda Pinckett, assinam a produção do filme e claramente o usam como trampolim para a carreira do pequeno), que acaba não sendo uma escolha errada, já que o menino tem talento de sobra, é seguro e cheio de personalidade, mas aqui sendo desperdiçado em um personagem petulante demais e dificílimo de se identificar, que não consegue achar uma fragilidade emocional, nem física, suficiente para seguir na história. Muito talvez diante do pouco material que tem para trabalhar.

O roteiro de Christopher Murphey parece perdido em referências, tentando ser fiel ao original ao mesmo tempo em que acaba desesperado por criar algo novo, mas acabando por se tornar longo e repleto de excessos. Se em um primeiro plano, um certo interesse romântico pode servir de estopim para o conflito (por mais que todos personagens tenham 12 anos e isso acabe se tornando esquisito), como no original, isso logo é esquecido e o tal romance acaba em um segundo plano sem importância dentro da trama. Basta dizer que o pequeno vilãozinho chinês participa de apenas um diálogo com o interesse amoroso do protagonista.

Sem conseguir juntar essas duas tramas, acaba ficando apenas com uma disputa à base de testosterona e honra (coisa que no original só dá as caras no final), e pior, ao dar poucas razões para o conflito, citando até por um momento uma certa diferença de classe social que não é mostrada de verdade, acaba abrindo assim possibilidade para uma leitura, por que não, racista de toda situação. E por mais que a direção de Zwart faça de tudo para afastar essa leitura, ela está lá e pode ser lida por qualquer um.

E é aí que falta aquela humildade, principalmente na hora de conceber não uma refilmagem, mas sim uma releitura, com personagens diferentes, em culturas diferentes e conflitos diferentes, mas que, no fim das contas, precisam tomar o mesmo rumo. Se a localização da trama pode abrir essa discussão, a pouca idade, como já foi citado, piora tudo mais ainda, já que é no mínimo desconfortável, ver esse monte de crianças chutando e socando umas às caras das outras. Talvez alguns anos de espera resolvessem o problema, ou até um afastamento maior do original, tentando ser menos violento, não envolvendo um romance e talvez não usando o nome Karate Kid.

O interessante é que ao mesmo tempo em que parece tão preocupado com uma fidelidade em sua estrutura, acaba se perdendo em um pragmatismo chato e reto, que esquece da sutileza do original e opta por uma grande mensagem de biscoito da sorte, que diz o quanto a violência é errado, que o Kung Fu é tudo e que as artes marciais precisam estar presentes em todos os aspectos da vida, mas acaba esquecendo de criar personagens para serem identificados pelos espectadores, que se sentem perdidos em um filme de artes marciais infanto-juvenil, por um lado violento demais e pelo outro carente de uma profundidade, onde tudo pode ser resolvido, de um jeito moralmente simplista, por um campeonato.

No meio disso tudo, é preciso festejar a preocupação do astro das artes marciais Jackie Chan no papel do Sr. Han, que faz de tudo para fugir do estereótipo que o Sr Miagui de Pat Morita deixou para as gerações posteriores, e até consegue, só derrapando graças à opção narrativa de criar um personagem muito menos frágil, que perde um pouco em seu fator surpresa, mas pelo menos não repete uma fórmula.

O roteiro ainda dá com os burros n´agua ao tentar dar uma repaginada no famoso treinamento, acabando por se tornar repetitivo, graças a uma montagem pouquíssima inspirada, longa demais e pouco dinâmica, já que ficar entre pegar um casaco no chão e se tornar uma fera de kung fu, tem uma distancia muito maior que o “pinta, lixa e esfrega” do original para se tornar um lutador de Karatê. Principalmente em um lugar onde “todo mundo sabe lutar kung fu”, como o próprio protagonista faz questão de lembrar.

No final das contas Karatê Kid pode até não chatear essa nova geração que não teve contato com o original, e que ficará sem saber até onde essa idéia poderia chegar, mas, com certeza, nem esses ele vai empolgar. Assim como por outro lado, vai fazer os fãs de Daniel San, Sr. Miagui e os “temíveis” Kobra Kais verem nele apenas mais uma refilmagem sem necessidade de existir, que serve até como lição de vida, mas dá com a cara no muro como filme e faz mais ainda com que o recente “Quebrando Regras” se torne uma “refilmagem/copia/homenagem” muito mais convincente e interessante.


The Karate Kid (EUA, 2008) escrito por Christopher Murphey a partir da história original de Robert Mark Kamen, dirigido por Harald Zwart, com Jaden Smith, Jackie Chan e Taraji P. Henson


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2 Comentários. Deixe novo

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