Homem Aranha: Longe de Casa | Grandes poderes e grandes responsabilidades


[dropcap]E[/dropcap]nquanto o primeiro Homem-Aranha se preocupava em entender o papel do “amigão da vizinhança”, agora, tendo que “trabalhar entre os grandões”, Homem-Aranha: Longe de Casa seria sobre Peter Parker (Tom Holland) entendendo que “com grandes poderes” acabam vindo as tais “grandes responsabilidades”.

Não, a frase do Tio Ben não é dita, mas mais do que nunca ela move o personagem, mesmo que isso acabe estragando suas férias na Europa. Mas o que chama mais a atenção de Longe de Casa é o quanto o filme não se importa em ser uma simpática comédia adolescente por quase metade do tempo.

Talvez essa vontade de se permitir ser leve e divertido venha da dupla de roteiristas, Chris McKenna e Erik Sommers, que, entre passagens na TV em American Dad e Community, assinaram o Homem-Formiga e a Vespa, Jumanji: Bem-Vindo à Selva e o incrível Lego Batman: O Filme. Portanto, é fácil prever o clima despojado e quase cínico de Longe de Casa.

O grande truque é, justamente, fazer o espectador se acostumar com isso, principalmente em termos de ação. Não existe cena de ação para abrir o filme com o Homem-Aranha pulando por aí, apenas uma pequena cena apresentando Mysterio (Jake Gilehaall) e, o mais importante, passando a acompanhar Peter Parker em um misto de comédia romântica adolescente e drama de passagem para encarar a perda de Tony Stark.

A paixão de Parker por MJ (Zendaya) é simpática e inocente, Ned Leeds (Jacob Batalon) continua sendo um alívio cômico sutil e até um pequeno relacionamento entre Happy Hogan (Jon Favreau) e a Tia Mat (Marisa Tomei) constroem esse cenário onde o Homem-Aranha pode até ser esquecido.

Mas ele não é. Quando entra em cena, vem com uma história interessante e bem estruturada acompanhando esse “novo herói”, Mysterio, aparentemente chegado de uma outra dimensão. O “herói” enfrenta então quatro monstros elementais que destruíram sua Terra, mas que agora ele promete impedir de fazer o mesmo com a boa e velha Terra do Universo 616.

Para quem é iniciado no universo do Homem-Aranha sabe que as aspas têm um significado óbvio, portanto, falar sobre Longe de Casa sem esbarrar em spoilers pode ser bem difícil. Então, sintam-se avisados.

A ideia de um herói que se torna um vilão nem é tão criativa, só no MCU, Capitão América: Soldado Invernal” e Guardiões da Galáxia Vol. 2 já se debruçaram sobre essa premissa. A diferença aqui é conseguir fazer isso se enquadrar perfeitamente bem dentro do exato momento desse universo da Marvel. Melhor ainda, a grande motivação de Mysterio reside no MCU e, realmente, fecha a terceira fase da franquia.

Gylenhaal não só cria um vilão com motivações interessantes (coisa que a Marvel vem se especializando!), como o faz ser um exemplo charmoso e poderoso que, aos poucos, vai perdendo essa sanidade e se deixando ser um vilão maluco e estereotipado para se encaixar dentro desse mundo do Homem-Aranha, que praticamente não permite a existência de inimigos que não tenham uma dose saudável e espalhafatosa de insanidade.

E é essa explosão de sentidos que faz, justamente, extremamente bem para o diretor Jon Watts, já que acaba com muito mais material em mãos para suas cenas de ação, mesmo sendo poucas, demonstrando claramente o quanto seu trabalho evoluiu. Sua câmera acompanha melhor o Homem-Aranha, assim como mergulha de cabeça em uma das sequências mais bacanas que o MCU já produziu, e que vai fazer muitos fãs do personagem nas HQs delirar, a alucinante luta do Homem-Aranha com Mysterio, onde tudo é fantasia e a realidade é apenas uma consequência que surge para mostrar o quanto o trabalho do amigão da vizinhança pode ser dolorido.

O visual bacana e ágil então segura tanto o público que se permitiu a diversão dessa comédia adolescente com Peter e seus amigos, quanto quem esperou com apreensão pela ação. E talvez Homem-Aranha: Longe de Casa seja exatamente isso, um filme leve que sabe conviver muito bem com suas duas personalidades. Algo que é mais que suficiente para um personagem que nasceu, justamente, dessa dicotomia entre o jovem e o super-herói.

Do mesmo jeito que, bem diferentemente do primeiro filme, acompanha ainda mais tanto um jovem quanto um super-herói que precisam entender que seus papeis não podem mais ser simplesmente virar as costas para nenhum dos dois lados dessa moeda. E se não precisam do Tio Bem para contá-los disso, as iniciais na mala que Peter usa para ir para a Europa deixa bem claro que ele nunca esqueceu dessas palavras e agora está pronto para atendê-las.


“Spider-Man: Far From Home” (EUA, 2019), escrito por Chris Mckenna e Erik Sommers, dirigido por Jon Watts, com Tom Holland, Samuel L. Jackson, Jake Gyllenhall, Marisa Tomei, Jon Favreau, Sendaya, Jacob Bataon, Martin Starr e J.B. Smoove.


Trailer – Homem-Aranha: Longe de Casa

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