Imortais

Tarsem Singh é um diretor indiano que ficou conhecido pelo seu viajante e “videoclípico” A Cela, um thriller policial que não saia de lugar nenhum e nem chegava onde quer que fosse, mas que ficou famoso por seu visual lisérgico e onírico, que, bem verdade, não servia para muita coisa dentro da trama, mas enganou muita gente. Por esse lado, o “épico mitológica” Imortais cai então como um luva para suas ambições.

O problema é que Singh, assim como fez em A Cela, demonstra presunção suficiente para achar que apenas essas imagens bacanas poderiam salvar um filme raso como um pires, que, bem verdade, ajudam a não deixar que toda experiência seja torturante, mas só encobertam um filme frágil e sem graça. Ainda mais quando o roteiro escrito por Charley e Vlas Parlapanides se importa tão pouco em fazer mais do que jogar a responsabilidade nas mãos do diretor.

Em um mar de péssimas motivações e uma trama que se arrasta mesmo sabendo da possibilidade de um final apoteótico, Imortais, pelo menos, tem personalidade, mesmo em todas suas falhas. Sem parecer querer muita coisa a não ser contar a história do jovem Theseus (Henry Canvill, vulgo o novo Superman) e, do mesmo jeito que em um epílogo seu filho a vê sendo contada por estátuas, Imortais só se move por essas cenas de ação estilosas, sem dar a mínima importância ao que vem entre elas.

Na história, Theseus é um cara qualquer que vive em uma vila qualquer da Grécia antiga, mas que, diante da morte da mãe nas mãos do maléfico Rei Hyperion (Mickey Rourke) jura então vingança contra o mesmo. Enquanto isso, lá de cima, no Olimpo, Zeus (Luke Evans) vem olhando com carinho para esse jovem (assim como o tem treinado usando sua forma terrena, John Hurt), já que sabe que ele é sua maior esperança para impedir que Hyperion consiga libertar os titãs e deflagrar uma nova guerra entre os Deuses.

O problema é que, de épico Imortais só tem a época e a direção de arte, no resto é apenas uma aventura corrida e pouco desenvolvida, que se resolve em nem meia dúzia de dias onde tudo acontece: vinganças, traições, amores e batalhas enormes. Quase como se todos lugares estivessem na mesma cidade. Seja a vila do protagonista, o Monte Vesúvio, um pequeno porto em um mar de óleo ou um farol no meio do deserto. Sem contar um mosteiro que passa a servir de base para o vilão, tudo coladinho, a horas de viagem.

Imortais então e dividido assim mesmo, de jeito desajeitado e pouco natural, onde cada um desses lugares ganha um par de sequências de ação e só, já que logo mais, convenientemente como o par de cavalos morrendo por não terem mais utilidade, estarão nesse outro cenário. A sorte disso é que Singh parece preocupado em preencher todo esse vazio narrativo com a ajuda da direção de arte de Tom Foldem (também de A Cela). Principalmente o trabalho do segundo.

imortais cenas do filme

Na falta do que contar, Foldem então se atem a enorme personalidade que cada “setor” de Imortais tem. Hyperion comanda um exército sádico, cheio de brutamontes sem rosto, sujos e maus (muito maus mesmo!), refletidos à essa imagem monstruosa de Rourke, como se o chão tremesse aos seus passos e suas ações. Do outro lado, ou melhor, acima de tudo isso, o Olimpo ganha essa cara de paraíso gay dourado, onde todos deuses parecem “go-go boys” de alguma rave chique, lustrosos e cheios de detalhes. E é desse distanciamento visual entre esses dois extremos que Imortais mais tem força e acaba pouco incomodando em âmbito geral, já que Singh parece saber usar o que tem em mãos.

Diante desses cenários enormes, Singh não se prende a pequenos movimentos de câmera e voa pelo ar (em alguns momenos repetitivos, é verdade) para mostrar todo resultado desse mundo construído à base de muita computação gráfica. E mesmo em planos interiores faz questão de abrir sua imagem (nesse caso, a direção de arte econômica e limpa também ajuda) e colocar seus personagens dentro da cena, e não o contrário. E ainda que Imortais seja “dos mesmo produtores de 300” (como o pôster faz questão de “gritar”) a ideia aqui acaba sendo bem diferente, o que dá vida (não sobrevida, como uma cópia canhestra) ao filme.

Imortais, por mais que não pareça, não é feito em cima de enormes batalhas em slow motion, sendo que tal recurso de velocidade fica quase que à disposição dos Deuses quando esses resolvem descer à Terra, “explodir” algumas cabeças e sair na porrada com alguns titãs. O resto do tempo, Singh se contenta em dar a seu Theseus alguns interessantes planos sem corte, nada de muito impressionante, mas bem dignos do visual que busca.

A grande verdade então é que Imortais é como uma história tirada da mitologia grega, daquelas que são contadas de vez em quando sem muito compromisso, que não se estende demais, envolve alguns Deuses, um vilão e um herói, no sentido grego da palavra, que passa por algumas provações (não deixa de ser interessante como o roteiro introduz o episódio original do Minotáuro e do labirinto dentro da trama) e no final está fadado a se sacrificar para continuar sua luta no Olimpo (é, isso foi um spoiller!!). Ainda que, quem fique dentro da sala de cinema no final da sessão acabe achando que não se fazem mais épicos mitológicos como antigamente… ou até façam (e ai o cinema irá dizer que não se fazem mais públicos como o de outros tempos).


Immortals (EUA, 2011), escrito por Charley e Vlas Parlapanides, dirigido por Tarsem Singh, com Tom Henry Cavill, Mickey Rourke, Stephen Dorff, Freida Pinto, Luke Evans e John Hurt


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6 Comentários. Deixe novo

  • Olá! é a velha história de sempre….ao invés de contarem uma história sobre a MITOLOGIA GREGA “eles” começam a AMERICANIZAR as “coisas” e fazem mais uma obra-prima da banalização dessa mitologia tão rica da GRÉCIA….infelizmente se baseiam em ir pra porrada final sem nenhum mínimo de respeito com o conteúdo….enfim um show de efeitos e lutas e conteúdo totalmente desmoralizado pelos roteiristas e diretor…me decepcionei com os IMORTAIS.

  • esse filme sim é porcaria… amanhecer mesmo sendo muito cristicados por todos é bem melhor…

  • Sergio Magnus
    19/02/2012 5:23

    Concordo com voces. O filme todo é muito fetichista, e pra completar aqueles titãs estavam mais para orcs e não para criaturas gigantescas (como o proprio nome indica), criaturas essas das quais cronos era uma, o Titã que devorou os deuses. Ridiculamente reduzido a uma criatura selvagem. Ridiculo.

  • Achei a critica correta, apenas apontaria como sugestão colocar ao final da critica que o filme é uma boa diversão para espectadores que se prendem mais aos efeitos visuais e a ação, isso evitaria comentários indignados de espectadores que gostaram do filme.
    Minha opinião em relação ao filme é (FRACO), o filme 300 é muito melhor, e Fúria de Titãs é pouco melhor.
    Aquilo era para ser o Minotauro da mitologia? PÉSSIMO, o filme tem DEUSES lutando como ninjas e me colocam aquilo como o MINOTAURO (Homem fantasiado com roupa de metais sadomasoquistas). ?????

  • Carlos McDougle Sarm
    30/01/2012 6:22

    Incrível como fazem defecações com a mitologia grega.
    Minotauro, um louco fantasiado.
    Hyperion, disfarçado de Rei que aliás é um Titã…
    E quem é quem ali dentro das armaduras?

    300 foi uma coisa sem graça e se repetiu nesse filme, no qual me fez cair bem feio do cavalo, já que esperei tanto.

    O único ponto positivo é a fotografia do filme!

    O resto… joga fora ou manda para mim, que eu reedito! xD

  • Lidiane Lins
    03/01/2012 15:52

    Bela porcaria, viu… devia ter ido ver os Muppets!

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